Nova caixa resgata a rápida trajetória do Buffalo Springfield
Marcelo Moreira
Eles eram mais pesados do que Beach Boys e The Byrds, mas não tão pesados quanto os Rolling Stones, The Who, Cream, Jimi Hendrix Experience e outros expoentes do rock inglês. Como se posicionar então em um mercado concorridíssimo como o do rock dos anos 60?
Essa dúvida assombrou a banda norte-americana Buffalo Springfield em seus parcos três anos de existência. "Éramos um vulcão prestes a explodir. Só que esperamos em vão a erupção, que só ocorreu depois, nos mais variados projetos", comentou certa vez o guitarrista Neil Young.
E ele tinha razão, a julgar pelos monstros do rock que surgiram a partir da dissolução do grupo – a carreira solo de Young e o supergrupo de folk rock Crosby, Stills, Nash & Young.
O Buffalo foi o melhor grupo americano subestimado de rock dos anos 60. Embora com um repertório extraordinário e com instrumentistas jovens e exímios, o sucesso não veio – não da forma gigante, como esperavam – e não aguentaram esperar. Houve brigas, houve tensões, mas nada que inviabilizasse a amizade futura entre eles.
O quinteto recebeu uma grande homenagem com o lançamento de uma brilhante caixa de CDs no mês passado. "What's That Sound? Complete Albums Collection (2018)", como o próprio nome diz, reúne os três LPs lançados originalmente.
A caixa conta com cinco CDs, segundo que o primeiro e o segundo álbuns aparecem em duas versões, em mono e em estéreo, com a ordem das músicas alterada. É mais um dos elementos que compõem o circuito de celebrações dos 50 anos do fim da banda.
Buffalo Springfield foi um conjunto tão singular que até hoje há certa confusão na forma de classificá-lo. Suas raízes estiveram no blues, mas o quinteto se transformou em uma sofisticada banda de pop rock.
Suas belas harmonias e seus temas bem elaborados, mas fora do padrão, mais pesados, os distanciavam dos concorrentes Byrds e Beach Boys, mas não foram suficientes para colocá-los no saco das bandas psicodélicas.
As letras inteligentes e as composições mais bem elaboradas chamara a atenção da crítica, que elegeu à época "For What's It's Worth", do segundo disco, "Buffalo Springfield Again", como uma das grandes canções da década. Só que alinda faltava o apelo mais pop. Por que eles não chegaram a esse estágio?
A resposta veio da mesma Califórnia onde a banda surgiu: The Doors. O quarteto liderado pelo cantor Jim Morrison tinha aquilo que o combo de Young e Stephen Stills não tinha: a malícia e visceralidade do blues sacana de boteco, misturada com algumas letras cabeçudas do vocalista e outras ordinariamente simples, como a de "Light My Fire", do guitarrista Robbie Krieger.
E então o folk bem arranjado e com interpretações candentes e honestas do Buffalo foi atropelado pelo blues psicodélico dos Doors e também da novata Big Brother Holding Company, da estreça em ascensão Janis Joplin.
Quem diria que, após a separação, o folk rock sofisticado e bem arranjado viraria moda alguns anos depois, dos dois lados do Atlântico?
Essa coleção de álbuns completos tem a pretensão de tenta restaurar a discografia de como ela foi concebida para ser ouvida em seu lançamento original.
Seja em sua versão em vinil ou em CD, ele oferece versões estéreo e mono de "Buffalo Springfield", de 1966, e "Buffalo Springfield Again", de 1967, junto com a versão estéreo de "Last Time Around", de 1968.
Neil Young supervisionou a remasterização, então o que se tem é um áudio de primeiríssima qualidade. Cinquenta anos depois, quem sabe seja possível ao Buffalo Springfield receber, com pompa e circunstância, alguns dos louros que lhe foram recusados no auge de sua curta trajetória.
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