Topo

Amorphis e Malefactor foram os mais festejados na abertura do APR

Maurício Gaia

13/04/2019 17h22

Por Wilfred Gadêlha* – especial para Combate Rock

Amorphis na abertura do Abril Pro Rock
Foto: Pei Fon/ Rock Meeting

Quem é fã de metal e estava no Baile Perfumado na capital pernambucana na noite desta sexta-feira 12 de abril se divertiu. E muito. Foi a abertura do tradicional festival independente Abril Pro Rock, realizado desde 1993 no Recife. Uma noitada com bandas de várias vertentes pesadas: heavy, black, prog, thrash, death e tudo o mais entre isso. Tendo como headliner do primeiro dia os finlandeses do Amorphis, o APR ainda tem mais duas datas na semana que vem.

Inicialmente um evento que chamava a atenção por servir de vitrine para olheiros de gravadoras e por ter sido o "responsável" por mostrar o manguebeat pro Brasil, o APR vem, desde 2002, apostando em sonoridades mais pesadas, atraindo um público carente de shows internacionais de Pernambuco e de Estados vizinhos. A decisão de dividir os shows em finais de semana diferentes é arriscada, porque muita gente de fora fica entre a cruz (ops!) e a espada para escolher e isso causa, como visto nesta sexta, uma certa diminuição de público.

 

Camus
Foto: Pei Fon/ Rock Meeting

Mas vamos falar dos shows. Da nova geração do metal de Pernambuco, o Camus é um quarteto já com dois discos e trabalha numa linha que mescla o som de medalhões como Iron Maiden e Judas Priest com toques de outros estilos, com um quezinho de Megadeth em alguns momentos. O resultado é agradável aos ouvidos e a banda se esforçou para agitar a galera que ainda começava a chegar. Às 20h30, pontualmente – essa é uma marca do festival que deve sempre ser registrada – eles mandaram ver em sons pesados o suficiente para fazer o público vibrar. Destaque para Heavy Metal Machine, faixa-título do primeiro álbum.

No palco maior, a lenda do black metal Malkuth debutava no festival, num reconhecimento mais que justo de uma carreira destes pernambucanos que já dura 26 anos, com direito a sete discos de estúdios e uma infinidade de outros materiais. Sir Astaroth, o único integrante da formação original, comandou a celebração ao metal negro. Tocaram vários sons o último disco Voodoo (2018), como Antichristum Bellicus e Shot to Kill (Jesus). Contaram ainda com a participação de Diego DoUrden, integrante do também lendário Mystitifer e do Infested Blood. Parênteses: o APR tem apostado em bandas de black metal nos últimos anos, como Marduk e Mystifier, atendendo aos pedidos de uma parcela numerosa do público que sempre reclamou da ausência de atrações do estilo.

A mudança de palco também trouxe uma mudança de estilo. Um desavisado que chegasse naquele momento iria pensar que o Violator estava tocando. Do Maranhão, o Jackdevil é uma banda que segue os passos dos citados candangos no visual, no som, no título das canções. Isso não é demérito algum, uma vez que o público, que já era maiorzinho, não quis nem saber e caiu no moshpit. Títulos como Evil Strikes Again e Devil Awaits transportam você para 1986, quando o thrash estava no auge. Excelente movimentação de palco e interação com os headbangers.

Outra troca de palco, outra troca de estilo. Visualmente, o show dos paulistas do Maestrick chama atenção. Já o seu prog metal meio que dispersou parte do público. Os mais engraçadinhos comentavam a semelhança do vocalista Fabio Caldeira com o cantor brega recifense Kelvis Duran. Piadinhas locais à parte, foi um show mais intimista. Um momento merece destaque foi a participação do Maracatu Baque Mulher em duas músicas – não deu pra não lembrar de Desalma + Bongar, em 2014. Formado só por mulheres e oriundo da paupérrima comunidade do Bode, o maracatu ensaiou com o Maestrick apenas na véspera, mas, além de bonito, foi marcante. Caldeira ainda homenageou Chico Science, morto em 1997.

Um dos melhores shows do festival, o Malefactor botou pra fuder. Com uma formação mais enxuta do que a que esteve em Pernambuco em 2010, o quarteto baiano botou a galera para agitar com seu som inrotulável. Tem black metal, tem heavy, tem death, tem thrash. Tudo isso imerso em um clima de, como diria o Exodus, de violência amigável. Desde 2016 também no baixo, o vocalista Lord Vlad liderou a legião de fãs que a banda tem no Estado, com sons às vezes rápidos, em outros momentos épicos, com passagens densas e vocais indo do gutural ao crystal clear, digamos assim. Sodom and Gomorra, do mais recente disco Sixth Legion (2018), e o clássico Centurian, que nomina o álbum de 2006 foram as mais aclamadas.

Tudo pronto no palco maior e o Amorphis entra. Pela primeira vez no Recife, a banda finlandesa é o típico exemplo de uma formação que começa extrema, daí os caras começam a ouvir as coisas mais antigas – camisas de Black Sabbath e Rush dos músicos são uma prova disso – e mudam o som. Isso aconteceu com Tiamat, com Samael, com Sentenced, com Opeth. Um fenômeno mais europeu do que norte-americano, uma vez que Cannibal Corpse e Morbid Angel continuam porrada. Enfim, os finlandeses sabem do riscado. Tomi Joutsen é perfeito no palco. Com um vocal gutural encorpado, ele dá peso às passagens mais melódicas encaixadas pela dupla de guitarristas Esa Holopainen e Tomi Koivusaari, no grupo desde 1990, e pelo teclado lordiano de Santeri Kallio. Já o baixista Olli-Pekka Laine é um Steve DiGiorgio dos tempos do Human (estamos falando do Death, galera….). No que diz respeito ao repertório, eu senti falta de músicas do meu disco preferido, Tuonela, mas eles não estavam lá só pra me agradar. Teve coisa do disco novo, Queen of Time – The Bee e Bad Blood são foda -, teve do Skyforger (Sky Is Mine) e teve do longínquo Tales from the Thousand Lakes, a clássica Black Winter Day.

Foi uma noite impecável, do ponto de vista das atrações e da produção. O público não foi o que se esperava – algo em torno de 800 a mil pessoas – mas no próximo fim de semana tem mais. Na sexta, uma volta aos tempos mais "indie", com as russas do Pussy Riot fechando a noite do dia 19. No sábado 20, aí sim, um prato cheio para os camisas-pretas: Nuclear Assault, Ratos de Porão, The Mist, Sanctifier e mais seis bandas.

* Wilfred Gadêlha é jornalista, escritor e roteirista. Autor do livro Pesado – Origem e Consolidação do Metal em Pernambuco e roteirista do documentário Pesado – Que Som É Esse Que Vem de Pernambuco?" e, para nossa honra, está cobrindo o Abril Pro Rock para o Combate Rock.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock