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Kiss: mais do que uma banda, um verdadeiro estilo de vida

Combate Rock

30/09/2018 07h08

Roberto Capisano Filho *

kiss

Muito obrigado, Kiss!!!!!!!!!!!

Nos idos de 1982, eu era só um adolescente como outro qualquer. Casa, escola, jogar bola com os amigos, coisas triviais. Até o dia em que meu primo me mostrou alguns discos de uma certa banda, que simplesmente fez uma revolução na minha cabeça.

O visual dos caras era diferente de tudo o que eu havia visto e só isso já era razão suficiente para aguçar minha curiosidade. Foi começar a ouvir para ser completamente conquistado por aquela música.

A partir daquele momento, o Kiss me transportou para um mundo novo. Em pouquíssimo tempo, jogar futebol perdeu a graça. Eu queria era ouvir aquele som o dia todo! Eu queria tocar bateria! Eu queria ter cabelo comprido!

Nada de usar camisetas com alguma bobagem qualquer escrita; elas agora tinham o Kiss estampado! O Kiss abriu as portas do rock para mim. Conheci e passei a curtir outras bandas (mas nenhuma jamais se igualou ao Kiss, sempre no topo).

Fiz novos amigos que tinham o rock como o elemento a dar a liga entre todos. Eu deixei de ser o cara comum da escola, passei a ser o cara que curtia rock e o Kiss se transformara na trilha sonora da minha vida.

Mas aquele dia que jamais queríamos que chegasse está próximo. O Kiss vai parar. A banda vai se despedir dos palcos. Eles anunciaram na quarta-feira (19), no programa "America's Got Talent", que farão sua última turnê, chamada "End of the Road" e publicaram um comunicado em seu site.

Sim, nós fãs sabíamos que o fim estava perto; os sinais eram claros e vinham sendo dados há algum tempo, mas é difícil assimilar a aposentadoria do Kiss. A banda está na ativa desde 1973, ou seja, são 45 anos fazendo o melhor show de rock do mundo.

Nenhum grupo se compara ao Kiss ao vivo. A maquiagem, os trajes, as explosões, o palco, Gene Simmons cuspindo sangue e fogo, Paul Stanley sobrevoando a plateia, a bateria sendo elevada, foguetes saindo da guitarra, as músicas sensacionais…

Ver tudo na sua frente é uma experiência única. Mas isso vai acabar. Gene Simmons havia dito que não conseguiria encarar o palco por muito mais tempo, talvez uns dois ou três anos.

Segundo ele, a banda "tem o trabalho mais difícil do show business", referindo-se ao peso da roupa usada no palco, que ultrapassa os 10 quilos, e que não será capaz de fazer o que faz hoje após os 70 anos – ele está com 69. Muito mais fácil seria se eles se apresentassem de jeans e camiseta, mas isso é para os outros; o Kiss está muito além.

O maior indício de que o fim estava próximo foi quando a banda requereu, em fevereiro deste ano, o registro da frase "end of the road" (fim da estrada ou fim da linha, numa tradução livre). Ficou claro que estavam preparando o terreno para o anúncio feito na última quarta-feira. Mas será que eles vão parar mesmo?

Em 2000, o Kiss fez sua turnê de despedida, a "Farewell Tour", e continuaram como se nada fosse. Seria agora um blefe? Não parece. A situação é diferente. Em 2000, Simmons tinha 51 anos e Stanley, 48. Muita lenha para queimar.

Além disso, com a estabilização de Eric Singer e Tommy Thayer na banda na época, dois músicos mais novos (hoje com 60 e 57 anos, respectivamente), o Kiss ganhou fôlego e a possibilidade de tocar músicas de qualquer fase nos shows.

Porém, agora, além da idade pesar, a voz de Stanley teve uma piora sensível nos últimos anos. Gravar um novo álbum também parece fora de cogitação. Para Simmons, não vale a pena o trabalho de produzir material inédito para as músicas serem facilmente baixadas na internet e compartilhadas de forma indiscriminada.

Stanley também não se entusiasma muito com a ideia. Segundo ele, se houver a necessidade artística de fazer, tudo bem, mas não esconde sua frustração pelo fato de o público apenas tolerar material novo de qualquer banda clássica e nos shows as pessoas só demonstrarem interesse em ouvir as músicas consagradas.

Sem turnê, sem álbum novo, fim. Stanley e Simmons já disseram que a banda poderia continuar sem eles. Não, não pode. Ninguém pode assumir seus lugares. Eles são a alma da banda.

Para muitos fãs já é difícil aceitar Singer e Thayer com a maquiagem de Peter Criss e Ace Frehley; alguns nem aceitam. Sem os dois fundadores não seria mais Kiss. A nós fãs, resta agradecer pelos 45 anos de carreira.

Obrigado Ace Frehley, Peter Criss, Eric Carr (RIP), Vinnie Vincent, Mark St. John (RIP), Bruce Kulick, Eric Singer, Tommy Thayer e, principalmente, obrigado Paul Stanley e Gene Simmons, que mantiveram a mágica do Kiss viva nessas quatro décadas e meia.

Todo fã do Kiss sabe: esses caras não são apenas astros do rock, são nossos heróis e o Kiss é muito mais do que apenas uma banda.

* Roberto Capisano Filho é jornalista da Agência Sebrae-SP e um dos fundadores do Combate Rock. 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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