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Uma singela homenagem ao mestre Zé do Caixão

Combate Rock

23/02/2020 12h00

Isis Correia – publicado originalmente nas redes sociais da Agência 1a1

Zé do Caixão (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Essa é a praga do dia. Do ano. Quando a vida de alguém querido se encerra, encerra um pouco da nossa junto e esse é o caso. O encerramento de Mojica é um incêndio completo numa videoteca.

Quem se deu um pouco ao trabalho de ser meu amigo, sabe o quanto eu amo o Zé. Acompanho há anos, tenho muitas histórias engraçadas e carinhosas para contar. A força que ele exerce na minha vida é tanta que meus amigos acabam de trocar pela foto dele o avatar do nosso grupo no zap (que aliás, era o Lula, de birra e pirraça). Eu achei isso tão bonito e delicado.

Quantas vezes a gente não repetiu às gargalhadas o discurso que o Zé fez no show do nosso Sepultura numa quase vida passada já, em 1998, acho: "a banda que atravessou frontêra, mare! … inerjiaaaiaiai" – sempre naquele português trôpego. Dois bastiões da cultura brasileira, ali, juntos. Salve, salve!

Brunão foi figurante e está nos créditos do último filme do mestre, Encarnação do Demônio (2008), onde Zé finalmente fecha sua saga e "encontra a mulher perfeita para gerar o filho perfeito". Lembro da nossa turma em peso no cinema só pra ver essa parte onde nosso amigo surge. E fomos ver várias vezes aliás, se não me engano, houve um dia que vimos duas sessões seguidas. "Olha lá, o Bruno"!

Para meu outro amigão, Diego, costurei um boneco do Zé com o maior carinho, pois ele curte tanto quanto eu curtir o Zé. Teve pinga do Zé no aniversário mais recente também. E nas sextas-feiras santa continuaremos dizendo: "hoje eu como carne, nem que for de gente!".

Num dia de Virada Cultural em São Paulo, fomos todos a uma sessão dupla de 'À Meia Noite Levarei Sua Alma e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver', lá pelas tantas do relógio. Depois de sair rindo pela rua, afinal o terror praticado naquela época tem esse efeito também, tem muito de pueril naquele cinema de guerrilha, demos de cara, à meia noite, no Anhangabaú, com um gato preto de olho arregalado! Como que o bichano foi parar ali no meio da multidão, do nada? Ai, deus, passamos a levar o Zé bem mais a sério! (rs)

Noutra vez fomos Diego e eu no CCBB ver 'Quando os Deuses Adormecem' (1972) numa mostra sobre o Finis Hominis, personagem menos conhecido do Mojica, um alter ego do Zé, por assim dizer. O narrador bem que avisa para os fracotes saírem da sala em certo momento. A gente ficou e se fodeu muito vendo galinhas de verdade serem destroçadas.

E, quando eu nem conhecia ainda minha turma de amigos, trombei o Zé como palestrante num seminário sobre Administração na faculdade e demorei 3 dias para entender que lá ele tinha dito que um herói que o inspirou foi o "Flas Gor" (Flash Gordon). O filho do Zé é professor universitário e convidou o pai para umas palavras sobre sucesso e criatividade – inegável.

Aqueles jovens na plateia nem sabiam bem quem era o Zé. Nem eu. Mas eu fiquei até o fim e dada a eterna peleja minha com deus, naquele dia o sacripantas tava de bom humor e quis me provar sua existência: me deu de presente um Zé sozinho no corredor deserto do lugar para uma conversa de horas, como velhos amigos, neta e avô. Mas que diabo, eu só tinha 17 ou 18 anos. Eu sabia com quem eu estava falando, eu só não sabia com quem eu estava conversando.

Pra sempre Zé. Pra sempre aqueles que gostam de mim, em mim se lembrem também dele.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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