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Torture Squad brilha em festival com pouco público em São Bernardo

Combate Rock

24/03/2019 22h38

Marcelo Moreira

A tarde prometia. Depois de muito tempo, haveria um festival gratuito de rock pesado na Grande São Paulo, na retomada do projeto que a Secretaria de Cultura de São Bernardo manteve por anos e que foi menosprezado pela administração que assumiu a direção da cidade em 2017 (prefeito Orlando Morando, do PSDB.

O primeiro ensaio, um minifestival de blues em fevereiro, mostrou que esse tipo de evento na cidade, se bem divulgado (ainda uma falha absurda e gritante da administração), tinha tudo para atrair bom público.

E eis que o minifestival de heavy metal extremo, tendo como atração principal a banda paulistana Torture Squad, uma das principais do Brasil, foi muito bem organizado, com bom equipamento e local adequado. E de graça. Mas cadê o público?

Já faz tempo que a gritaria é enorme entre os metaleiros: faltam lugares para tocar, faltam eventos bem organizados para ir, o poder público ignora a cultura e não promove shows e festivais de rock gratuitos como ocorria nos anos 90 e 2000…

E então aparece um minifestival gratuito em um parque municipal de São Bernardo, no ABC Paulista, em uma tarde quente e ensolarada, pertinho de terminal de ônibus (trólebus) que faz ligação com São Paulo – perto de pontos de ônibus urbanos que fazem a ligação com o metrô Sacomã.

Mesmo assim, pouco mais de 500 pessoas rumaram para o Parque da Juventude Città di Marostica, no centro da cidade, ao lado da sede da prefeitura. Tudo bem que se tratava de um festival com bandas de música extrema, ou seja, thrash metal, death metal e até black metal. A Guarda Civil Municipal não quis fazer uma estimativa de público presente, mas informou não ter havido incidentes.

A Secretaria de Cultura inovou e permitiu, pela primeira vez, barracas de comida e food truck dentro do parque (desde que não vendessem bebida alcoólica). Foram  seis opções, de hambúrgueres a pizzas, de pastéis a cachorro quente. Evidente mérito do Coletivo Rock ABC, que arcou com a parte mais pesada da organização – que, repito, foi muito boa.

E, também pela primeira vez, foi permitida a venda de produtos diversos ligados ao rock – CDs, DVDs, camisetas, quadros, enfeites diversos, 15 estandes no total.

Quem foi conseguiu ver um espetáculo com bastante conforto e espaço – aliás, espaço era o que mais tinha, tanto que na pista onde os shows rolavam diversas crianças e adolescentes andavam calmamente de patins, skate e bicicletas – bem diferente, por exemplo, da superlotação ocorrida anos atrás em um show maravilhoso dos Ratos de Porão. Cadê o público que gosta de rock, e de graça, no ABC?

Torture Squad fez ótimo show em São Bernardo, apesar do público aquém do esperado (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Com bom sistema de som e muita energia, apesar do calor, as bandas fizeram bons espetáculos. O projeto "Sons do Fone", como foi batizado o minifestival, contou com as bandas Cricifixion BR, The Forest e Amurians, todas abordando os sons mais pesados e extremos do heavy metal.

Não era mesmo música para qualquer ouvido, como bem comentaram diversos frequentadores do parque que faziam corridas ou caminhadas. "Isso é música? Essa gente gritando e esse barulho ensurdecedor?", perguntou o contador aposentado Renato Luciano, de 55 anos, que vestia uma camisa do Corinthians e para quem rock se resume a Raul Seixas.

Oriana Salgado, de 34 anos, professora de português do ensino médio, também custava a crer que o metal extremo pudesse ser apreciado por alguém. "Quanta violência, quanto ódio, quanto agressividade. Respeito, mas não consigo achar que isso é música."

Se a música era extrema, com pouco apelo popular, ainda assim atraiu menos gente do que deveria ter atraído, não só por ser gratuito, mas pelo privilegiado local onde foi realizado, de fácil acesso por transporte público. "Eu vim do bairro de Artur Alvim, na zona leste, só para ver o Torture Squad. Demorou mais de uma hora, mas foi fácil chegar. E conheci outras bandas legais", vibrava o assistente de produção Renê Lopes, de 24 anos.

E o Torture Squad brilhou. Havia um pouco mais de gente quando o quarteto subiu ao palco, por volta de 17h40, e estremeceu o Parque da Juventude.

A vocalista May Puertas mostrou técnica e potência na violenta "Blood Sacrifice", que abriu o show, e mostrou muita agressividade e ótima presença de palco.

Ela surpreendeu com uma performance cheia de groove na antiga canção "Pandemonium", enquanto o baixista Castor colocava o volume do baixo lá em cima, fazendo uma base perfeita e pesada para o guitarrista Renê Simionato. Mais contido do que o normal, o baterista Amílcar Christófaro foi preciso e muito veloz, embora o som de um dos bumbos estivesse estourando por pelo menos três músicas.

O show foi rápido, mas de tirar o fôlego, transformando a pista em uma grande festa pesada e "sangrenta". Merecia um público bem  maior do que o que compareceu – em que pese, infelizmente, também a parca divulgação do evento na cidade e nos veículos de comunicação regionais.

No dia 31 de março será a vez do Diadema Extremo 6, na cidade vizinha. Será a confirmação de que o ABC abandonou o rock e o metal?

O evento ocorrerá no Container Pub Stop, na rua Orense, 60, no centro de Diadema, com a bandas Ação Direta, Andralls, Santa Muerte, Trassas, Megaira e Midnightmare. O ingresso custa R$ 10 mais um quilo de alimento não perecível.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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