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Independente do resultado, 'ele' já é o maior vencedor das eleições

Combate Rock

20/09/2018 06h53

Marcelo Moreira

Ele já é o maior vencedor das eleições de 2018, seja qual for o resultado, seja qual o candidato que for eleito. A torcida de muita gente é para que a rejeição ao seu nome cresça exponencialmente a ponto de inviabilizar sua vitória no segundo turno contra qualquer adversário.

O que espanta e assusta, no entanto, é o contingente de eleitores que transformaram Jair Bolsonaro (PSL) em uma figura importante e fundamental para a política brasileira. Essa é a maior vitória que esse abominável candidato obteve em 2018.

Para muitos analistas, apesar de referido candidato estar em campanha há pelo menos dois anos, foi surpreendente que ele se tornasse uma opção política viável de vencer o pleito ou de arrebanhar apoio necessário para se tornar relevante, a ponto de influenciar as negociações do futuro governo federal sejam quem for o eleito.

Bolsonaro ganhou porque era um nada em todos os sentidos, irrelevante, um político boçal e desconhecido. De forma inacreditável, cresceu como candidato vomitando sandices, preconceitos, com uma diarreia verbal que ataca  direitos humanos e trabalhistas.

Elogiando a ditadura militar, a tortura e a violência contra a população mais pobre, a quem recorrentemente chama de bandidos, passou a ser idolatrado por gente autoritária e totalitária, mesmo só conseguindo a adesão de um candidato a vice-presidente dentro das Forças Armadas, uma pessoa tão chucra e irracional quanto ele.

O ex-capitão do Exército realmente achou que poderia ser ser eleito presidente. Provavelmente – e torçamos para que isso não aconteça – não será, mas não deixa de ser assustador que uma aberração política como Bolsonaro saia muito grande da próxima eleição, a ponto de se tornar uma força política relevante em 2019.

Se ele venceu, perdemos todos nós que combatemos o ódio e as ideias fascistas e autoritárias. Perde a sociedade que terá de conviver e ouvir de forma séria o que este cidadão e o que ele representa têm a dizer.

E, o que mais aterrador, é saber que eventuais vencedores terão de procurar – e pedir – o seu apoio em qualquer contenda ou debate político. Dependendo do tamanho do bolsonarismo após outubro de 2018, o "movimento" terá peso nas decisões e disputas políticas no Congresso Nacional e em diversas Assembleias Legislativas.

Suas ideias não morrerão em sua eventual (ou provável) derrota nas urnas. A misoginia, preconceito e o ódio ganharam muita força nesta campanha eleitoral e vieram para ficar. A política fisiológica não ficará alheia a esse crescimento e certamente não imporá limites éticos para angariar seu apoio.

Ao contrário de um político desconhecido, em um partido nanico, que foi eleito presidente em 1989 e virou pó três anos depois, ainda que siga assombrando o Congresso, Bolsonaro se tornou a personificação de um conjunto estapafúrdio de ideias, em uma triste paródia com a frase de Luiz Inácio Lula da Silva quando de sua prisão, em abril passado.

FOTO: REPRODUÇÃO/TWITTER

Com a abertura da caixa de maldades, o ex-capitão se tornou um ímã de ideias e propostas que passam pela restrição ou extinção de direitos, pelo combate por todos os meios de ideias divergentes (especialmente as de esquerda), pelo resgate de um passado tenebroso e criminoso associado à ditadura militar e pelo estabelecimento de "padrões" morais e de conduta que afetam diretamente as liberdades de expressão, de opinião e de imprensa.

A adesão, de certa forma, maciça ao conjunto malévolo de ideias ultraconservadoras, extremistas e fundamentalistas representadas na figura de Bolsonaro recolocou no jogo um espectro político há muito escanteado no Brasil.

O tamanho de tal influência ainda não é possível de ser medido, mas será suficientemente expressivo para angariar o poder de afetar a vida de todos.

Essa gente não vai vender barato o seu apoio e, com um grau enorme de certeza, terá a muito mais condições de impor a sua pauta conservadora e retrógrada do que jamais teve.

Se poder os bolsonaristas sofreriam com uma enorme dificuldade para governar, por conta de fortíssima oposição e falta de apoio parlamentar suficiente, fora dele a coisa se inverte: com força política muito maior do que imaginado após outubro de 2018, vão se tornar uma ala política bastante relevante e impossível de ser menosprezada.

Dependendo de seu peso e do oportunismo fisiológico de quem ganhar, certamente Bolsonaro e sua turma terão um poder que jamais sonharam, com chances reais de implantarem suas ideias obscurantistas.

Que não nos iludamos com os resultados das eleições: as coisas ficarão muito, mas muito mais difíceis em 2019 com as perspectivas de um governo de esquerda no poder sem maioria no Congresso e refém da fisiologia, da corrupção e de uma força conservadora reacionária e retrógrada jamais vista desde a redemocratização.

Neste ambiente de caos político e completa incerteza, o único fato concreto é de que Bolsonaro é o maior vencedor da eleição, independente do resultado e dos eleitos.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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