Uma grande Surra no meio da sua ideia
Marcelo Moreira
Claro que foi uma imensa coincidência, e nõ das mais felizes para quem gota de música irada e de protesto, mas a polêmica envolvendo os norte-americanos do grupo Dead Kennedys reacendeu fagulhas de esperança na molecada.
Enquanto Inocentes e Subalternos, grandes bandas punks veteranas de São Paulo, embarcam para turnês na Europa, o hardcore o croosver comem solto por aqui.
O pessoal do Surra não alivia o quesito engajamento e protesto, como está explícito no novo trabalho do grupoo, "Escorrendo Pelo Ralo", uma pancadaria sonora de 30 minutos passando por 17 músicas.
Não é original nem surpreendente, mas o Surra chama a atenção pela mistura furiosa de hardcore e metal extremo, tudo tenmperado com protesto político e engajamento.
"Nosso som tem essa pegada oitentista, de urgência, de barulho, de inquietação. Não tem como mascarar, nossas influências vão de Ratos do Porão a Kreator, passando por D.R.I. e até G.B.H.", diz o guitarrista Léo.
Se é que podemos falar em um "comprometimento despojado", é o que vemos no palco quando o trio despeja suas pílulas de raiva. Léo e o baixista Guilherme dividem os vocais esporrentos e massacram seus instrumentos.
Fazia tempo quenão víamos por aqui esse resgate de uma sonoridade datada, mas extremamente violenta. A preferência das bandas punk brasileiras da atualidade, assim como as de hardcore, é por um som mais melódico e com guitarras mais trabalhadas.
O Surra aposta no volume e execução reta como uma serra elétrica. O baixo se transforma em guitarra base com distorção e volume no máximo, em performances que deixariam os Ratos de Porão orgulhosos.
O pequeno palco do Estúdio Espaço Som, em São Paulo, não deu conta da ira do trio paulista. Muito barulho e muita muira porrada, com faixas que não chegam, a um minuto de duração. Uma delas, meio sério e meio brincdeira, tem sete segundos.
"Fizemos da urgência sonora uma necessidade. É uma de nossas características. O novo CD é totalmente a nossa cara", diz o baixista Guilherme.
A trinca "Escorrendo Pelo Ralo", "Vida Medíocre" e "Ultraviolência" é tirar o fôlego, misturando raiva e violênccia sonora de estourar os tímpanos.
A devastação continua com "Jogo Sujo", "Anestesia" e "Mais Um Refém", passando por pérolas do protesto como "Virou Brasil", dividida em duas partes, "Caso Isolado" e "Bom Dia, Senhor", com um encerramento em grande estilo, "A Troco de Nada", curtíssima: "Donos do mundo/Tiranos imundos/Vendem a vida/A troco de nada/Eu lhes desejo a morte".
Em tempos sombrios de política polarizada, desmonte de programas sociais e políticas públicas suprimidas, o undeground se mostra sintonizado com a realidade, algo que não estamos vendo em relação a bandas mais famosas e com púbico maior. E o hardcore não está aliviando, para nossa sorte.
A banda Surra faz jus à tradição de pancadaria e mensagem irada contra o sistema, seja ele qual for. Mistura com propriedade a violência sonora com ironia e protesto. Não é todo dia que a gente vê uma banda "desejando a morte" de alguém.
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