Midnight Oil e The Cure ganham 'superexposição' em celebração de 40 anos
Marcelo Moreira
Duas bandas que comemoram os 40 anos de seus primeiros lançamentos se tornaram as queridinhas das duas rádios que ainda restam que tocam rock em São Paulo. Infelizmente, são duas emissoras de rádio que apostam firmemente na celebração do passado – e só do passado.
Os ingleses do The Cure e os australianos do Midnight Oil lançaram suas estreias em vinil em 1978 sem saber muito o que fazer e qual praia seguir.
Os ingleses ainda rescendiam os odores do fim do punk rock e logo cairiam de cabeça naquilo que veio a se tornar a new wave, encabeçando um movimento que teve Siouxsie and the Banshees, Depeche Mode, Duran Duran e milhões de outras bandas.
Já os australianos surgiram em uma época em o país tinha muitas bandas de rock, mas que estava intimamente associada aos Bee Gees. Só mais tarde é que os gigantes do AC/DC se tornariam o maior produto de exportação da Austrália, seguidos bem de longe pelo INXS.
Robert Smith, guitarrista, vocalista e líder do Cure, é a própria personificação da banda. Impregnou o Cure com os traços mais marcantes de sua personalidade e conseguiu compor algumas das mais pungentes e melancólicas do rock inglês oitentista. Alguns jornalistas o consideram, ao lado de Paul Weller, o melhor cronista da música britânica de sua geração, comparando-o ao gênio Ray Davies, dos Kinks.
Ao lado do guitarrista Porl Thompson (que era tão bom que anos depois acompanharia as duas turnês de retorno da dupla Page & Plant, ex-integrantes do Led Zeppelin), Smith procurou luz nas trevas ao mergulhar em sua alma sombria. Melodista de mão cheia, criou canções simples, mas certeiras, como "Boys Don't Cry", "In Between Days", "Friday, I'm in Love" e "A Forest".
A relevância se foi há muito tempo, mas The Cure ainda desperta um saudosismo positivo, já que se tornou um dos símbolos da new wave dos anos 80. Certamente, foi a banda mais bem-sucedida daquela leva em termos criativos, embora ainda perca em vendas para os indestrutíveis Duran Duran.
O Midnight Oil tem uma semelhança muito grande com o Cure. Assim como a banda inglesa, o grupo australiano é profundamente identificado com o vocalista e líder.
Peter Garrett, um gigante gentil de dois metros de altura, ambientalista até a medula, transformou a banda em uma arma poderosa de luta pelos direitos humanos e pela preservação do meio ambiente.
Se os ingleses surgiram no epicentro do furacão punk, o Midnight Oil bebeu muito de suas influências no hard rock setentista australiano, a mesma cena que projetou o AC/DC.
E tome doses de Rose Tattoo e Cold Chiesel, ecos que podem ser observados principalmente nos arranjos sólidos de guitarra e na sonoridade bluesy, mas tudo orientado para o pop.
E assim cometeu pérolas como "Beds of Burning", "Blue Sky Mine", "Dead Heart", "Forgotten Years" e mais uma penca de sucessos.
O grupo deu uma descansada nos anos 2000 para que Garrett se aventurasse na política, chegando a ocupar uma cadeira no Senado australiano defendendo pautas ambientalistas. Desiludido com os obstáculos encontrados e alvo de ataques e acusações diversas, voltou à música anos depois.
Não é coincidência que as duas bandas tenham virado queridinhas das duas rádios roqueiras paulistanas no ano em que comemoram quatro décadas de suas estreias em vinil.
Não que não mereçam tal "celebração". O problema é a massificação e execução exaustiva de suas músicas – as mesmas três, de cada banda.
Numa delas, o Midnight Oil teve tocadas quatro músicas em um mesmo dia, nos três períodos. Será que não existem outras bandas no mundo para que possam ser apreciadas?
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