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Um dos maiores talentos do rock, André Matos era fera nos negócios

Combate Rock

09/06/2019 12h32

Marcelo Moreira

André Matos (FOTOS: DIVULGAÇÃO)

Doce, gentil e muito educado, mas uma fera na defesa dos seus negócios e dos seus direitos. André Matos se tornou um profissional raro dentro da música: o talento musical que transbordava tinha a mesma correspondência na administração de uma carreira bem-scedida e admirada por muita gente, dentro e fora do Brasil.

Dentro do Angra fazia um contraponto ao guitarrista Rafael Bittencourt, parceiro de fundação da banda. Eram dois talentos raros, ainda que muito jovens, com visões claras  e conceitos definidos de como trabalhar no rock e no heavy metal internacional. Não foi à toa que a banda se tornou a segunda brasileira mais importante, depois do Sepultura, no cenário internacionl.

A morte de Matos, aos 47 anos, neste sábado, 8 de junho, interrompe uma trajetória exemplar dentro da música brasileira. Músicos de diversos estilos reconheceram reconheceram a excelência de seu trabalho e a influência musical e profissional de forma ampla.

Versátil e ousado, conseguiu unir o rock, o metal e a música erudita como poucos dentro do gênero musical no mundo. Até mesmo atuar em musciais ele se aventurou, como em uma versão nacional da ópera-rock "Tommy", do Who.

Exigente, persistente e persuasivo, gostava de conversar e adorava aprender. Se por um lado houve relacionamentos conturbados com jornalistas, por outro ele apreciava a companhia de alguns deles.

Gostava de tomar café em cafeterias do Shopping Higienópolis, em São Paulo, quando estava no Brasil. "O que você anda ouvindo ultimamente?", perguntava ao interlocutor de uma hora para outra.

Também gostava de ser surpreendido. "Por que é tão difícil fazer outro CD do Virgo [projeto que manteve com o guitarrista e produtor alemão Sascha Paeth]?"

Na mesma cafeteria, ele parou, pensou e soltou: "Faz tempo que não falo com o Sascha, que é um bom amigo.Preciso ligar para ele. Quem sabe, um dia?"

Nos negócios, não deixava pontas soltas. No começo dos anos 2000, circulou uma edição dupla nas lojas de CDs com os dois primeiros álbuns d Viper, "Soldiers of Sunrise" e "Theatre of Fate".

Em entrevista a este jornalista, por telefone, bem antes do Combate Rock existir, ele ficou surpreso e um pouco indignado ao saber da existência do CD. "Não estou sabendo. Onde esta vendendo? Não fui informado."

Rapidamente, naquela semana, ele conseguiu as informações necessárias sobre o lançamento e cobrar os direitos por sua participação nas obras. "Minha carreira é meu patrimônio, assim como minha voz e minha música. Se eu não zelar por ela, não serão empresários que o farão."

Em outra conversa, a segunda entrevista que deu para o Combate Rock, em 2013, Matos me atendeu com muita cortesia e cordialidade, mas eu sabia que algo que ele tinha lido no nosso blog o estava incomodando: o lançamento no Japão, e posteriormente na Europa, de uma coletânea dupla em CD do Angra, com músicas de sua época e do tempo do cantor Edu Falaschi.

No mesmo café do shopping, ele respondeu de forma incisiva a respeito do lançamento, na última pergunta da entrevista.

"Li sobre esse CD e não gostei, obviamente, já que não foi consultado. Esse tipo de lançamento precisa da autorização do compositores e detentores dos direitos sobre as músicas. Não consigo compreender esse tipo de coportamento por parte de quem gerencia a carreira da banda ou do catálogo antigo. Gosto demais da minha passagem pelo Angra e acho que mereço o respeito de ser consultado sobre lançamentos ou relançamentos que envolvam a minha obra", afirmou o músico.

Pouco tempo depois Matos empreendeu uma intensa negociação sobre a tal coletânea japonesa, o que lhe rendeu certos dissabores (além dos habituais) com integrantes do Angra e fãs mais exaltados que nunca toleraram a sua saída, em 2000.

André Matos era um profissional raro e acessível, como podemos observar nas reações a sua morte nas redes sociais. Mas, principalmente, em relação aos fãs, como poderemos verificar em uma certa história que publicaremos em breve.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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