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'Theatre of Fate', do Viper, 30 anos: o 'início' do metal nacional

Combate Rock

12/10/2019 14h58

Marcelo Moreira

Os corredores do quinto andar do prédio da Fundação Cásper Líbero ainda eram escuros e um pouco soturnos no começo de 1987. Era a Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, na época – e ainda hoje – uma das cinco melhores do país na área.

Era um reduto de artistas e músicos, em particular. Cursavam jornalismo ou publicidasde apenas na vã tentativa de engatar um plano B na vida – coisa meio absurda, pois todos sabiam que não exerceriam as profissões.

Era uma época que ainda se falava muito do Língua de Trapo, cuja maioria dos integrantes estudara ali. Outras figuras importantes da MPB e do jazz paulistanos passsaram por aquelas salas de aula.

Dois anos depois, paredes brancas recém-pintadas deram as boas vindas a dois moleques cabeludos e bonachões, que se diziam metaleiros. Quem os conhecia sabia que tocavam bem, e se vestiam na maioria das vezes a caráter, como headbangers, com cabelos muito compridos.

Com uma explicação bem plausível – eram músicos profissionais aos 17 anos de idade – Pedro Passarell e Felipe Machado se livraram do corte de cabelo no trote, mas sofreram com algumas brincadeiras estapafúrdias da época.

Os dois moleques brincalhões chamavam a atenção, embora a maioria das pessoas ignorassem o que era heavy metal. Tinham dificuldade em chutar uma bola na quadra do sexto andar, mas pareciam sempre de bom humor e animados em seu curso de publicidade.

De vez em quando sumiam, e ninguém dava bola, até que, no mesmo ano de 1989, foi lançando mundialmente "Theatre of Fate", segundo álbum do Viper, a banda dos dois.

De uma hora para outra, para a maioria dos mortais, o status dos dois músicos foi catapultado. Pouquíssimos de nós, na faculdade, conviveu alguns segundos com alguém que tinha gravado um LP, e ainda com lançamento mundial – e ainda de uma qualidade muito boa, algo raro no heavy metal brasileiro daquelas eras.

E então começamos a prestar a atenção no Viper, uma banda de heavy metal brasileira formada por moleques que tinha padrão internacional e tinha fãs no Japão, além de fazer turnês no exterior.

E aqueles moleques do bairro de Higienópolis estudavam ali, na sala ao lado, e gostavam de pegar um violão vagabundo de três cordas abandonado no centro acadêmico para tocar música caipira nos intervalos das aulas.

O Viper se tornou referência no rock brasileiro, mesmo que não tenha alcançado o nível que esperávamos e gostaríamos. Os "Menudos do Metal" foram o início da carreira de Andre Matos, o vocalista e maestro respietadíssimo que tocou depois com Angra e Shaman, além de uma carreira solo ótima.

Trinta anos atrás, "Theatre of Fate" mudou a cara do rock pesado nacional ao transformar cinco moleques de 16 a 18 anos em astros e músicos respeitados, além de chamar a atenção de artistas e gravadoras estrangeiras. Eles já conquistavam mercados enquanto o Sepultura ainda iniciava sua jornada internacional nos Estados Unidos.

As expectativas não se concretizaram totalmente, e a banda entrou em uma espiral errática após esse álbum, que marcou a despedida de Matos (morto em junho passado aos 47 anos).

Foram alguns hiatos e voltas até que, em 2012, o grupo se reorganizasse, com a participação de Matos, em shows comemorativos. O Viper está na ativa (nunca parou, na verdade).

A história abraçou a banda. "Theatre of Fate" é um dos mais relevantes trabalhos já realizados por um grupo de rock no Brasil. E os moleques da faculdade se transformaram em profissionais bem-sucedidos em, outras áreas, além da música.

Felipe se tornou jornalista especializado em comportamento e cultura, e Pedro (Pit Passarell) é um compositor requisitado na área do rock nacional, tanto em português como em inglês.

O Viper mantém sua caminhada, agora com uma série de shows em homenagem ao amigo morto, com Leandro Caçoilo assumindo os vocais. Não é hora de recomeçar, mas sim de celebrar. "Theatre of Fate" faz parte de nossa história, e devemos agradecer por isso.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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