Los Hermanos voltam apenas por nostalgia e para celebrar passado longínquo
Marcelo Moreira
Eles ameaçaram por muito tempo e enfim cumpriram a promessa. Os Los Hermanos estão de volta após anos de hibernação para uma turnê pelo Brasil e pela América do Sul sem ter material novo para divulgar – para muitos, isso é uma bênção!
Assim como a Legião Urbana, a banda carioca sempre mereceu um tratamento diferenciado e laudatório por parte da imprensa especializada.
Algum desavisado ou mesmo desinformado cometeu o disparate de dizer que a banda dos barbudinhos tinha o mesmo peso da Legião para os fãs dos anos 2000. E muita gente acreditou nisso.
É certo que corremos o risco de novamente sermos aterrorizados com "Anna Júlia", uma power balada melancólica e pegajosa. E é sempre bom lembrarmos de que música foi o último grande hit do rock nacional – nada do que veio depois chegou perto do sucesso dela.
Precisamos mesmo da volta de um Los Hermanos aparentemente sem muito entusiasmo? Não que faça diferença para a vida da humanidade, mas será que realmente é uma notícia relevante?
Esperava-se muito da badalada reunião dos Mutantes neste século. Houve muita euforia, muitas páginas e páginas de reportagens foram gastas e o resultado foi apenas OK. Será que os Los Hermanos conseguirão ao menos isso?
Separados, os integrantes da banda não nos deixaram em paz. Rodrigo Amarante decidiu formar o Little Joy com o baterista do fraco Strokes e uma cantora americana fraquinha.
Marcelo Camelo se travestiu de bardo e lançou CDs solo misturando uma melancolia pouco convincente de seu pop insosso com traços de uma MPB cafona. Parece que é impossível para os ex-integrantes da banda se livrarem da síndrome de Renato Russo.
Não bastasse o pop rock de gosto duvidoso, existem ainda as letras pseudorromânticas de gosto duvidoso e os "cabecismos" quase indecifráveis de algumas músicas.
Apesar da qualidade questionável do pop rock do Los Hermanos, Camelo e Amarante são músicos diferenciados quando dão entrevistas.
Nem um pouco deslumbrados quando estouraram com a indefectível "Anna Júlia", sempre falaram com segurança e desprendimento aos jornalistas, mostrando que tinham referências, que tinham algum conteúdo, fugindo da terra arrasada que era a seara intelectual do rock brasileiro no final dos anos 90 e começo dos anos 2000.
Mostravam-se artistas diferentes lá no começo, com ideias e coisas interessantes para falar, mesmo que o primeiro CD não fosse lá essas coisas. Parece que o sucesso fez mal aos garotos que queriam ser emos antes mesmo do surgimento destes.
As misturebas de pop rock com MPB e samba confundiram os fãs e não levaram a banda a lugar algum. Apesar disso, o tom das entrevistas mudou, com a complacência de parte expressiva da imprensa embasbacada.
O pseudointelectualismo começou a dominar as conversas, e os integrantes da banda realmente acharam que estavam fazendo um trabalho musical revolucionário, o que nunca aconteceu.
Todos amadureceram e seus trabalhos solo mostraram alguma evolução, embora haja artistas hoje que mostram obras bem superiores e mais bem acabadas.
Turnê caça-níquel? Tentativa de voltar às luzes da ribalta depois de eventuais fracassos solo? Talvez sim, mas o mais correto é imaginar que a ameaça da volta um dia seria cumprida, já que não houve dissolução formal da banda.
Nada contra a volta, é óbvio, já que tantas e tantas toneladas de bandas antigas nacionais e internacionais foram e voltaram e foram de novo neste século. A questão é a seguinte: qual a relevância desse retorno?
Não precisamos dos Los Hermanos, da mesma forma que não precisávamos dos Mutantes, com ou sem Arnaldo Baptista e Rita Lee – neste caso, nem mesmo álbuns novos salvaram a lavoura.
Com os Los Hermanos atropelados por uma série de bandas e artistas legais nos últimos cinco anos, a turnê servirá apenas para uma celebração do passado, como tem ocorrido com os shows dos intermináveis Roupa Nova e Made in Brazil.
Voltas nostálgicas são muito pouco para qualquer banda que já teve sucesso ou alguma relevância. O desafio dos Los Hermanos será se reposicionar em um mercado que valoriza mais os dinossauros dos anos 80 (Paralamas do Sucesso, Ira!, Titãs, Plebe Rude, Frejat, Skank, Jota Quest e outras) do que qualquer outra coisa.
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