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Greta Van Fleet: pedradas são justas, mas a banda tem alguns méritos

Combate Rock

21/03/2019 06h30

Marcelo Moreira

Greta Van Fleet (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O som é datado e remete a um passado idílico, onde todos os ouvintes da banda adorariam ter estado em alguma edição do festival britânico de Knebworth nos anos 70, viajando ao som do Led Zeppelin. Ou, quem sabe, curtindo adoidado Jimi Hendrix em seus estertores, seja nos festivais de Woodstock ou Ilha de Wright.

E então sacamos que, finalmente, temos o primeiro álbum dos caipiras norte-americanos do Greta Van Fleet e sua cópia descarada de todos os sons e vocais da banda de Jimmy Page e Robert Plant – ok, isso já era mais do que esperado.

Os moleques do Greta são a grande sensação roqueira nova desde o ano passado, por mais que seja irritante a imitação do Led Zeppelin. Transformaram essa "desvantagem" na grande força de seu trabalho, por mais paradoxal que seja.

Não demorou para que os garotos reacendessem, a implicância dos puristas, que não aceitam as semelhanças com  a banda de Jimmy Page (um gaiato espirituoso não perdeu tempo e afirmou que ao menos isso: conseguiram criar alguma polêmica no rock frouxo da atualidade).

Greta Van Fleet conseguiu inspirar ódio em vários ambientes nas redes sociais. Muita gente não se conforma que uma banda iniciante sem a menor originalidade consiga chamar a atenção enquanto outras melhores ralam em busca de atenção. (Críticos musicais afirmam que existiam milhões de bandas melhores do que os Rolling Stones em Londres em 1963, mas foram estes que ganharam o mundo. Então…)

Não é para tanto esse ódio desenfreado. E é verdade que eles colocaram de novo o rock nos holofotes e em algumas paradas musicais. Esse um feito reconhecido por muitos críticos musicais respeitáveis no Brasil e no exterior.

Mas será que o rock está tão no buraco que a salvação teve de vir de quatro moleques caipiras dos Estados Unidos de 19 anos que nada mais fazem do que emular o Led Zeppelin quase nos mínimos detalhes?

E tem gente respeitável pegando muito pesado e ignorando o fato de que os moleques estão tentando "resgatar" o rock. "Você conhece aquela banda terrível Greta Van Fleet? Eu acho que eles são absolutamente abismais. Acho eles terríveis. Acho que é uma piada. Mas, eles são um exemplo de banda", detonou o multi-instrumentista e produtor inglês Steven Wilson (ex-Porcupine Tree) no podcast norte-americano myRock.

"Estão em alta porque eles são jovens e bonitos, eles parecem uma boy-band, eles tocam essa imitação de terceira categoria do Led Zeppelin. Mas eles são bonitos, então têm toda a ajuda da mídia e uma audiência massiva por trás deles. Em dez anos ninguém vai lembrar quem eles são. Posso estar errado – talvez eles provem isso. De repente eles se transformam numa boa banda e fazem um bom álbum. Mas esse é o ponto. No momento, são só uma versão boy-band de Led Zeppelin", criticou o músico inglês.

E a música?

Muitos vão dizer que é implicância de roqueiro velho – coisa de quem não tem argumentos sólidos sobre a questão -, mas o fato é que o som dos quatro garotos ultrapassa, e muito, a mera semelhança.

"Anthem of the Peacful Army", o tão aguardado primeiro álbum da banda, é uma grande evolução em relação aos dois EPs anteriores – que foram reunidos em um só no EP de oito músicas "From the Fires", de 2017.

Os caras têm garra, isso é inegável. Canções fortes como "Safari Song" e "Highway Tune", do EP reunido, ganharam os serviços de streaming do mundo inteiro e transformaram um quarteto interiorano dos Estados Unidos em sensação roqueira mundial.

O primeiro álbum não tem, ainda, um grande hit potencial, mas já mostra um amadurecimento na composições, que melhoraram bastante. Eles encontraram soluções melódicas interessantes para canções versáteis e, de certa forma, simples. Só que a grande questão que fica é: tudo é muito, mas muito parecido com Led Zeppelin. Demais da conta.

A trinca que abre o disco define o que é a obra: força, garra, peso e trabalho de guitarras muito bom. "Age of Man" é uma canção forte e tensa, que mostra o que a banda está se tornando. "The Cold Wind" é um pouco mais lenta, só que levada que remete diretamente ao álbum "Houses of the Holy", o quinto do Led Zeppelin, de 1973.

"When the Courtain Falls", a primeira música a ser liberada para o mercado, é a melhor do álbum e, outro paradoxo, a mais zeppeliniana. As guitarras estão mais na cara e a letra faz algum sentido – em meio a um excesso de ode às namoradas, amantes, esposas e afins. Traz o melhor vocal entre as 11 músicas.

A imitação ao Led chega ao ponto de interferir na distribuição das faixas ao longo do álbum, remetendo aos cinco primeiros discos da banda inglesa.

A desaceleração proposital na segunda metade, com canções baseadas no violão, puxam o clima para o folk e para o country, com quatro baladas e semibaladas, como a bela "Mountain of the Sun" e a interessante "Anthem".

Greta Van Fleet não surpreendeu em seu álbum de estreia, fez exatamente aquilo que se esperava dos quatro garotos na casa dos 20 anos e apaixonados por Led Zeppelin.

Foram um pouco além, é verdade, com músicas um pouco mais maduras e com arranjos interessantes. A discussão agora é a seguinte: até quando vão se sustentar em cima dos riffs de Jimmy Page?

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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