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Uma grande Surra no meio da sua ideia

Combate Rock

13/05/2019 06h52

Marcelo Moreira

Claro que foi uma imensa coincidência, e nõ das mais felizes para quem gota de música irada e de protesto, mas a polêmica envolvendo os norte-americanos do grupo Dead Kennedys reacendeu fagulhas de esperança na molecada.

Enquanto Inocentes e Subalternos, grandes bandas punks veteranas de São Paulo, embarcam para turnês na Europa, o hardcore o croosver comem solto por aqui.

O pessoal do Surra não alivia o quesito engajamento e protesto, como está explícito no novo trabalho do grupoo, "Escorrendo Pelo Ralo", uma pancadaria sonora de 30 minutos passando por 17 músicas.

Não é original nem surpreendente, mas o Surra chama a atenção pela mistura furiosa de hardcore e metal extremo, tudo tenmperado com protesto político e engajamento.

"Nosso som tem essa pegada oitentista, de urgência, de barulho, de inquietação. Não tem como mascarar, nossas influências vão de Ratos do Porão a Kreator, passando por D.R.I. e até G.B.H.", diz o guitarrista Léo.

Se é que podemos falar em um "comprometimento despojado", é o que vemos no palco quando o trio despeja suas pílulas de raiva. Léo e o baixista Guilherme dividem os vocais esporrentos e massacram seus instrumentos.

Fazia tempo quenão víamos por aqui esse resgate de uma sonoridade datada, mas extremamente violenta. A preferência das bandas punk brasileiras da atualidade, assim como as de hardcore, é por um som mais melódico e com guitarras mais trabalhadas.

O Surra aposta no volume e execução reta como uma serra elétrica. O baixo se transforma em guitarra base com distorção e volume no máximo, em performances que deixariam os Ratos de Porão orgulhosos.

O pequeno palco do Estúdio Espaço Som, em São Paulo, não deu conta da ira do trio paulista. Muito barulho e muita muira porrada, com faixas que não chegam, a um minuto de duração. Uma delas, meio sério e meio brincdeira, tem sete segundos.

"Fizemos da urgência sonora uma necessidade. É uma de nossas características. O novo CD é totalmente a nossa cara", diz o baixista Guilherme.

A trinca "Escorrendo Pelo Ralo", "Vida Medíocre" e "Ultraviolência" é tirar o fôlego, misturando raiva e violênccia sonora de estourar os tímpanos.

A devastação continua com "Jogo Sujo", "Anestesia" e "Mais Um Refém", passando por pérolas do protesto como "Virou Brasil", dividida em duas partes, "Caso Isolado" e "Bom Dia, Senhor", com um encerramento em grande estilo, "A Troco de Nada", curtíssima: "Donos do mundo/Tiranos imundos/Vendem a vida/A troco de nada/Eu lhes desejo a morte".

Em tempos sombrios de política polarizada, desmonte de programas sociais e políticas públicas suprimidas, o undeground se mostra sintonizado com a realidade, algo que não estamos vendo em relação a bandas mais famosas e com púbico maior. E o hardcore não está aliviando, para nossa sorte.

A banda Surra faz jus à tradição de pancadaria e mensagem irada contra o sistema, seja ele qual for. Mistura com propriedade a violência sonora com ironia e protesto. Não é todo dia que a gente vê uma banda "desejando a morte" de alguém.


Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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