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Dr. Sin volta revigorado e muito pesado em novo CD

Combate Rock

19/11/2019 06h43

Marcelo Moreira

Dr. Sin em sua nova formação: da esq. para a dir., Ivan Busic, Thiago Melo e Andria Busic (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A decisão foi dura e parecia incontornável/irrevogável: o Dr. Sin encerrava as atividades após 23 anos de carreira e apenas seis meses depois do lançamento daquele que foi o seu melhor, álbum, "Intactus", de 2015.

O nome do disco continha a ironia de celebrar 23 anos com a mesma formação, embora não resistindo muito depois do lançamento.

A palavra "intacto" deu lugar à reconstrução, primeiro com a tentativa de fazer algo em português com a banda Busic e seu CD autointitulado.

Estava dando certo, até que o guitarrista Zeca Salgueiro percebeu o inevitável – e algo que que só os irmãos Busic não queriam ver (ou relutavam em ver): o Dr. Sin não podia ter acabado e tinha de voltar, memso que isso implicasse a saída do próprio Salgueiro.

"Muito mais do que um companheiro de banda, o Zeca era um amigo. E viu tudo de forma clara: com o Thiago Melo na guitarra, o nosso som ficava poderoso, como era o Dr. Sin. Diante disso, a volta foi uma necessidade", afirmou o baterista Ivan Busic.

"Back Home Again" é o resultado de quase dois anos do anúncio da volta e de alguns shows com Ivan, Andria Busic (baixo e vocal) e Melo no lugar que foi um dia do mestre Edu Ardanuy, hoje na banda Sinistra, que está demorando um pouco para lançar seu primeiro trabalho. Foi lançado pela gravadora Shinigami Records, em parceria com a Sound City. O registro também está sendo divulgado na Europa por meio da gravadora italiana Valery Records. 

Era óbvio que o Dr. Sin voltaria e que Thiago Melo, um jovem acreano que foi selecionado entre mais de 200 candidatos. Só que era necessário ao menos fazer uma consulta a Ardanuy sobre a volta da banda, já que foram mais de duas décadas de trabalho juntos.

"Por amizade e respeito, falamos com o Edu se ele tinha algum interesse nesse projeto de retorno, mas ele declinou. Está envolvido com outras ideias e projetos", diz Andria Busic.

O Dr. Sin com Tiago Mello está  diferente e mesmo distante do trio que manteve a formação intacta por mais de 20 anos.

Ardanuy é um mestre virtuoso que tem raízes fincadas nos anos 70 e no blues, além do heavy metal clássico, com nítidas influências de Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple), Eddie Van Halen e Yngwie Malmsteen. Mello, por sua vez, mergulha em influências que vão do heavy oitentista, típico da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) ao som mais moderno e mito pesado dos anos 2000. É menos bluesy e mais explorador de timbres mais obscuros.

Os dois primeitros singles, "Lost in Space" e "Shout", já tinham dado a pista de como o novo Dr. Sin iria soar: guitarras com uma afinação diferente, um pouco mais baixa, um som mais encorpado e vocais de Iva Busic mais presentes.

"Lost in Space" é mais rápida e e tem poucos solos, assim como a boa "Breakdown", que abre "Back Home Again" – as guitarras estão mais pesadas e densas, quase tenebrosas. "Shout" tem uma levada mais pop e uma melodia fácil e ganchuda.

"Shout" é uma tentativa de conciliar os dois mundos em uma época de poucas concessões e tolerâncias. O lado mais pop coloca violões e guitarras em evidência em uma melodia leve e acessível, que convive bem com a postura mais agressiva n meio da música, lembrando os melhores momentos de um Soilwork, por exemplo.

Os anos 80 afloram na excelente "Face to Face", onde o hard rock prevalece e resgata um clima bluesy dos primórdios da banda. Se não é a praia de Thiago Melo, ele demonstrou que se adapta muito facilmente.

"27" é a balada indefectível que quase sempre comparece nos trabalhos da banda. É ma música de muito bom gosto, embora sem diferenças importantes em relação diftàs outras já gravadas pelo trio. Os solos de Melo, desta vez, bebem nos clássicos setentistas ingleses.

O uso de novos elementos sonoros cai bem em "Mayday", uma canção emblemática que aponta caminhos alternativos para o hard rock, com peso e vés pop bem equilibrados em refrões pegajosos e diretos.

As qualidades da produção de Andria Busic ficam evidentes nesta canção – o equilíbrio entre os dois mundos e o domínio completo das ações, sem exageros ou excessos.

Ivan Busic, que surpreendeu ao mostrar que é ótimo vocalista em seu trabalho solo, ganha o protagonismo em "Best Friends", um country blues lento encharcado de slide guitar e muita influência sulista norte-americana. O baterista também brilha na balada pesada "See Me Now", em dueto com o irmão Andria.

E quem diria que diria que o trio esbarraria no hard'n'heavy à la NWOBHM em "Run For Your Life"? Uma canção que poderia perfeitamente ser um tributo aos ingleses do Raven, mostra os vários dotes vocais de Andria e tem uma levada contagiante e rápida. Por que não virou single?

Se é que podemos falar em mais uma "homenagem", a excepecional "What's Wrong" nos remete às melhores baladas blues do Whitesnake, com um trabalho vocal primoroso de Andria Busic.

A segunda encarnação do Dr. Sin não traz a exuberância e a grandiosidade de obras como "Bravo" ou "Intactus", mas é bastante coerente com o que se poderia esperar destes novos passos.

Ok, sempre esperamos o máximo dos melhores, como ocorre em todo lançamento do Sepultura, por exemplo. "Back Home Again" é um CD muito bom e certamente atendeu às melhores expectativas.

Como estreia em uma banda tão lustre, Melo foi bem e acabou com quase todas as dúvidas a respeito de que daria certo no trio. Sempre haverá aqueles saudosistas que torcetrão o nariz e pedirão a volta de Edu Ardanuy, como ocorre com o Sepultura a respeito dos irmãos Cavalera. Neste caso, não ha opção senão seguir em frente. E o novo Dr. Sin mostrou que está afiado e confiante.

Esqueçamos a coisa de sempre esperar a reedição de uma pérola hard pop como "Emotional Catastrophe", o grande hit da banda, ou qualquer outro sucesso que o trio produziu nos anos 90.

Podemos sim esperar que o grupo reedite coisas como "Intactus", um dos melhores CDs de rock/hard/heavy já lançados por uma banda brasileira.

Tudo bem a comparação com o melhor disco da banda é algo injusto para a retomada de uma carreira e a reestreia com nova formação. Entretanto, "Back Home Again" é um belo recomeço.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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