A falta de entusiasmo persiste na volta dos Los Hermanos
Marcelo Moreira
Os detratores adoravam colar o rótulo de "rock universitário", de evidente menosprezo, ao tipo de música executado pelo grupo carioca Los Hermanos – algo que foi estendido, anos atrás, à banda paulista Malta. Era uma referência à falta de conteúdo e proposta artística vazia atribuída a artistas do chamado "sertanejo universitário", uma coisa artificial e ruim abraçada pelo mercado pop nacional.
Injustificado ou não, o termo ainda hoje serve de "epíteto" quando se fala do grupo carioca, cada vez menos ativo e mais bissexto – houve gente que não hesitou em, decretar o fim da banda várias vezes, até porque o guitarrista e vocalista Marcelo Cabelo mora em Portugal e tem outros interesses musicais.
Por isso chamou a atenção o anúncio do retorno do grupo após anos de hiato com um single inédito, "Corre Corre ", que curiosamente segue por um direcionamento adotado por bandas que sofreram algum tipo de influência, como O Terno e The Outs, por exemplo. Los Hermanos hoje soam muito mais como essas bandas do que o contrário.
Não que isso seja muito surpreendente. Talvez fosse o possível dentro das circunstâncias a partir do momento em que os quatro membros decidiram se reagrupar.
O problema é que sempre ficará aquela angústia de ouvir e analisar um trabalho novo do grupo: dá para esperar algo de relevante em 2019 de um quarteto bissexto que foi o último sopro de sucesso do rock nacional?
Sim, "Anna Júlia" foi a última música rock a tocar exaustivamente nas rádios e a liderar as listas de mais executadas e aprovadas pelo público. E isso já faz 19 anos, como bem salientou o jornalista Ricardo Alexandre no livro "Dias de Luta", sobre o rock nacional dos anos 80 e 90.
"Corre Corre" é uma canção previsível e relutante, sem um pingo de entusiasmo, fatos que marcaram os últimos dias da carreira "regular" dos Los Hermanos, digam,os assim.
Lerntamente, as canções da banda foram perdendo o frescor, ainda mantido ao vivo por seu fiel séquito de seguidores. Mais anedotas surgem quando a banda é citada. É muito MPB e insossa para ser rock e muito arrogante e pedante para ser MPB? Será?
Parte da imprensa e de um público roqueiro supostamente mais exigente e intelectualizado nunca perdoou Los Hermanos por uma suposta arrogância e um divertido pedantismo nas explicações de suas canções ou mesmo em entrevistas a respeito do mercado.
Egressos de faculdades de comunicação – Marcelo Camelo chegou a trabalhar como jornalista -, seus integrantes, em alguns momentos de vaidade ou de pura ingenuidade, assumiram posturas de "salvadores" do rock ou de "novas sensações" da música brasileira.
Não tinham pudores em apontar o dedo para mazelas da indústria ou para as sinucas em que as bandas de rock nacional e o próprio mercado estavam. Não fugiam das perguntas e se esforçavam para racionalizar sobre a realidade sem parecerem pedantes, mas pecavam por ingenuidade ou por falta de habilidade.
Para muitos jornalistas e críticos musicais, pedantismo, sapiência e arrogância são pecados mortais e os Los Hermanos não foram poupados e perdoados. "Rock universitário" foi apenas uma das mais leves qualificações que a crítica usou para detonar a banda.
Aparentemente, o quarteto não aprendeu com a hostilidade do mercado e não assimilou as sugestões para a sequência da carreira, ocasionando muitas frustrações e as consequentes "divergências" internas e os hiatos cada vez mais longos.
Diante de uma discografia escassa e um mercado difuso e hostil, há lugar para os Los Hermanos quase 25 anos de seu surgimento?
Será mesmo que precisamos da volta do Los Hermanos e de sua pretensão artística? Será que ainda é relevante fazer uma turnê de lembranças, só para tocar algum punhado de hits embolorados e faturar alguns trocados – exatamente como fazem vários dinossauros do rock tão criticados por "críticos musicais antenados e modernosos"?
De um roquinho supostamente alegre e levemente acelerado passaram a se mover cada vez mais em direção à MPB e ao samba carioca, com certas aspirações "literárias" em relação aos temas e letras. Esses "pecados" serão perdoados?
Ficará o quarteto carioca restrito a um gueto que restringe a cada dia de apreciadores de um moribundo pop cabeçudo pretensioso e totalmente anacrônico na segunda década do século XXI?
Esse retorno dos Los Hermanos pode ser encarado como uma tentativa de resgatar um tipo de música que parece fora de moda no rock nacional atual. Enquanto as bandas do rock clássico brasileiro espaçam cada vez mais seus lançamentos e apontam para outras direções artísticas, a canção vai sendo deixada de lado.
Os Titãs preferiram se aventurar na ópera-rock em "12 Flores Amarelas" e os Paralalas do Sucesso apostaram no rock nostálgico em "Os Sinais do Sim". Já o Ira! deixou de lado o rock autoral e caiu de cabeça no formato "folk" de antigos sucessos, enquanto que Skank mantém um silêncio incômodo há algum tempo.
Sendo assim, há um filão que pode ser explorado por uma banda grande, de renome. O resgate da canção, neste caso, parece ser um caminho inetivável para os Los Hermanos.
Resta saber se a manutenção do chamado "cabecismo" que predominou em algumas músicas do passado não afetará novamente a banda, afastando potenciais novos admiradores. "Corre Corre", infelizmente, padece dos mesmos defeitos antigos do grupo. Será preciso muito mais entusiasmo para que os Los Hermanos voltem a chamar a atenção.
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