'London Calling', do Clash, o auge do punk, completa 40 anos
Marcelo Moreira
O movimento punk começava a agonizar justamente quando a oposição vencia – Margaret Thatcher se tornava primeira-ministra da Inglaterra com seu conservadorismo quase vitoriano e o ex-ator canastrão rebuplicano Ronald Reagan era eleito presidente dos Estados Unidos.
Todos os punks buscavam um caminho diante do cenário adverso e depois da implosão dos Sex Pistols – new wave, hardcore, heavy metal? E aí vem The Clash para demolir o cenário com aquele que é um considerado por muitos um dos dez melhores álbuns de todos os tempos.
Era 1979 e os movimentos sindicais e partidos de esquerda na Europa tentavam resistir – os mineiros britânicos ensaiavam aquela que seria uma das greves mais longas da história, enquanto que entidades de direitos humanos se preocupavam com os cortes sociais prometidos por Thatcher.
E coube a uma banda liderada por dois guitarristas delinquentes – o arruaceiro profissional Mick Jones e o filho de diplomata Joe Strummer – dar uma marretada no "sistema" e encher de esperança aqueles que viam o mundo ocidental guinar para a direita.
"London Calling" era mais de que um chamado para a luta. Foi um grito de protesto contra o conservadorismo e a precarização de um mercado que dava sobrevida à falida disco music e tentava empurrar babas pop oriundas da América.
Quarenta anos atrás, o marco definitivo do punk rock, ironicamente, marcaria o início de seu fim, ainda que a banda cometesse coisas extraordinárias em seguida – o álbum triplo "Sandinista", repleto de experimentos sonoros e inovações que seriama amplamente copiadas, e o álbum "Combat Rock", de 1982, e o excelente e desse um alento ao quarteto um pouco antes da briga definitiva entre Jones e Strummer, que culminou com a saída do primeiro.
Óbvio que ninguém imaginaria que "London Calling" indicava o arrefecimento do movimento punk, mas o disco já indicava alguns caminhos e algumas direções que banda tomaria em seguida.
A faixa-título é a música punk por excelência, mas bem longe da tosqueira que os desinformados associam ao gênero musical. "London Calling" é urgente, precisa, com seu ritmo marcial, que comanda a marcha inexorável para a vitória. É um brado de guerra.
A mistura de marcantes de ska, funk, pop, soul, jazz, rockabilly e reggae foi certeira e carregou uma série de significados. O maior deles foi apontar o canhão para a intolerância, para o racismo e ara o xenofobia.
Foi o auge da parceria entre os dois guitarristas, que conciliaram as divergências político-musicais e ainda preservaria o protagonismo de Strummer, que cantou a maioria das músicas.
Curiosamente, a faixa mais punk o álbum, em termos temáticos, foi escrita pelo baixista Paul Simonon. "The Guns o Brixton" é densa, pesada e encarna todo o ideal de rebeldia do movimento, ao menos aquele espírito inicial de 1976.
"Clampdown" é outro hino, flertando com a música pop e com arranjos mais elaborados – era uma das faixas preferidas de Strummer.
Aliás, hino é o que não falta no então álbum duplo em vinil. "Train in Vain" é possivelmente a melhor canção da banda quando se fala em qualidade. Está no rol das músicas pop perfeitas, reunindo groove, inteligência, riffs marcantes e uma inevitável vontade de dançar.
O hino político fica a cargo de "Spanish Bombs", uma contundente pancada no belicismo tendo como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola, que durou três anos entre 1936 e 1939 e serviu como "ensaio" para a Segunda Guerra Mundial, que veio em seguida, Com seu refrão meio latino, meio reggae, tornou-se um grande hit de toda aquela geração.
O desfile de destaques não para: "Brand New Cadillac", "Revolution Rock", "Rudie Can't Fail", "Jimmy Jazz", "Death or Glory", "I'm Not Down"…
Se os Ramones causaram a devastação estética com sua turnê história pela Inglaterra em 1976 e os Sex Pistols chocaram a sociedade inglesa com sua rebeldia mal educada ensaiada, em termos artísticos e estéticos foi The Clash que se destacou com sua música empolgante, inclusiva, diversificada e de protesto.
A banda bem que tentou superar a derrocada do punk e as mudanças no cenário musical, que se sempre se amoldava aos interesses de mercado.
Com a saída de Mick Jones, em 1983, após o sucesso de "Combat Rock" e dos megahits "Should I Stay or Shoud I Go" e "Rock the Casbah", o Clash virou um quinteto, mas sem alma e sem inspiração.
O fim melancólico veio em 1985 e quase ninguém percebeu, o que foi um grande pecado para a maior banda punk de todos os tempos.
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