Censura no carnaval: liberdade de expressão aterroriza os conservadores
Marcelo Moreira
Cena número 1: policiais militares paulistanos dispersam a pancadas dois blocos de carnaval nos dias 24 e 25 de fevereiro Os fatos ocorreram na zona oeste, palco tradicional de concentração de blocos pré-carnaval. Coincidentemente, eram blocos de protesto com mensagens de viés esquerdista, ainda que bem humorados. Um deles fazia alusão à Ursal, a União das Repúblicas Socialistas da América Latina, uma piada levada a sério por imbecis conservadores e adeptos de ideologias de direita.
Cena número 2: policiais mineiros interrompem a festa de blocos de carnaval na zona norte de Belo Horizonte na última sexta-feira. Ameaçaram acabar com a festa e prender qualquer pessoa que critique o presidente Jair Bolsonaro ou a entoar loas a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba. Nos dois dias seguintes, diante da repercussão negativa, a PM mineira solta uma nota em que apenas "recomenda" que não haja crítica política de qualquer tipo para que não haja "incitação à confusão e confrontos".
Cena número 3, registrada em vídeo: policiais militares da cidade de Atibaia (SP) levam arbitrariamente um folião com a camisa da campanha "Lula Livre" para a delegacia. O cidadão em questão é Geovani Doratiotto, advogado de quase dois metros de altura e largura de viking. Também é o presidente do diretório do PT na cidade. Teria sido detido supostamente por responder a uma provocação de um policial em um bloco de carnaval. Ridicularizado pela resposta, o policial chamou reforço e deteve o advogado. Durante um a discussão na delegacia da cidade, Doratiotto responde a provocações, é imobilizado e tem o braço esquerdo quebrado deliberadamente por um PM.
Essas cenas são algumas das registradas em redes sociais e veículos de imprensa nos últimos dias. O Combate Rock contabilizou mais uma dezena de relatos de ameaças e intimidações de cunho político durante a folia de carnaval. Já tinha mencionado em outros textos atitudes semelhantes de policiais e autoridades contra músicos de rock nos dois primeiros meses do ano.
Como previsto, a censura está caminhando aos poucos na vida cotidiana dos brasileiros. Não é à toa que os quatro maiores Estados brasileiros são comandados por políticos conservadores que flertam explicitamente com a extrema-direita obscena e abjeta que tenta influenciar o governo federal de Bolsonaro – gente preconceituosa, que abomina direitos civis, que odeia a liberdade de expressão e que tem ojeriza à cultura e às artes, tudo temperado com o mais puro lixo conservador de viés medieval.
Não custa repetir que essa gente que combate o conhecimento e a civilização é a mesma que apoia políticos enredados em laranjais, ministros desprovidos de capacidade, competência e bom senso e que aplaude quando políticos estúpidos elogiam ditadores assassinos e genocidas – aplaudem também militares torturadores.
É o mesmo tipo de gente mau caráter que aplaude o assassinato de 15 pessoas em uma comunidade do Rio de Janeiro, em caso com fortes indícios de execução – ou seja, não houve confronto, revide ou mesmo contato com os policiais que motivasse qualquer tipo de ação violenta (isso ocorreu no Rio de Janeiro, aquele Estado do governador que comemora assassinatos e que quer atiradores de elite para matar "bandidos" em favelas".
O Estado perdeu o pudor, nos atuais governos federal e estaduais, ao exercer de forma ilegal o poder repressor contra qualquer um. É reflexo direto da "ideologia" transmitida na campanha eleitoral pelos candidatos conservadores: todos são inimigos até que provem o contrário; criticar o governo é um flagrante delito contra o Estado; imprensa que crítica que faz o seu papel é "um "desserviço à democracia" para essa gente proto-fascista que tem medo do comunismo e de "ideologias diferentes", que valoriza mais a cantoria de um hino do que a existência de material escolar e instalações minimamente descentes nas escolas.
De forma tímida, como se fosse um teste, o rock e as artes plásticas tiveram um gostinho de perseguição nos primeiros meses do ano. O carnaval está sendo o próximo passo do "laboratório" para a censura e ataques à liberdade de expressão. Vocês estão preparados para os próximos confrontos?
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