Um brasileiro coloca Roger Waters em seu lugar - mais uma vez
Marcelo Moreira
O vetrerano roqueiro atacou de novo em sua campanha de isolamento e boicote cultural a Israel. Se em 2015 seus alvos foram os cantores brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil, com shows agendados para Tel-Aviv, agora é a vez de Milton Nascimento.
Notório ativista em prol dos direitos dos palestinos, que são oprimidos por seguidos governos israelenses de direita e nem tão de direita, o ex-vocalista e baixista do Pink Floyd faz parte de um grupo de artistas e intelectuais que denuncia a política de choque e repressão contra os palestinos da Faixa de Gaza e Cisjordânia.
Roger Waters tem uma tenacidade e uma perseverança dignas de serem admiradas. Levou o Pink Floyd à frente várias vezes em momentos críticos e próximos da desintegração e consolidou a sua posição como um dos roqueiros mais politizados da história. Sempre fez questão de ressaltar o viés pacifista em sua obra solo e na banda, pendendo para a esquerda.
Se ele não teve atuação destacada contra o apartheid na África do Sul, nos anos 80 – estava envolvido totalmente na batalha judicial para acabar com o Pink Floyd e evitar que David Gilmour (guitarra e vocais) e Nick Mason (bateria) tomassem conta do nome e fossem adiante -, entrou de cabeça em campanhas de defesa do povo palestino nos conflitos contra os israelenses, ao lado da atriz inglesa Vanessa Redgrave.
Radical de esquerda, tornou-se um intransigente crítico de qualquer governo israelense e desde os anos 90 prega um boicote cultural e esportivo total ao Estado judeu.
Não foram poucas as intervenções que fez junto a artistas ingleses e europeus solicitando que cancelassem apresentações em Israel. Às vezes convencia, às vezes era solenemente ignorado.
Steven Wilson, líder do Porcupine Tree (banda de metal progressivo inglesa), foi um dos alvos, já que frequentemente se apresenta em Israel por conta de ligações e projetos com artistas locais. Chegou mesmo a morar em Tel-Aviv por um tempo. Foi outro que ignorou os apelos de Waters. "O poder da música é muito superior ao da política e do ódio", declarou Wilson certa vez.
É respeitável o engajamento político internacional de Waters e sua participação em diversas outras campanhas humanitárias e beneficentes. É um artista que merece respeito e por sua obra musical importante e pela coragem de encampar brigas políticas delicadas.
Ele acertou em cheio quando esteve no Brasil no segundo semestre do ano passado e deu claros recados contra o antifascismo e as ameaças à democracia – ou seja, mostrou-se crítico e opositor ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Mas errou ao fazer pronunciamentos a favor de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela de viés esquerdista e autoritário, que seguiu os passos do padrinho político, Hugo Chávez (morto em 2011), que lentamente transformou seu país em uma ditadura travestida de govermo denocrático – além de ter destruído a economia local.
Com sua campanha – legítima – de boicote a Israel, o ex-Pink Floyd é um considerado um chato. Que defenda os seus pontos de vista, polêmicos ou não, é um direito inalienável, mas se tornar impertinente a ponto de ver o respeito que adquiriu ser substituído pelo enfado e pelo tédio, para ser generoso, não é uma boa ideia para um artista de tal porte.
Que ele tenha feito o pedido de boicote em carta aberta aos músicos brasileiros faz parte do jogo político, mas insistir no tema, desrespeitando as decisões dos artistas, não só é impertinente, mas é de uma extrema grosseria. Ninguém é obrigado a concordar com os pontos de vista anti-israelense de Waters, ou mesmo a ter algum tipo de opinião política pública.
Considero reprovável o comportamento dos variados governos parlamentares israelenses contra os palestinos, mais pobres e mais vulneráveis na relação de forças. São tratados como cidadãos de segunda categoria e subrraça.
Há extremismo dos dois lados? Sim, mas mas a opressão a que o Estado israelense impõe aos palestinos e a parte dos árabes israelenses é desproporcional e desumana.
Entretanto, há cidadãos de esquerda em Israel que são pacifistas e abominam as medidas tomadas por seu governo. É isso que alegaram Caetano e Gil em 2015 e o faz Milton agora, quatro anos depois.
"Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público", escreveu o cantor brasileiro, num longo texto em sua rede social.
"Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?", escreveu Milton, em post que dividiu a opinião dos fãs.
"Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora?"
O boicote é legítimo, repito, assim como os shows em Israel. Portanto, o ex-baixista do Pink Floyd precisa parar com a campanha mala e insistente de tentar convencer artistas a riscar Israel do mapa. Os brasileiros já negaram o os pedidos. Chega de factoides, Roger Waters.
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