Depois de perseguir o rock, Bolsonaro sobe o tom e afronta o Congresso
Marcelo Moreira
A segunda-feira de carnaval terminou com a notícia de que o Ministério da Justiça, capitaneado por Sergio Moro, um ser altamente questionável, autorizando a investigação e convocação dos organizadores do Facada Fest, de Belém (PA), um evento punk/ hardcore, por causa de um cartaz que ridicularizava Jair Bolsonaro – um caso clássico de perseguição político-ideológica.
A terça-feira de carnaval começa com os Titãs desautorizado a extrema-direita burra e chucra a utilizar a música "O Pulso" em manifestações contra Congresso Nacional e a favor de Bolsonaro e do energúmeno Olavo de Carvalho, que se diz filósofo.
A terça-feira termina com o presidente da República, fascista, repulsivo e repugnante, repassado pelo celular, via WhatsApp, vídeos de convocação a uma manifestação contra o Congresso Nacional no dia 15 de março. Entre as pessoas que convocam a manifestação estão imbecis que bradam pelo fechamento do Legislativo.
Poderiam apenas ser fatos engraçados, fake news, típicas de um período de festa, de brincadeiras e de folia. Mandando às favas a liturgia e a importância do cargo, o presidente repugnante e autoritário se esbaldou na folia de afrontar as instituições, a decência e o respeito.idez,
Não é de se se imaginar que o ocupante do Planalto, incompetente e incapaz, não tenha percebido o tamanho da bobagem que fez.
Desinformado, iletrado e adorando chafurdar em uma piscina de estupidez, acha que apenas fez o que todo mundo faz na rede social – compartilhou um vídeo engraçadinho ou, pior, um vídeo onde "apenas" desancava alguns desafetos.
As atitudes de Bolsonaro beiram a delinquência institucional faz tempo, desde a campanha eleitoral de 2018. Os frequentes ataques a adversários políticos e jornalistas não só demonstram despreparo para o cargo, mas uma profunda deformação de caráter, que moralmente o impediria de ocupar tal cargo. Seu comportamento é incompatível com o exercício da Presidência da República.
Uma questão importante que a oposição e mesmo os políticos de centro debatem, sem chegar a conclusões, é como frear a impulsividade do presidente e suas políticas destrutivas.
Desde que ele assumiu a sociedade civil apenas reage aos seus rompantes. É necessário algum tipo de ação para antecipar e neutralizar as bobagens presidenciais, que estão colocando em risco a democracia e a liberdade de expressão.
É cedo para especular se isso é o começo de um movimento para um golpe de Estado ou um autogolpe, mas não é tarde para falar abertamente sobre impeachment de um celerado incapaz de governar e incapaz de não atacar adversários e críticos.
É muito difícil resgatar a ideia de impeachment após uma eleição democrática que transcorreu sem percalços (exceto pela eleição de um ser repugnante) e apenas três anos e meio depois do impedimento absurdo, injusto, imoral e criminoso da presidente Dilma Rousseff (PT). Seria o terceiro em menos de 30 anos para uma democracia frágil e indolente.
Assim como a guerra, o impeachment deveria ser a solução em último caso, em situações-limite de total perda de confiança e sustentação política. Foi o caso de Fernando Collor em 1992, mas não o de Dilma, apeada do poder por uma quadrilha de revanchistas e irresponsáveis que pavimentaram a chegada ao poder da excrescência chamada Bolsonaro.
A patifaria do compartilhamento do vídeo conclamando ao ato de 15 de março contra o Congresso é certamente a atitude mais grave cometida pelo presidente contra a democracia. Haverá reação, e muito forte, do Congresso e da sociedade, mas também haverá manifestações de apoio pela manada de gente burra que apoia o presidente e ideias fascistas.
Como escreveu certa vez o historiador britânico Eric Hobsbawn, vivemos tempos estranhos, mas també interessantes.
Quando se imaginava que a democracia estaria consolidada, ou no final do caminho para a consolidação no Brasil, eis que a sociedade engata a marcha a ré rumo ao século XIX ou mesmo a Idade Média.
O brasileiro é um povo sofrido, mas muito iludido. Também é pouco afeito na busca da informação correta ou mesmo no esforço de raciocinar e pensar seriamente sobre o seu destino.
As eleições municipais, com a eleição de vereadores das piores estirpes, são o sintoma mais claro e a origem dos problemas legislativos que afetam a nossa sociedade, pouco disposta a uma reforma política que minimize o clientelismo, o fisiologismo e a corrupção.
Vota-se no vereador amigo que pode lhe proporcionar vantagens pessoais diretas ou no amigo que pode arrumar um cargo ou uma sinecura em algum lugar.
A mesma lógica se estende a todos os cargos, principalmente quando surge um tonto que adota a alcunha de "mito/messias" prometendo o melhor dos mundos com medidas retrógradas e políticas destrutiva de direitos civis e humanos, tudo sob o manto suspeito do relacionamento íntimo com milicianos/criminosos e militares ultraconservadores de viés fascista.
Resumindo, o eleitor/povo não teria, em tese, o direito de reclamar e de se surpreender com esse clima político tenso de autoritarismo pairando no ar e de retrocesso.
No entanto, é a democracia que está em risco, mesmo que corramos o risco de ver no lugar de Bolsonaro o seu vice-presidente, um general que não engana ninguém a respeito de sua origem e de seus pensamentos.
Os desfiles de escolas de samba em São Paulo e no Rio de Janeiro, além dos blocos carnavalescos por todo o país, foram muito enfáticos nas críticas políticas e sociais tendo como principalmente o presidente e a corja de bajuladores e acólitos que o cerca.
Os recados foram muito claros evidenciando o repúdio ao comportamento, as ideias e aos ataques do presidente. O tamanho e a contundência da resposta do Congresso Nacional diante da patifaria da disseminação dos vídeos chamando para as manifestações vão determinar os rumos políticos do país nos próximos dias. Se o impeachment era uma possibilidade, agora passa a ser uma realidade.
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