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Há 35 anos, o Rock in Rio mudava as nossas vidas

Combate Rock

13/01/2020 06h44

Marcelo Moreira

Freddy Mercury reverencia o público gigantesco no show do Queen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Havia aqueles que não se consavam de bradar que tinham visto o Queen no Morumbi, ou no Maracanã, em 1981. A disputa emendava com os shos do Kiss nos mesmos lugares, dois anos depois – e tinha os felizardos que falavam maravilhas de ter visto Van Halen em São Paulo, em 1983.

Os tiozões contavam vantagem de terem visto Alice Cooper no Anhembi, em 1974. Mas ninguém estava preparado para o Rock in Rio. Em nenhum aspecto.

O anúncio do megafestival foi visto com desconfiança, mas gerou muita ansiedade e expectativa. Finalmente, alguns dos maiores nomes do rock tocariam, ao mesmo tempo, no Brasil. Seria histórico, todos sabiam, mas será que tínhamos npção do quanto seria histórico?

Trinta e cinco anos atrás, o Brasil finalmente entraria para o seleto time dos países civilizados, ainda que na periferia e pelas bordas.

Desde a década anterior o país ensaiava passos rumo ao mundo dos "ricos", mas as seguidas crises econômicas não ajudavam, além da persistente e decrépita ditadura militar encalacrando o desenvolvimento ccom sua incompetência.

Ainda assim, com grilhões nas pernas, o país avançava um pouquinho. Alguns megashows, como os citados, mostraram que o local permanecia inóspito, mas que tinha chances de dar lucros e resultados.

E então um empresário maluco e sonhador do Rio de Janeiro resolveu escancarar as portas da capital mundial do samba para cantores comedores de morecegos, vocalistas "divas" empodeiradas, bandas "satânicas" e cantores de cabaré renascidos e endiabrados.

O Rock in Rio I, em 1985, mudou tudo. Eis o seu legado. Ninguém, nem mesmo o seu criados, Roberto Medina, poderia medir à época o quanto foi histórico o evento. Sem ele, o rock jamais teria descoberto a América Latina. E jamais teria empreendido algumas das passagens mais alucinantes e edificantes do gênero musical.

A confluência de fatores positivos dá a impressão de que tudo já estava escrito: fim da ditadura brasileira, explosão  do rock nacional, renascimento de astros da MPB, retomada do cinema e impulsionamento da criatividade na televisãoo e uma necessidade incrível de recuperaar o tempo perdido.

Muita gente conta hoje que a ideia de ir à Cidade do Rock em 1985 tinha ares apocalípticos: "vamos antes que acabe; vamos porque poderá ser a nossa única oportunidade, pois jamais ocorrerá novamente; nunca mais haverá Rock in Rio neste país de botocudos".

O sentimento de urgência tinha muito a ver com a marginalidade dos roqueiros durante muito tempo – seja a do país como um todo, seja a da tribo específica. Parecia inacreditável que alguém tinha acreditado que era ossível investir no gênero e que houvesse consumidores daquele genero em grande escala.

O que hoje ainda é criticado no festival – pouco rock e muita atração estranha – comçou a ganhar eco naquela época, mas foi o que garantiu, em parte , o sucesso financeiro e de público.

Tinha AC/DC e Iron Maiden, mas tambem tinha Erasco Carlos e Elba Ramalho; tinha Queen e Whitesnake, mas também tinha James Taylor, Gilberto Gil e Ivan Lins; tinha Yes e Ozzy Osbourne, mas também Alceu Valença e Moraes Moreira. Uma diversificação e variedade de turmas e tribos que acabaria servindo de modelo para muitos outros eventos anos depois.

O Rock in Rio I mudou tudo. Mudou a nossa perceção enquanto povo, enquanto país, enquanto roqueiros.

Continuávamos uma terra exótica para os astros internacionais, mas estes perceberam que exóticos mesmos eram o ardor e a veneração que tpinhamos a oferecer.

Exótica e diferente era a paixão que brasileiros – e em muito pouco tempo chilenos e argentinos tambm demonstrariam – abraçavam o rock internacional. Era a ânia de recuperar o tal "tempo perdido", de fazer o Woodstock e o California Jam que nunca tivemos.

O Rock in Rio I definiu parâmetros e influenciou diretamente a maniera de como encarávamos o show business e o entretenimento como difusor e disseminador de cultura. Inaugurou uma nova era e indicou caminhos. Mostrou o futuro.

Hoje o festival, no Brasil, se tornou uma espéci de Copa do Mundo, evento do qual todos querem participar. As gerações mais novas estão acostumadas a ver Iron Maide, Metallica e Guns N'Roses no festival ou fora dele no Brasil, mas não têm ideia da importância que o evento teve ao atrair pela primeira vez nomes do primeiro escalão. Não têm noção do quanto foi estratégico, para promotores de shows e artistas, desbravarem um novo e rentável mercado.

Sem o Rock in Rio de 1985 não teríamos Iron Maiden tocando pela 20ª ou 30ª vez por aqui; não teriamos U2 e Rolling Stones, que viram tardiamente ao Brasil, mas vieram e voltam com certa frequência. E o que dizer de Madonna, Michael Jackson e tantos outros?

Há 35 anos o Rock in Rio forçava a barra, meio na louca, com total inexperência, para fazer o entretenimento brasileiro se tornar um negócio profissional, lucrativo e atraente.

Ao mesmo tempo, forçava o país a alcançar o primeiro time de países que oferecem condições para bons espetáculos.

Foram milhões de espectadores naquela edição de duas semanas que mudaram a cara da sociedade brasileira, de nossa vida cotidiana. Foi um evento que nos fez enxergar mitas coisas de forma diferente a partir de então. Hoje é simplesmente impossível tentar medir a força e a importância do Rock in Rio para o Brasil.

11 de janeiro de 1985

300 mil pessoas (estimativa)

  • Queen
  • Iron Maiden
  • Whitesnake
  • Baby Consuelo e Pepeu Gomes
  • Erasmo Carlos
  • Ney Matogrosso
12 de janeiro de 1985

250 mil pessoas

  • George Benson
  • James Taylor
  • Al Jarreau
  • Gilberto Gil
  • Elba Ramalho
  • Ivan Lins
13 de janeiro de 1985

110 mil pessoas

  • Rod Stewart
  • Nina Hagen
  • The Go-Go's
  • Blitz
  • Lulu Santos
  • Os Paralamas do Sucesso
14 de janeiro de 1985

30 mil pessoas

  • James Taylor
  • George Benson
  • Alceu Valença
  • Moraes Moreira
15 de janeiro de 1985

250 mil pessoas

  • AC/DC
  • Scorpions
  • Barão Vermelho
  • Eduardo Dusek
  • Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens
16 de janeiro de 1985

180 mil pessoas

  • Rod Stewart
  • Ozzy Osbourne
  • Rita Lee
  • Moraes Moreira
  • Os Paralamas do Sucesso
17 de janeiro de 1985

70 mil pessoas

  • Yes
  • Al Jarreau
  • Elba Ramalho
  • Alceu Valença
18 de janeiro de 1985
250 mil pessoas
  • Queen
  • The Go-Go's
  • Eduardo Dusek
  • Lulu Santos
  • The B-52's
  • Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens
19 de janeiro de 1985

280 mil pessoas

  • AC/DC
  • Scorpions
  • Ozzy Osbourne
  • Whitesnake
  • Erasmo Carlos
  • Baby Consuelo e Pepeu Gomes
20 de janeiro de 1985

200 mil pessoas

  • Yes
  • The B-52's
  • Nina Hagen
  • Blitz
  • Gilberto Gil
  • Barão Vermelho

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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