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Hoje rasgam livros na UnB; amanhã serão queimados ao lado de CDs de rock

Combate Rock

05/10/2018 06h23

Marcelo Moreira

Começou bem antes do que nós imaginávamos. Servidores federais que trabalham na biblioteca central da Universidade de Brasília (UnB) encontraram sete livros que falam sobre direitos humanos e o período da ditadura militar rasgados ou danificados.

A ideia não era destruir, mas simplesmente dar um "recado" para todos a respeito do que vai acontecer se o lixo que concorre à Presidência da República pela extrema-direita vencer. Leia mais aqui.

Os protestos contra obras supostamente transgressoras em 2016 e 2017 foram apenas aperitivos. Depois surgiram manifestações que desprezavam a figura da vereadora carioca assassinada Marielle Franco (PSOL) – candidatos a deputado do PSL, partido nanico de aluguel que abriga o execrável que concorre pela extrema-direita, arrancaram e destruíram placas em homenagem a ela.

Claro que viria mais, com constantes e diárias ameaças a todos os direitos humanos e dos trabalhadores, bem como agressões e violência por parte das hordas de bárbaros do PSL, que causaram deliberadamente tumultos na avenida Paulista, em São Paulo, e na Praça São Salvador, no Rio de Janeiro, no último final de semana.

Os atores Julie Christie e Oskar Werner em cena do filme 'Fahrenheit 451', de François Truffaut, baseado na obra de Ray Bradbury (REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

A danificação de livros na UnB é só mais um sintoma do autoritarismo e de violência que remetem claramente á ascensão do nazismo na Alemanha, na década de 1930. Esse ando de animais está se sentindo seguro para avançar rumo à barbárie e à ditadura.

O problema nem é mais o candidato Jair Bolsonaro em si. É a horda em sua volta e o impacto que suas ideias nefastas na cabeça de descerebrados e ignorantes ansiosos por carta branca para impor o seu ódio e espestear o mundo com seus preconceitos.

Acha que o ataque na UnB foi pouco? Então leia o relato assustador da psicanalista Silvia Bellintani sobre terror que nos espera quando as trevas vierem – dois de seus pacientes, um jovem gay de 19 anos e uma menina feminista de 17 anos, relatam as ameaçam que sofreram, do tipo "quando Bolsonaro ganhar, você apanhar tanto até virar homem" ou "acham que é valente por gritar #elenão? Quando ele ganhar você vai ter realmente motivos de verdade para gritar". Clique aqui e leia o relato.

Não são poucos os lixos humanos que apoiam o candidato execrável que se sentem "autorizados" a "impor" a nova ordem, ganhem ou percam a eleição.

O eventual respaldo eleitoral robusto que poderão ter servirá como um salvo conduto para continuarem a ameaçar, depredar, destruir, violentar e espalhar ódio e preconceito.

E onde a música entra nesta questão? No fato de que hoje foram apenas capas rasgadas de livros supostamente de esquerda. Amanhã os mesmos livros sumirão ou serão queimados.

Em seguida, atores de teatro, dramaturgos e cineastas serão intimidados e, depois agredidos, assim como artistas plásticos e escritores. Músicos e roqueiros, principalmente? Estarão na fila em destaque.

Imagine que bacana esses dejetos humanos autoritários e violentos entrando na Galeria do Rock para quebrar CDs e DVDs de bandas como The Clash, Ratos de Porão, Garotos Podres, Inocentes e de outras bandas identificadas como de esquerda? Do jeito que são burros e ignorantes, não duvido queimarem o "Álbum Branco", dos Beatles, por conta da música "Back in the USSR"…

Lembram da queima de discos de vinil dos Beatles nos Estados Unidos depois que John Lennon afirmou que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo? Quer mais totalitarismo do que isso?

E pensar que muitos, mas muitos roqueiros, entre músicos e apreciadores, apoiam fortemente o tal candidato execrável – e que provavelmente aplaudirão quando CDs e DVDs de rock, nacional e internacional, forem queimados depois de lojistas terem sido espancados e, em algum lugar, músicos terem apanhado.

Esses roqueiros acham que vai parar por aí? Acham que estarão a salvo, junto com suas obras, da sanha insaciável de violência e autoritarismo desses seres inomináveis? Então aproveitem para estudar um pouquinho de história, especialmente do fascismo, do nazismo e da Alemanha. E leiam a obra do inglês George Orwell ("Os Bichos" e "1984"), de Ray Bradbury ("Fahrenheit 451", clique aqui para saber mais sobre o livro e o filme de François Truffaut, de 1966) e do alemão Bertolt Brecht.

Vai uma palhinha aí, com "Intertexto", de Brecht?

"Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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