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As 'novas' caras do folk: Tim Bernardes, Khadhu Capanema e Fabiano Negri

Combate Rock

14/12/2018 06h46

Marcelo Moreira

Para muita gente não há oque comemorar em relação à volta da banda Los Hermanos aos palcos, sendo que muitos desprezam o que chamam de "folk rock insosso misturado com MPB" do quarteto. Mas será que existe algum outro tipo de folk rock com algum tipo de brasilidade?

Críticos nacionais estrangeiros garantem que sim, encaixando gente como Milton Nascimento, Clube da Esquina, Zé Ramalho, Matuto Moderno e até os indefectíveis Zé Geraldo e Oswaldo Montenegro neste balaio.

Atualmente são três os "bardos" que fazem um trabalho de qualidade e moderno no cenário nacional atual, com boas letras e soluções diferentes para um gênero que tem recebido pouca atenção ultimamente.

Tim Bernardes (FOTO: FABIO POLITI/DIVULGAÇÃO)

Para quem estava acostumado a vê-lo fazer um rock retrô de inspiração sessentista no trio O Terno, a guinada do guitarrista e cantor paulistano Tim Bernardes em seu primeiro álbum solo, lançado neste ano, surpreendeu bastante.

"Recomeçar" é um disco sombrio e melancólico, com predominância de instrumentos acústicos e melodias doces. Violão e piano ressaltam composições bem acabadas com alternância do folk americano e canções que poderiam muito bem ser acomodadas na MPB.

O clima é bem intimista, com Bernardes ressaltando seu lado intérprete. O resultado é bastante satisfatório, com o destaque para as ótimas "Tanto Faz" e "As Histórias do Cinema".

Melancolia e clima lúgubre, soturno, dominam o ambiente, embora o músico nunca deixe de ter uma pontinha de otimismo aqui e ali. Tristeza que se transforma em poesia, algo que foi feito com bastante competência.

De Minas Gerais vem o primeiro trabalho solo de Khadhu Capanema, vocalista, violonista e guitarrista do excelente quarteto Cartoon, de Belo Horizonte, que flerta com o rock progressivo e com o folk rock desde o começo do século XXI.

"Inverno Mineiro" tem uma miríade de influências, que vão de Neil Young ao onipresente Milton Nascimento, passando por ecos de A Cor do Som, Sá & Guarabyra e Boca Livre, para não falar no instrumental preciso e bem elaborado que certamente orgulharia os integrantes do Soim Nosso de Cada Dia, do Bacamarte e outras grandes instituições roqueiras nacionais dos anos 70.

Capanema é um bom instrumentista e reforça a característica dos músicos mineiros de interagir muito com a natureza e usar as estações do ano e asa fases do dia como metáforas para os obstáculos do dia e a superação de obstáculos, sobretudo os emocionais.

Não há um hit propriamente dito, como é de se esperar de um álbum de folk music – é complexo, mas é suave. É denso, mas usa alegorias que equilibram bem a leveza de partes das letras e o sentido filosófico intrínseco na maioria das canções.

"Cinco Sorvetes" é o cartão de visitas, um soft rock que abusa das guitarras e de arranjos simples, lembrando do idílico passado vivido em uma agradável cidade do interior.

"Inverno Mineiro", a música, traz impressionantes ecos de trabalhos de músicos como o inglês Bert Jansch (um dos ídolos de Jimmy Page) nos arranjos de violão e guitarra. Aqui o clima é menos luminoso, mas a delicadeza exalada na interpretação mostra que Capanema é um artista diferenciado.

Khadhu Capanema (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Já Não Importa" e "Deixa Brilhar" são menos virtuosas, onde o que importa é a interpretação. Se podemos falar em luminosidade, o clima é menos ensolarado, algo que parece proposital diante da estrutura do álbum, que nos reserva canções mais quentes e esplendorosas para a segunda metade.

É o caso de "Chaves do Universo", com seu discurso otimista e ritmo mais acelerado, com arranjos mais intrincados e violões extraordinários.

"20 Anos" é mais reflexiva, enquanto que "Mais claro Que o Sol" encaminha a obra para um clímax mais positivo, fechando com a imponente e delicada "Num Canto do Quarto", a melhor do trabalho.

Se "V", o quinto trabalho do Cartoon, cantado em inglês, já encaminhava o som para um folk mais voltado para o som britânico, "Inverno Mineiro" faz o inverso, mesclando esse mesmo folk com tendências regionais do Brasil, atingindo uma sonoridade diversificada e muito interessante.

Do interior de São Paulo ressurge o cantor e multi-instrumentista Fabiano Negri, que mal esperou esfriar o seu último álbum, o ótimo "The Lonely Ones", lançado no começo do ano.

Ao contrário dos projetos anteriores, onde passeou pelo rock, pelo blues, pela soul music e pelo folk tipo voz-e-violão, como no último álbum, agora o músico de Campinas pretende abraçar a ópera-rock com tons de rock progressivo, mas usando uma base folk que tanto aprecia.

Fabiano Negri FOTO: DIVULGAÇÃO)

Seu novo projeto solo chama-se "Cursed Artist". Até meados do ano que vem ele pretende divulgar nas rede sociais e plataformas de streaming uma faixa por mês, em um álbum conceitual onde pretende abordar o ato de criar uma obra de arte em si e as dificuldades que um artista – no caso, um músico – precisa enfrentar para compor, gravar, lançar e "vender" sua arte em um mercado/sistema povoado por tubarões.

A primeira música divulgada é a faixa-título, um rock que esbarra no hard recheado de arranjos muito bons e uma guitarra cortante e forte, onde os solos se destacam, especialmente o do final.

"Cursed Artist", a música, é uma síntese da obra conceitual, com uma letra metafórica, mas ao mesmo tempo reveladora. Com pleno domínio da arte da composição pop, Negri faz um balanceamento elogiável de gêneros e subgêneros musicais.

Pela primeira amostra do novo – e mais audacioso – trabalho, certamente deverá ser tornar a mais importante obra deste veterano músico paulista.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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