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Volta do Genesis é uma notícia boa, mas que vem muito tarde

Combate Rock

06/03/2020 18h56

Marcelo Moreira

Genesis na formação quer atua desde 1977: Tony Banks (esq.), Phil Collins (cenro) e Mike Rutherford (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O filme é o mesmo de sempre. Amigos ou ex-amigos veteranos, entediados e ansiosos por engordar a conta bancária, anunciam uma "reunião" para relembrar os velhos tempos e empilhar uma série de hits envelhecidos e ressecados para fãs saudosistas e não muito exigentes.

Talvez não seja o caso do Genesis, grande banda inglesa de rock progressivo que assumiu uma vertente mais pop a partir de 1975, mas elevando o nível do rock comercial a níveis elevados. Entretanto, o roteiro é muito parecido com o que volta e meia observamos no mundo do pop.

Não foi surpresa o anúncio da reunião do trio que levou a banda nas costas depois das saídas do vocalista Peter Gabriel (em 1975) e do guitarrista Steve Hackett (em 1977). Há semanas eles circulam por Nova York e foram vistos juntos em um jogo de basquete da NBA.

Por enquanto, estão agendadas dez datas na Grã-Bretanha neste ano, sendo o guitarrista Daryl Stuermer, amigo de longa data e músico de apoio da banda e da carreira solo de Collins, e o baterista Nic Collins (filho de Phil) completarão a formação.

A pergunta que muitos aficionados da banda faz com frequência é: por que só agora? É apenas a segunda reunião em quase 30 anos, e 13 após a bem sucedida turnê de 2007, que prometia ser o encerramento apoteótico d abanda, embora nenhum anúncio neste sentido tenha sido feito até hoje.

A sensação que fica é a de que perdeu-se muito tempo e esperou-se até que seus integrantes remanescentes estivesse á beira dos 70 anos e padecendo de problemas de saúde para finalmente se juntarem de novo.

O baterista e vocalista Phil Collins há mais de 20 anos sofre com problemas na coluna, o que o obrigou a diminuir as turnês e a abandonar quase que definitivamente a bateria. Em sua última turnê mundial solo, há poucos anos (que passou pelo Brasil), Collins cantou como nunca, mas passou longe da bateria e ficou sentado em algumas partes.

Mike Rutherford (guiatrra e baixo) curtiu uma agradável semiaposentadoria, embora mantivesse negócios na música e se juntasse, de vez em quando, com os amigo de sua banda de apoio, The Mechanics. E Tony Banks (teclados) vez ou outra aparecia nos discos de amigos.

O fato é que as coisas pareciam não andar bem mesmo quando tudo parecia estar ótimo lá nos anos 90, com a banda vendendo como nunca e fazendo enorme sucesso como sempre.

Os hiatos cada vez maiores para que Collins desse vazão a sua carreira solo colocou o grupo em um impasse, culminando com o anúncio de que o vocalista estava deixando o grupo.

Banks e Rutherford insistiram e chamaram o excepcional músico Ray Wilson, um bardo folk pop, para substituir o "desertor" e gravar o inexpressivo álbum "Calling All Stations". Não deu certo, provocando o naufrágio daquele "projeto".

Conversas para o retorno de Collins surtiram pouco efeito, mas os dois souberam ser pacientes enquanto tocavam suas carreiras solos totalmente underground, enquanto o baterista/vocalista voava em meio aos seus crônicos problema de saúde.

A reunião de 2007 foi apenas isso, uma reunião sem a possibilidade de material inédito, já que Phil Collins já vislumbrava a aposentadoria por conta dos problemas que enfrentava – e depois de muita turbulência na vida pessoal por anos. Foi legal, bacana e o Genesis se mostrou afiado, mas deixou muita gente frustrada. Uma reunião apenas de 15 em 15 anos? Vão esperar completar 70 anos para se juntar de novo?

Foi quase isso. Merecíamos ter o Genesis na ativa de forma mais incisiva após a última reunião. Não que a esta seja um desastre – certamente não será, mas poderia ser muito mais proveitosa para todo mundo

O paralelo mais próximo em relação a essa trajetória é a de The Who, que ameaçou algumas vezes parar de vez desde 1989, quando encerrou um hiato de sete anos.

Depois de hesitações, Roger Daltrey e Pete Townshend engataram ótima sequência de turnês. Nem mesmo a morte do baixista John Entwistle, na véspera da turnê de 2002, interrompeu o processo. No entanto, trabalhos autorais inéditos mesmo, somente dois CDs em 37 anos.

Não se trata de "agourar" a nova empreitada do Genesis. Lamentamos apenas que tenham demorado demais para tomar a decisão, quando poderíamos ter desfrutado de um grupo muito importante do rock por muito mais vezes do que uma única turnê em mais de 25 anos. Fica parecendo aquela notícia muito boa de receber, só que tarde demais.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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