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O Brasil recebe novamente o persistente Blaze Bayley

Combate Rock

12/01/2020 06h48

Marcelo Moreira

Blaze Bayley (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron Maiden, é uma pessoa persistente. Mesmo com mais baixos do que altos em sua carreira solo pós Iron Maiden, Bayley mostra que não há turbulência que possa ser superada.

Ignorando as intempéries do mercado, Bayley não arreda pé do lema "topo tudo para cantar, seja onde for", o que já lhe rendeu críticas pesadas por aqui e no exterior, com críticos musicais chegando a dizer que tinham dó dele.

Eu não tenho e o respeito bastante como músico e como cantor. Respeito-o como profissional que atingiu o auge e que busca manter a dignidade mesmo com a carreira em baixa – não chega a ser aquele ex-craque de futebol que estica a carreira além do limite.

Ele está de volta ao Brasil um ano depois de uma extensa turnê que realizou em todo o país – será a terceira por aqui em 15 meses, seja com sua banda solo, seja acompanhado por músicos brasileiros. O giro atual começã no dia 17 de janeiro em Belo Horizonte e termina o dia 26, em São Paulo.

Entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014 Blaze Bayley aceitou cumprir 34 datas no Brasil inteiro, entre shows acústicos e com bandas formadas nativas. Alguns shows foram cancelados, mas ele ficou os quase três meses rodando pelo Brasil.

Para muita gente, era o sinal da decadência profunda. Para muitos outros, um sinal de humildade, já que estava voltando aos "primórdios" da carreira.

Seja como for, é um músico corajoso, que encarou uma estafante turnê em um país fora do circuito normal dos extensos giros – artistas estrangeiros raramente fazem mais do que cinco shows seguidos no Brasil, exceto por Paul McCartney e Roger Waters, mais recentemente.

Eu assisti ao show de Blaze em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no Rock Club, no final de janeiro de 2014. Evidentemente que ali já não estava mais um artista que lembrava um vocalista que cantou no Iron Maiden.

Bem mais gordo e careca, parece seguir a mesma sina que Paul Di'Anno, outro ex-vocal do Iron e que tem fascinação pelo Brasil, e Warrel Dane (ex-Nevermore), que morreu em São Paulo em 2017

Blaze fez um set semiacústico, cantou bem e mostrou que a voz ainda está muito boa. Ao contrário de Di'Anno (acossado por uma série de probkemas de saúde), mantém a dignidade e não decepciona mesmo tocando em botecos e "bocas-de-porco" pelo país.

Ao final do show, quem esperava um astro do rock sendo tietado se enganou: o que se viu foi um roqueiro gente boa conversando com todo mundo, como se fosse uma festa de amigos ou uma reunião em um bar.

"O cara cantou no Iron Maiden e agora veio sentar na minha mesa e beber a minha cerveja", disse um fã de Santo André maravilhado com a simplicidade do ex-astro do metal.

A carreira solo tem momentos de engrenadas e "engripadas", mas a agenda não fica vazia. Só que não são tantas as apresentações em casas mais concorridas, como seria de se supor.

De qualquer forma, não deixa de ser um programa bastante interessante assistir a sua apresentação no Manifesto Bar, na zona sul de São Paulo, em 26 de janeiro.

Parece cíclico em sua trajetória recomeçar do zero. Perguntei isso a ele no Rock Club há quase seis anos e ele esboçou um sorriso tristonho, mas respondeu con sinceridade. "Tenho o privilégio de fazer o que gosto e o que eu sempre quis fazer. Não estou mais nos estádios e posso até não tocar mais nos melhores lugares, mas sigo em frente e tocando a minha música, com a satisfação de ter fãs como vocês. Ainda tem gente querendo ver e ouvir a minha música. Sou um privilegiado."

O músico inglês, que já foi casado com uma brasileira, sempre fez questão de ressaltar a sua predileção pelo país. Visita regularmente as principais cidades brasileiras, ora tocando com sua banda principal, ora se apresentando com músicos de apoio locais.

Ele sabe sabem o que espera por aqui e disse isso quando esteve em São Paulo, em 2010, durante evento em uma casa noturna paulistana.

"Seria ingenuidade achar que eu não teria oposição por ter substituído Bruce Dickinson em 1994 no Iron Maiden, mas não tenho como não agradecer demais o carinho com que sempre fui tratado no Brasil, como membro ou não do Iron Maiden. Aqui é o lugar onde eu percebo um enorme respeito pela minha carreira e pela minha obra. Isso ocorre em outros países, mas não no nível em que isso ocorre no Brasil. As pessoas realmente gostam do meu trabalho aqui."

O respeito que encontra no público brasileiro contrasta com o descaso com que é tratado em seu país, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Ele dá de ombros e mantém um lema na mente: "sempre em frente e sempre se levantando".

As oscilações de sua carreira solo são apenas parte dos obstáculos que teve de ultrapassar após sair do Iron Maiden, no começo de 1999 – ficou sem banda por duas vezes graças a uma debandada generalizada de músicos, teve de mudar de empresários outras tantas por conta de graves divergências administrativas e enfrentou a morte prematura de sua segunda esposa devido a um acidente vascular cerebral (AVC).

No entanto, quem o vê nos palcos pequenos e, de certa forma, não adequados à grandeza de sua carreira, não deixa de admirar a perseverança e a persistência. Solícito, simpático e concentrado, na maioria das vezes estampa no rosto as dificuldades constantes por que passa, mas impressiona com a força de vontade que demonstra, seja qual for o tamanho do palco.

Blaze Bayley é um personagem e tanto do mundo atual do rock, que tem sempre o Brasil em mente quando decide recomeçar mais uma vez – quem sabe para expiar os eventuais pecados de uma carreira acidentada, mas não menos impressionante.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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