Comentários esparsos: o naufrágio de Lobão e do governo Bolsonaro
Marcelo Moreira
– No final de seu último livro, "Guia Politicamente Incorreto do Rock dos Anos 80", Lobão reconhece que vende hoje mais livros do que CDs ou músicas digitais. Ele tem razão, infelizmente, já que suas músicas são muito melhores do que sua obra literária paupérrima recheada de ressentimento e inveja. Comprado em um saldão de livros na última Bienal do Livro de São Paulo, relutei em ler esse tal "Guia Politicamente Incorreto". Como eu esperava, perdi tempo. Ao ressentimento habitual presentes nos livros e nas entrevistas do cantor, some-se a paranoia – enxerga complôs o tempo todo e em todo mercado artístico-fonográfico, com direito a insinuações de plágio de suas músicas – e a supervalorização de seus CDs na comparação com o trabalho de seus contemporâneos. Lobão tentou se transformar em um cronista de sua geração requentando as mesmas tiradas e os mesmos comentários dos livros anteriores contra os mesmos adversários e inimigos de sempre. Parece viver em um mundo paralelo onde domina um suposto totalitarismo cultural perpetrado por uma máfia artístico-empresarial responsável pela "destruição" do rock nacional e da pauperização da vida cultural do país. Destila veneno e uma suposta erudição temperada com certo bom humor em uma obra que não ultrapassa a importância de um mero almanaque entremeado por comentários impertinentes, grosseiros e passagens autobiográficas que pouco acrescentam. Enfim, o livro não se decide se é almanaque, análise cultural ou mera sucessão de comentários jocosos sobre um período ao qual ele gostaria de ter tido mais protagonismo. Será que é somente isso o que sobrou para Lobão?
– Como muita gente previa, o governo pífio de Jair Bolsonaro começa mais pífio do que se imaginava. Não tenham ilusões: Bolsonaro vai cumprir as maiores barbaridades que prometeu. Na área da cultura, o desmonte do Sistema S começa a ser perpetrado, enquanto ministros lunáticos das Relações Exteriores e da Família e Direito Humanos cometem os maiores desatinos e pataquadas. A barbaridade da vez é a retirada da necessidade de os livros didáticos não precisarem mais conter a bibliografia pesquisada e a obrigatoriedade de abordar temas necessários da vida moderna, como os próprios direitos humanos, identidade de gênero e homossexualidade, entre outros assuntos (aparentemente o governo voltará atrás em relação a essa medida absurda). Não bastasse isso, agora o Ministério da Agricultura, dominado por ruralistas e representantes do agronegócio, ficará responsável por questões como demarcação de terras indígenas e desapropriações de terras para a reforma agrária. Ou seja, não é só o desmonte das políticas sociais públicas – é a declarada intenção de destruir qualquer tipo de política de inclusão e preservação, algo que atinge também a área ambiental. Nem é necessário falar a respeito de depósito de dinheiro suspeitos nas contas de familiares do presidente e das nomeações absurdas de filhos de integrantes do alto escalão do governo para caros muito bem remunerados no próprio governo… Governo naufraga antes mesmo de começar.
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