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Van Morrison faz 75 anos e parte de sua obra é reeditada em 2020

Combate Rock

16/03/2020 06h57

Marcelo Moreira

Van Morrison (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Muitas vezes a história se repete como tragédia, farsa e também como burrice. "O que é que pode vir de Liverpool que seja bom?", zombavam os executivos de gravadoras de Londres em 1962, quando souberam do sucesso local de um grupo chamado The Beatles.

Os que recusaram um contrato com a banda ficaram desesperados depois do sucesso estrondoso do quarteto e passaram a contratar qualquer um que batesse à porta – pelo menos acertaram uma única vez depois da tragédia ao se agarrarem aos Rolling Stones.

E não é que anos depois cometeriam o mesmo erro quando alguém indicou o Them? "O que é que pode vir de bom da Irlanda?", vomitou algum idiota qualquer.

Nada não, só um dos maiores artistas de nosso tempo. Van Morrison, nascido George Ivan Morrison em Belfast, na Irlanda Norte, vai completar 75 anos em 2020 e ganhou de presente a reedição quase completa de sua obra – são quase 30 álbuns percorrendo dos anos 70 a 2015.

Na mania de comparações para buscar referências, o Them virou os Rolling Stones de Belfast por conta do som cru, meio sujo e direto, com os vocais agressivos e rasgados de seu cantor.

Van Morrison já despejava nas gravações e nos palcos um vasto arsenal herdado da família musical e de um mergulho profundo no jazz e no blues na imensa coleção de discos do pai.

Ao contrário de Mick Jagger, Morrison preferia as interpretações mais centradas e intensas. Gostava de dizer que era um cantor, um artista, e não um dançarino de entretenimento, deixando claro que as comparações o incomodavam.

O megahit "Gloria", que ganhou inúmeras versões em quase 60 anos de execuções, transformou o Them em uma atração nacional e internacional, mas não era o suficiente para aplacar as ambições artísticas do versátil cantor.

Mais próximo de Bob Dylan do que das grandes bandas inglesas, logo percebeu as limitações artísticas e mercadológicas do Them, que não durou muito.

Como era comum na época, os efervescentes anos 60, o integrante mais proeminente de bandas de sucesso efêmeras engatava em breve uma carreira solo e Morrison não perdeu tempo. Só que, como diferencial, já sabia o que queria desde sempre e virou um bardo cult transitando entre o folk britânico, o jazz, o blues e o soul.

Seu principal cartão de visitas, "Astral Weeks", de 1968, confirmou todas as expectativas a respeito do potencial do cantor arrogante, difícil, genioso e genial. O álbum até hoje frequenta as listas de melhores de todos os tempos em diversos gêneros.

Cultuado e celebrado nos anos 70, enfrentou dificuldades na década seguinte, assim como muitos contemporâneos. Continuou lançando discos bons e alguns razoáveis, mas a popularidade caiu. Restou embarcar de vez nos circuitos alternativos de jazz e blues dos dois lados do Atlântico, em uma reinvenção que acabou se tornando "case" de sucesso segundo algumas revistas culturais.

Van Morrison é um artista estupendo, uma das vozes mais impactantes da música pop britânica. A qualidade e a variedade de sua obra impressionam por conta da pouca disposição em fazer concessões e pelo absoluto controle artístico que sempre deteve.

Um exemplo é seu mais recente trabalho, de 2018, "You're Driving Me Crzy", uma colaboração com o Joey De Francesco Quartet. Só mesmo uma lenda do seu quilate para se reunir a um grupo de grande versatilidade para gravar algumas músicas obscuras do jazz e do blues considerados "clássicos cult" do cancioneiro norte-americano.

O primeiro pacote de relançamentos optou por variar em termos de representatividade dentro dos 53 anos de carreira solo do cantor. "Blowin' Your Mind", de 1967, é a sua estreia ainda tateando no blues, no soul e no folk antes de mergulhar fundo na beleza simples e etérea de "Astral Weeks", que virá em reedição em breve.

Dos anos 70 e 80 não há um grande destaque, ficando para "Days Lke This", "Down the Road" e "Born to Sing: No Plan B" os destaques desta primeira leva. Veja a lista do pacote atual:

1967 Blowin' Your Mind! [2020]
1973 Hard Nose the Highway [2020]
1974 ..It's Too Late to Stop Now…Volume I [2020]
1979 Into The Music [2020]
1982 Beautiful Vision [2020]
1983 Inarticulate Speech Of The Heart [2020]
1991 Hymns to the Silence [2020]
1995 Days Like This [2020]
2000 The Skiffle Sessions: Live In Belfast [2020]
2002 Down the Road [2020]
2009 Astral Weeks: Live at the Hollywood Bowl [2020]
2012 Born to Sing: No Plan B [2020]

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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