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Céu inspirador em SP e os hinos que embalam o horizonte da esperança

Combate Rock

14/04/2020 23h25

Marcelo Moreira

Entardecer na zona sul de São Paulo (FOTO: MARI NEAIME)

Houve um tempo em que a brisa suave dos vales reorganizavam vidas e pensamentos e mudavam existências. Ali em cima do morro da fonte, no bairro do Machadinho, na aprazível e apaziguadora Santo Antonio do Pinhal, do ladinho de Campos do Jordão, a vida caminhava simples e delicada, como se acompanhasse uma boa trilha de blues do Mississippi ou do Tennessee.

Naquele lugar eivado de sombras e sons silvestres, o som lamentoso do dobro (o famoso violão de lata do mestre Ricardo Vignini) com slide (aquele tubinho de vidro ou de aço que desliza pelo braço) e da gaita de boca (ou diatônica) percorria sem destino todas as frestas e todos os caminhos sem a menor obstrução.

Sem pressa, a vida deslizava tranquila ao som de Almir Sater, Yamandú Costa, Blues Etílicos, Son House, Little Walter, James Cotton, Robert Nighthawk, Dexter Gordon, Jeff Beck, Gary Moore e mais uma galera bastante selecionada debaixo de um poente mágico e inspirador.

As belas imagens do entardecer de São Paulo esvaziada pelo isolamento social foram especiais não só pela poesia emoldurando tempos de tragédia e dor.

Elas relembraram tempos idílicos em que o blues tomava conta dos vales instigantes e revigorantes das montanhas extraordinárias do Vale do Paraíba, mas sobretudo apontaram para um futuro que muitos parecem querer ignorar ou não enxergar.

Nas belas imagens captadas por dois fotógrafos paulistanos talentosos e sensíveis, o entardecer de 14 de abril na metrópole castigada pelo vírus e obrigada a confinar seus filhos deu um alento em um tempo em que o pessimismo é a palavra de ordem e falta de perspectiva faz aflorar alguns do piores sentimentos – egoísmo, egocentrismo, falta de solidariedade, desumanidade, hedonismo, desesperança…

Um ponto de vista paulistano mais amplo (FOTO: CHRISTIAN 'CHIBBAS' NASTARI)

O céu alaranjado e poético obrigou boa parte dos paulistanos a olhar para cima e para para refletir sobre os caminhos além, sobre os próximos passos. E Mari Neaime e Christian "Chibbas" Nastari souberam com muita sensibilidade captar e sintetizar uma ideia, digamos assim, que valoriza a civilidade e a compreensão de um momento capital em nossa história.

Em pleno combate à pandemia ao covid-19-coronavírus, Mari e Chibbas encontraram poesia e esperança em um simples entardecer, mesmo com as pavorosas notícias de aumento de mortes, pela partida de Moraes Moreira e tantos outros músicos de jazz e rock que sucumbiram ao vírus e a outros tipos de moléstias em tempos tão difíceis.

O céu laranja inspira uma miríade de sentimentos positivos, mas principalmente a esperança de que tudo isso vai passar e de que a vida vau mudar, e que fic ará melhor e mais sóbria, reflexiva, otimista e esperançosa.

E não há como não lembrar da música celta de origem irlandesa diante de tal cenário inspirador, um som místico e misterioso, mas capaz de mover montanhas e de resgatar algo que é sagrado e estimulante – a vontade de acordar no dia seguinte e seguir em frente, seja qual for o nível de confinamento e de dificuldade.

Jeff Beck e Gary Moore, um inglês e um irlandês, souberam como ninguém transbordar o sentimento de paz, esperança e de orgulho em canções instrumentais que celebram a beleza da vida.

"Declan" e "Dunluce" se tornaram trilhas vitais das minhas andanças pelos vales de Santo Antonio do Pinhal, ao lado dos mais estimulantes blues que existem. Cada nota carrega toneladas de sentimento e esperança, renovadas a cada audição e a cada visão celestial de finais de tarde como esse que tivemos privilégio de presenciar. Vai passar e vai melhorar.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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