O Jethro Tull, como o conhecemos, não existe mais
Marcelo Moreira
O Jethro Tull não existe mais. Não vamos nos enganar com as insistentes notícias de que a banda virá ao Brasil junho, assim como outra encarnação estará por aqui antes.
De forma bem oportunista, o que não é ilegal, produtores de shows, com o aval do dono da banda/marca, Ian Anderson, estão estampando em todos os lugares, letras garrafais, que o grupo fará shows pelo mundo em 2020, inclusive no Brasil.
Anderson, que é flautista, violinista e vocalista, está com 71 anos de idade e é um competente e próspero empresário, atuando em vários ramos, mas o principal é a criação de salmão na Escócia, sendo um dos mais respeitados do mundo nesta área.
Criou o Jethro Tull com amigos por volta de 1968, mas pouco a pouco foi se livrando deles até conseguir o controle total do grupo.
Em 2011, aparentemente farto do mundo do entretenimento, decidiu encerrar as atividades do grupo, mas continuou fazendo turnês esparsas, primeiro em carreira solo, e depois sob o nome Jethro Tull's Ian Anderson com músicos esporádicos.
Dessa forma, sem o fiel escudeiro, o guitarrista Martin Barre, chegou a tocar no Brasil anos depois. Lançou um disco ao vivo, gravado na Islândia (só Anderson na capa, e sob o nome Jethro Tull's Ian Anderson), e cometeu o supremo sacrilégio de lançar uma segunda parte do clássico "Thick as a Brick", álbum da banda de 1972. Tudo isso com o a alcunha de Jethro Tull's Ian Anderson, uma muleta que muita gente no rock já usou – John Key's Steppenwolf, Geoff Tate's Queensryche e muito mais gente.
Portanto, esqueçamos o fato de que ainda existe o Jethro Tull como nos costumamos a ver e a escutar antes de 2011. Anderson cerca-se de músicos contratados e coloca o "complemento" Jethro Tull para facilitar a venda de ingressos.
Claro, eu sei que tal coisa é bastante comum no mundo do rock, especialmente a respeito de bandas veteranas ou artistas antigos, meio esquecidos, que submergem do limbo e tentam fazer alguma grana.
Nada contra e não é ilegal, mas incomoda quando vemos algumas coisas como Creedence Clearwater Revisited ou Dire Straits Legacy, meras bandas cover com a presença de apenas um único mebro original ou da formação clássica.
Seria bem mais honesto como fazem músicos como Peter Gabriel, Roger Waters, David Gilmour, Phil Collins e muitos outros com carreira solo e que tocam canções de suas antigas bandas.
Não é o caso desse Jethro Tull que virá ao Brasil, como anunciam os cartazes. O líder, mentor e principal músico estará à frente, mas de um mero arremedo de banda que leva o nome de um dos mais importantes grupos da Inglaterra e do rock progressivo. Até mesmo o cartaz da turnê brasileira é ridículo, com letras peqqueninas, no alto, com a inscrição "Ian Anderson Presents". Um vexame.

Martin Barre (esq.) e Barriemore Barlow, ex-integrantes do Jethro Tull (FOTO: MONTAGEM COM FOTOS DE DIVULGAÇÃO)
Para complicar ainda mais, promotores que nada têm a ver com a vinda do Jethro Tull's Ian Anderson estão programando para março a vinda ao Brasil de uma espécie de "tributo" ao grupo inglês com a presença de dois ex-integrantes da formação clássica.
O excelente guitarrista Martin Barre estará acompanhado do baterista Barriemore Barlow e outros músicos para "abrilhantar" esse tributo, que muita gente apressadamente (ou mesmo de má fé) também está chamando de show do Jethro Tull.
Então é isso? Teremos duas encarnações do Jethro Tull tocando no Brasil no espaço de três meses?
É claro que não. Nenhuma das duas pode ser chamada de Jethro Tull, pelo menos não como conhecemos a banda, seja nos anos 70, seja nas constantes vindas ao Brasil a partir dos anos 90.
O que não significa que sejam engodos. Jethro Tull's Ian Anderson é um ótimo programa, com seu líder tocando algunns dos clássicos que o consagraram. O tal tributo vale por conta de Barre, um instrumentista extraordinário.
Serão programas bem legais, mas sejamos honestos conosco: não é Jethro Tull, nenhum dos dois. Quem somos nós para dizer a Ian Anderson como ele deve se apresentar por aí, e com que nome? É problema dele.
Da mesma forma que ele tem esse direito, o de usar o nome Jethro tull como quiser, temos o direito de criticar essa iniciativa. Se antes ele ainda disfarçava usando Jethro Tull's Ian Anderson, agora parece ter perdido o pudor de ter "ressuscitado" a banda sem aviso prévio.
Fará alguma diferença? Provavelmente não para a maioria, mais interessada em ver Anderson do que propriamente a banda. Mas certamente tem gente que se importa com isso.
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