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Torture Squad é a vítima mais recente do ódio político

Combate Rock

06/05/2019 12h08

Marcelo Moreira

Torture Squad (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Em 2012, os músicos da banda paulistana Torture Squad, de thrash/death metal, decidiram iniciar um projeto arriscado: um álbum conceitual tendo como tema a ditadura militar brasileira, que atormcom eentou a nossa sociedade entre 1964 e 1985.

O então trio mergulhou fundo em aruivos oficiais do governo estadual de Sção Paulo, em bibliotecas públicas e universidades e em várias entrevistas com especialistas em história e em política. O resultado se tornou "Esquadrão de Tortura", álbum lançado em 2013.

"Quisemos ententer o que se passou naquele período e contar a história do Brasil. Tentamos não fazer juízo de valor ou julgamentos, baseando o nosso roteiro com base na literatura do tema e em documntos oficiais", afirmou ao Combate Rock, na época, Amílcar Christófaro, o baterista.

Se boa parte dos fãs de metal e da banda soubessem ao menos desse álbum provavelmente essa galera não teria insultado a banda após um incidente chato ocorrido no último sábado, em Araraquara, durante uma das etapas seletivas de um festival de rock na cidade. O Torture Squad foi escalado para fechar o evento.

Após algumas provocações de alguns dos espectadores, o agora quarteto foi chamado de fascista e bolsonarista ao discutir com um militante esquerdista na plateia, que acabou retirado do local or seguranças, segundo um informativo do próprio coletivo do qual o rapaz fazia parte.

Banda notoriamente avessa a partidarismos e apologia a correntes políticas, o Torture Squad se incomodou, em determinado momento, com gritos e cantos contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL), entoados por parte da plateia.

Houve uma tentativa de conversa da banda, en etre uma música e outra, para que o Torture explicasse a sua posição. Entretanto, uma parte ruidosa da plateia não quis conversa e acirrou os ânimos com xingamentos mais pesados contra o presidente e outros políticos conservadores.

Foi quando um militante de ma corrente político-sindical de esquerda começou a provocar a banda perto do palco, xingando os integrantes da banda de fascistas.

Segundo testemunhas, houve discussão, bate-boca e a intervenção de seguranças, que retiraram o espectador do local. Um integrante da banda (os relatos divergem) teria arremessado uma lata de cerveja no rosto do espectador. Outras pessoas dizem que isso não ocorreu.

Nada de mais grave ocorreu, mas as redes sociais foram inundadas por informações truncadas e parciais a respeito do ocorrido e muita gente do metal e da área musical comprou a versão de que a banda é fascista e bolsonarista.

Christófaro se manifestou nas redes sociais lamentando o ocorrido e reiterando que ninguém na banda tem o viés político que querem imputar a eles.

"Não somos fascistas nem bolsonaristas. Não votei em Bolsonaro. Mantemos nossa posição de de indepedência e crítica aos meios políticos e à forma de como é feita a política partidária neste país", escreveu o baterista.

"A real intenção do que disse ontem no show era de mostrar que aquele era um momento de celebração a música, e não de política, que já vivemos tanto no dia a dia das nossas vidas. Que o show era o momento de sairmos um pouco dessa realidade dura da política brasileira para se divertir e energizar com a arte da música. Verdade que peguei pesado quando falei que queria que todos os políticos morressem. Claro que foi o calor do momento, é pesado, e estou generalizando, está errado, e peço desculpas por isso, até porque não sou pessoa de generalizar, mas estou dizendo claramente sobre políticos desonestos e corruptos que só fodem com a nossa vida há tempos, isso sim. Mas infelizmente, não foi assim que um dos manifestantes interpretou a mensagem e realmente não sei porque ele se sentiu tão ofendido pois claramente queremos o mesmo para o nosso país, que é o bem da nação." Disse Amilcar Christófaro um dia após o ocorrido.

O que fica bem claro nesta patnaquada toda é que não há possibilidade de diálogo diante do radicalismo e do ódio qe domina o país desde a campanha eleitoral do ano passado, ódio que se tornou a principal ferramenta dos candidatos conservadores e dos que se situam na extrema-direita. Pra contrapô-los, a esquerda retirou do fundo da caverna os seus radicais, tão burros e ignorantes quanto os estúpidos do outro lado.

O Torture Squad é a maior vítima do incidente e sai chamuscado, infelizmente. É uma das maiores bandas do país, com quase 30 anos de carreira – e justamente por isso é que espanta que a banda tenha caído, por ingenuidade, na armadilha em Araraquara.

Eu conheço os integrantes e afirmo categoricamente que não são fascistas. São músicos respeitáveis e inteligentes, com posicionamento claro a respeito da politica. Estive no dia anterior com o baixista Castor, na festa da Top Link, e ele estava exultante com o show em Araraquara.

É difícil apontar o dedo no caso para quiem supostamente tenha errado. Em tempos de polarização acirrada e ódio, os discursos políticos das bandas nos palcos precisam ser mais diretos e curtos, sme margem para debates – no máximo, para vaias e aplausos. O Torture Squad errou ao esticar demais a questão política no palco e insistir em rebater as provocações de um militante partidário.

Nesta segunda-feira, dia 6 de abril, a banda emitiu uma nota oficial sobre o incidente em Araraquara.

"Ninguém do Torture Squad é fascista, Bolsonarista, coxinha etc, como descreveu o autor da nota, que não se identificou (pelo menos não foi encontrado o nome do jornalista); ao contrário… A posição política, e de vida, dos integrantes da banda não tem nada a ver com fascismo ou com qualquer pessoa que apoie esse tipo de ideia".

Desconforta também ver um veículo de comunicação divulgar uma nota com acusações sérias, sem nenhum depoimento de envolvidos, sem falar com ninguém da banda, sem fazer nenhum tipo de apuração, e mesmo assim, divulgar, sabendo que a notícia irá se tornar uma bola de neve com pessoas compartilhando em redes sociais etc… Triste… enfim…

Indo direto ao assunto, basicamente o que aconteceu foi que, em um certo momento do show, manifestações contra e a favor de políticos foram entoadas pelo público e por parte da banda não houve censura. E como registram nossas músicas não defendemos ou temos políticos de preferência, que segundo a banda a própria história da política brasileira é a culpada disso, de ajudar a não construir uma confiança, e sim o contrário, ajudar a destruir qualquer tipo de crença nos políticos dos tempos modernos do Brasil.

" A real intenção do que disse ontem no show era de mostrar que aquele era um momento de celebração a música, e não de política, que já vivemos tanto no dia a dia das nossas vidas. Que o show era o momento de sairmos um pouco dessa realidade dura da política brasileira para se divertir e energizar com a arte da música. Verdade que peguei pesado quando falei que queria que todos os políticos morressem. Claro que foi o calor do momento, é pesado, e estou generalizando, está errado, e peço desculpas por isso, até porque não sou uma pessoa de generalizar, mas estou dizendo claramente sobre políticos desonestos e corruptos que só fodem com a nossa vida há tempos, isso sim. Mas infelizmente, não foi assim que um dos manifestantes interpretou a mensagem e realmente não sei porque ele se sentiu tão ofendido pois claramente queremos o mesmo para o nosso país, que é o bem da nação." Disse Amilcar Christófaro um dia após o ocorrido.

Incomodado, durante o restante do show, o manifestante saiu de qualquer manifestação política para uma falta de respeito, xingando e fazendo gestos obscenos para o baterista. E foi depois desse momento que Amilcar pediu que o manifestante fosse retirado pelos seguranças locais. Coisa que não aconteceu, mas mesmo assim, com tudo aparentemente apaziguado, a banda continuou o show.

Quanto à acusação de que o Torture Squad tentou silenciar essa mesma pessoa, é mentira. Como dissemos, o baterista só pediu para que o manifestante fosse retirado por seguranças pois seus protestos já não eram contra ou a favor de políticos, mas tratavam-se de falta de respeito com provocações e ofensas ao baterista Amilcar Christófaro e ao baixista Castor.

Diferentemente do que o site diz, todo o público ficou com a banda até o término do show, tanto que Amilcar perguntou no microfone " Vocês estão aqui pela política ou pela música?", e a resposta foi o público gritando MÚSICA tão alto em uníssono que chegou a ser emocionante.

Uma pena um site escrever e falar o que quer difamando pessoas do bem como nós do Torture Squad. Trabalhamos duro a vida inteira, sempre na humildade, sendo íntegros e honestos, sem querer tirar vantagem ou passar por cima de ninguém, e não serão calúnias assim que vão nos tirar do prumo. Podem ter certeza.

Lembrando que vivemos um momento delicado em que no país os ânimos estão exaltados, e que muitas vezes a incompreensão e a violência emergem das pessoas, por isso pedimos muita calma e cautela para todos quando forem conversar sobre política.

Saibam que aprendemos muito com esse episódio também e pedimos nossas sinceras desculpas a todos que estavam no evento, aos promotores, as bandas e principalmente aos fãs do TS que como sempre, estavam lá pelo amor a banda, demonstrando todo carinho e devoção a nossa música, que tiveram que aturar esse momento de desconforto e energia mais do que negativa. Nossas mais sinceras desculpas. Isso não irá se repetir. Vocês definitivamente não merecem. Amamos vocês do fundo dos nossos corações."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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