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Rick Wakeman, 70 anos: os extremos do rock progressivo nos teclados

Combate Rock

19/05/2019 06h55

Marcelo Moreira

Rick Wakman (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ninguém estava entendendo muito bem quando aqueles caras estavam montando o palco. Para que tanto "piano"? O cara iria tocar ou pilotar um avião com tanto equipamento?

E aí aquele "bruxo" sobe ao palco e começa a tocar TODOS os teclados e a preencher o ginásio com aquela música maravilhosa.

E então o inglês Rick Wakeman, que não era mais tecladista do Yes, fazia sozinho o que uma orquestra fazia no ginásio do Canindé, em São Paulo. Era o terceiro astro do rock que vinha ao Brasil, depois de Carlos Santana e Alice Cooper e deixou os brasileiros paulistas e cariocas de queixo caído.

Wakeman completa 70 anos de idade neste final de semana e compõe a trilogia dos "magos do teclado" ao lado dos amigos Keth Emerson (Emerson, Lake & Palmer) e Jon Lord (Deep Purple), ambos ingleses e já mortos.

É o menos inglês dos astros ingleses de rock. Espalhafatoso, gozador, simpático e brincalhão, fazia questão de não se levar a sério – e muito menos a sua banda principal, o pomposo e aspirante a erudito Yes.

Achava os colegas de Yes tão chatos que cotumava viajar no ônibus dos amigos,  do Black Sabbath quando as bandas faziam turnês em conjunto, no início dos anos 70.

"As cervejas deles eram mais geladas e a conversa era mais animada. Eles entendiam de futebol e falavam muita besteira. Adoravam sacanear todo mundo no ônibus. Isso era rock and roll. Já o pessoal do Yes levava horas para decidir qual nota seria tocada em seguida e ouvir música ambiente e indiana no ônibus. Era muuuuito animado…", disse uma tecladista uma vez em conversa com este jornalista.

Wakeman é um cara bacana, uma conversa extraordinária e um profisisonal inquieto. Adora flar de sua carreira e tem opinião sobre tudo. Bem informado, gozador e curioso, tem uma abordagem lúdica da vida, mas detesta sabotagem e sacanagem.

"Algumas posturas me entristecem no mundo do rock e estou cada vez menos inclinado a participar de bandas naAs quais eu não estou no controle", afirmou na mesma conversa, em alfinetadas ao Yes, que estão tinha demitido Jon Anderson, o vocalista, por conta de problemas de saúde deste.

Como era a turnê de 40 anos de criação da banda, Wakeman decidiu não participar em solidariedade ao amigo cantor. Isso foi no final de 2007. Quase três anos depois, Wakeman e Anderson formaram um duo que gerou duas turnês, um CD de estúdio e outro ao vivo. Estão junto de novo em formação "alternativa" do Yes, que se chamou ARW e agora é o Yes featuring Jon Anderson, Rick Wakeman e Trevor Rabin (guitarrista do Yes entre 1982 e 1994).

Pianista genial de formação erudita, Wakeman apaixonou-se pelos teclados eletrônicos e sintetizadores por volta de 1967 e caiu de vez no rock da época.

Dois anos depois era membro do The Strawbs, um grupo de rock progressivo que tinha inspiração em The Nice (primeira banda de Keith Emerson) e Procol Harum (do ótimo pianista e cantor Gary Brooker).

Rick Wakewman nos tempos de Yes, nos anos 70 (FOTO: DIVULGAÇÃO/FACEBOOK)

Admirador dos trabalhos eruditos de Jon Lord no Deep Purpl e encantado com o sucesso de Emerson no Emerson, Lake & Palmer, aproveitou a primeira oportunidade que teve para açar voos maiores e aceitou o convite para substituir Tony Kaye no Yes, no comecinho de 1971.

Sua estreia em "Fragile", o quarto disco da banda, o tornou celebridade e um músico concorrido, fato que extrapolou as melhores expectativas com o álbum seguinte, "Close to the Edge", de 1972, que seria o último com o baterista Bill Bruford, outro crítico do ambiente e dos métodos de trabalho dentro do Yes.

Inquieto, bocudo e às vezes briguento, por mais boa praça e gozador qwe fosse, ficou entediado com aquele rock progressivo certinho e enquadrado. Queria mais espaço para brilhar e criar, coisa que seria difícil na música formata e ambiciosa do Yes.

Já tinha um trabalho solo em gestação enuanto estava na banda e as tensões internas anteciparam a sua saída no final de 1973, logo depois do lançamento de "Tales from Topographic Oceans".

Em carreira solo, voou com grandes, mas também pretensiosas, obras como "The Six Wives of Henry VIII", "Journey of he Centre of the Earth" e trilhas sonoras para filmes e músicas que seriam temas de eventos, como "Gol'é", da Copa do Mundo de Futebol de 1982.

Sua passagem pelo Brasil em 1975 foi muito celebrada e comentada. Wakeman se esbaldou jogando futebol, tomando caipirinha na praia e tentando sambar na quadra da Mangueira, no Rio de Janeiro, além de torrar nas areias de Copacabana. Leia um pouco dessa passagem clicando aqui.

Apesar da rusgas com os músicos do Yes, voltou à banda no final de 1976 depois que seu sucessor, o suíço Patrick Moraz, encontrou problemas legais na Inglaterra para tocar com a banda – que também não se importou muio quando ele resolveu sair e morar no Rio de Janeiro com a então esposa brasileira.

Essa fase só durou até o final de 1979, quando acompanhou Jon Anderson e saiu novamente. Milionártio e bem- sucedido nos anos 80, compondo trilhas sonoras e bons álbuns solo, caiu de cabeça de novco no rock em 1989 quando Jon Anderson o chamou para compor o "verdadeiro Yes".

O vocalista tinha voltad para a banda em 1983, na fase mais pop e de maior sucesso, mas siu de novo em 1988 por divergências musicais. Queria reviver o passado e os bons tempos dos anos 70 e chamou Wakeman, Bill Bruford e o guitarrista Steve Howe para uma nova formação do Yes.

Ingenuamente, acharam que Chris Squire, dono do nome e que mantinha a banda na ativa, concordaria. Não teve jeito e o grupo se chamou "Anderson, Brufoird, Wakeman & Howe", que lançou um CD e um DVD ao vivo ainda em 1989. No ano seguinte, as duas bandas se fundiriam no projeto CD/DVD "Union", de 1991, que só durou ano.

Nos ano.s 90, Wakeman tocou de forma intermitentemente com o Yes, e isso duraria até 2007, sendo que ele seria substituído ora pelo produtor e multi-instrumentista Billy Sherwood, ora pelo tecladista russo Igor Khoroshev.

Quando se recusou a tovcar na turnê dos 40 anos, em 2008, por conta da demissão de Anderson, curiosamente foi substituído temporariamente por Oliver Wakeman, eu filho mais velho.

Oliver é um músico conhecido na Europa pela qualidade das trilhs sonoras de filmes e peças de teatro e manteve por anos uma parceria com Clive Nolan, multi-instrumentista e líder da banda de rock progressivo Pendragon.

Outro filho dele, Adam, o mais novo, é um tecladista muito requisitado no rock e foi músico de apoio do Black Sabbath e da banda de Ozzy Osbourne neste século. Gravou ainda dois álbuns e,m dueto com o pai, além de várias turnês pelo mundo. Passaram pelo Brasil no começo do século XXI e fizeram uma divertida apresentação no programa de Jô Soares, na TV Globo

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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