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Van Halen com Gary Cherone faz 20 anos: alguém ainda se lembra?

Combate Rock

26/12/2018 07h00

Marcelo Moreira

Gary Cherone sempre disse que aproveitou muito pouco o sucesso que o Extreme teve nos anos 90. Banda de hard rock promissora que ficou marcada pelo hit "More Than Words", uma balada acústica, esfarelou rapidamente assim que o grunge varreu as bandas mais pesadas.

E foi com surpresa que ele e o mundo souberam que os amigos do Van Halen tinham interesse em saber se queria fazer testes para substituir o cantor Sammy Hagar, que saiu de forma tumultuada da banda.

Nascia então a terceira fase do Van Halen em 1998, com o lançamento de "Van Halen III", um álbum controverso e polêmico, seguido de uma turnê pelos Estados Unidos, Europa e Austrália.

Há 20 anos, uma surpreendente união que poderia dar certo foi demolida pela crueldade do mercado e pela intolerância dos fãs, que reagiram da mesma forma que os do Iron Maiden quando Blaze Bayley foi contratado.

"Gary Cherone? Do Extreme?" Muitos faziam a cara de nojo ao pronunciar as duas perguntas. Pois foi ele mesmo o escolhido pelo Van Halen no final de 1996 e estrear no ano seguinte.

Van halen em 1998: da esq. para a dir., Michael Anthony, Gary Cherone, Alex Van halen e Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Van Halen em 1998: da esq. para a dir., Michael Anthony, Gary Cherone, Alex Van Halen e Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O guitarrista Eddie Van Halen foi curto e direto quando do anúncio: "Tínhamos certa amizade, admiração mútua. Fizemos testes e a química foi excelente. Queríamos mudar e escolhemos Gary por seu talento, carisma e qualidade."

Claro que houve estranhamento, mas a banda foi em frente. No entanto, a mudança foi drástica demais e "Van Halen III" fracassou, levando consigo uma rejeição que afetou a venda de ingressos para os shows. Jornalistas que conheciam bem o funcionamento da banda, vaticinaram: Cherone não iria durar muito.

Se Bayley teve cinco anos para mostrar seus serviços, em dois álbuns, Cherone não conseguiu mais do que um ano. E ele levou a culpa pela falta de inspiração do então novo trabalho e pelo que foi considerado desempenho insatisfatório no palco.

Isso tudo pode até ser parcialmente verdade, mas o fato é que o ex-Extreme não teve chance. Sofreu um boicote tremendo, daqueles difíceis de enfrentar.

As comparações constantes com David Lee Roth e Sammy Hagar chegavam a ser constrangedoras, assim como a mudança no direcionamento musical, um hard rock mais denso e melancólico, com letras mais metafóricas e sem aqueles climas ensolarados e sacanas (Roth) ou românticos (Hagar). Teve até vocal de Eddie em "How Many Say I"…

Abatido em pleno voo, Gary Cherone acabou por concentrar a ira dos fãs e o mau desempenho de "Van Halen III". Durou pouco em circunstâncias recheadas de injustiças e incompreensão em relação a um CD diferente.

Apesar das constantes declarações de Eddie de que adorava o álbum, "Van Halen III" recebeu mais críticas negativas do que positivas. Havia boas ideias, como os quase hits "Without You" e "One I Want" , as interessantes "Josephina" e "Year to the Day" e forte e pesada "Fire in the Hole". 

Então por que o álbum fracassou? Faltaram hits, é verdade, mas principalmente faltou alma e energia. Faltaram solos memoráveis e riffs que fizessem que os ouvintes lembrarem do gigantismo de outrora do Van Halen.

A melancolia substituiu o bom humor e o carisma da época de David Lee Roth e o otimismo e as mensagens positivas da era Sammy Hagar. Isso era tudo o que os que detestavam Cherone precisavam para atacar e boicotar.

Como o Van Halen sempre foi uma banda mais suscetível do que outras às interferências da gravadora, os resultados de vendas de álbum e ingressos logo acenderam a luz vermelha. Não demorou para que o "amigo" Cherone fosse demitido.

A banda entrou em um hiato de seis anos, até voltar para uma desastrada turnê que contou com a participação de Sammy Hagar.

De qualquer forma, há um ótimo registro em vídeo da passagem de Cherone pelo Van Halen. "Live from Australia 1998" é um DVD que as megastores que ainda restam no Brasil vendem de vez em quando como se fosse um porduto oficial, ou quase, do Van Halen.

O problema é que tal produto não existe na discografia/videografia oficial da banda. No Brasil, foi editado por uma empresa chamada Radar Record's, sem encarte e com informações mínimas.

O show foi realizado em Sydney, no Sydney Entertainmente Center, no dia 21 de abril de 1998, e foi transmitido ao vivo por uma emissora de TV australiana australiana – que fez o mesmo com a apresentação de Melbourne, dias depois. São essas as imagens usadas, e já exibidas no Brasil pelo canal VH1, em uma madrugada qualquer.

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Cherone, ao contrário do que se possa imaginar, se saiu bem, dentro das circunstâncias em que a banda vivia. Muito esforçado, mergulhou de cabeça no repertório da banda e fez o seu trabalho com competência.

Mas isso não foi o suficiente, como ocorreu na msma época com Blaze Bayley no Iron Maiden: por melhor que fizesse, jamais seria Roth ou Hagar e os fãs não perdoaram, boicotando shows nos Estados Unidos e ignorando o CD.

Com Cherone, finalmente o Vah Halen resgatou grandes músicas da era David Lee Roth, que foram progressivamente deixadas de lado por exigência de Sammy Hamar. "Unchained" mostra uma banda afiada e com vontade, entrosada, e com o novo vocalista puxando a canção para o puro hard rock, mas sem a malícia e a ironia de Roth.

"Mean Street" ganhou um suingue diferente, colocando-a m pouco mais perto da praia do Extreme, que enfureceu muita gente durante a turnê. Entretanto, a música, que é excelente, não ficou comprometida, e ganhou um inspirado solo de guitarra de Eddie Van Halen.

"Ain't Talkin' 'Bout Love", de forma surpreendente, ficou mais pesada e um pouco mais rápida. Aqui Cherone dá uma das poucas escorregadas, gritando demais e exagerando nos trejeitos. A impressão é de que o fôlego estava no fim e que ele tentou compensar forçando um pouco.

Em "Somebody Get Me a Doctor", quem derrapa é o baixista Michael Anthony, que assume os vocais mas não consegue domar a sua estridência. Na icônica "Why Can't This Be Love", Cherone tenta esticar as notas, mas a lucidez toma conta do rapaz e ele se contenta em ficar no meio do caminho, cantando apenas de forma correta.

Nos hinos "Panama" e "Right Now" a banda vai bem, com Cherone mais contido e evitando os maneirismos, que reaparecem nas faixas do álbum "Van Halen III", que aparecem em peso. No hit "Without You", a música que teve maior exposição, o resultado ficou satisfatório, com um bom desempenho do vocalista, que repete a dose na rápida e pesada "One I Want", que vem em seguida.

As lentas "Year of the Day" e "Josephina", também do álbum com Cherone, destoam não por causa do desempenho, mas por serem fracas. O vocalista tenta mostrar que está apto a integrar o Van Halen e se esforça em mostrar um outro caminho, talvez aquele que a banda tomaria se permanecesse na banda. Inevitável não lembrar de "More Than Words", do Extreme, na balada melosa "Josephina"…

Como show, é uma uma boa apresentação, mas bem longe dos grandes momentos do Van Halen, como os registrados no mágico DVD "Live Without a Net", de 1986. E isso nao é culpa de Cherone, que fez o possível.

 

"Live From Australia 1998" é um trabalho curioso, até mesmo raro, já que são poucos os registros ao vivo dessa fase da banda.

Além da oposição dos fãs, Cherone sucumbiu por conta da um CD aquém da qualidade exigida para o Van Halen. As melhores músicas de "Van Halen III" dificilmente entrarão em alguma coletânea, e jamais poderiam ser incluídas em álbuns medianos do grupo. No YouTube, o show inteiro pode ser visto por meio do link https://www.youtube.com/watch?v=k_dCgKQ1kOc.

É bom lembrar que a banda lança ainda nos próximos dias o primeiro álbum ao vivo com David Lee Roth nos vocais, "Tokyo Dome Live in Concert", gravado em um show n Japão em 2013. Também estão previstos este ano os relançamentos dos seis primeiros álbuns da banda, remasterizados e possivelmente com faixas bônus.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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