A suprema arte burra de julgar o todo por uma ínfima parte
Marcelo Moreira
À primeira vista, algo que parece ser quase nunca é, principalmente em um tempo onde pessoas se recusam a pesquisar, ler e entender. Tudo tem viés político e moral para muita gente, quando não para a maioria.
Recentemente publicamos neste Combate Rock um texto sobre o lançamento do álbum "O Som e a Cura", da banda paulistana PAD, que é formada por veteranos músicos. É rock nacional, cantado em português e que frequentemente cai para o hard rock. É boa música, de qualidade.
Uma das músicas do álbum é "Eu Sou o Cara", uma homenagem aos soldados e oficiais do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar de São Paulo que atuam sobretudo em casos de acidentes ou tragédias. A letra da música é explícita: fala do trabalho dos homens que têm como missão salvar vidas.
Só que o "ouvi dizer" está se tornando mais importante do que os fatos verdadeiros. Duas pessoas que não se conhecem, uma delas conhecida minha, decidiram criticar o Combate Rock por publicar texto que "louva" a violenta Polícia Militar paulista.
Uma delas foi além e disse que era um absurdo dar espaço para pessoas com "pensamento reacionário" e defendem a "pancada contra pobres".
Não continuei o diálogo por pura preguiça e falta de paciência. Essa pessoa provavelmente se referia ao guitarrista Marcos Kleine, um dos fundadores do PAD e que também toca com o Ultraje a Rigor, liderado pelo guitarrista e cantor Roger Rocha Moreira, conhecido por suas críticas pesadas à esquerda e ao PT e por suas posições conservadoras.
Nas redes sociais Kleine já se manifestou, em alguns assuntos, de forma convergente com o pensamento do amigo Roger.
Por conta de associações estapafúrdias e superficiais, essas pessoas, sem ouvir a música "Eu Sou o Cara" e com base nas palavras pretéritas de seus integrantes, jogaram no mesmo balde a banda e o Combate Rock: fazemos a apologia da PM violenta. Puro achismo e "ouvi dizer".
A posição política de músicos e integrantes da cena de entretenimento brasileira é o que menos nos interessa – não é crime ser de direita ou de esquerda, por mais que isso possa nos desagradar. Apologia ao crime e à violência? Em que mundo essa gente vive?
O clipe de "Eu Sou o Cara" será lançado nos próximos dias. Entremeando imagens da banda tocando a música estão depoimentos de bombeiros e PMs narrando episódios importantes de suas carreiras em que atuaram para salvar vidas.
Ninguém contou causos sobre tiroteios ou perseguições. Os relatos narram como conseguiram tirar pessoas de incêndios e desmoronamentos em situações arriscadíssimas; como ressuscitaram crianças e pessoas que estavam morrendo; como evitaram que tragédias naturais ou acidentes causassem mortes; como várias ações preventivas de fiscalização contribuíram para evitar acidentes graves.
Essa é a apologia à violência que fizemos? Que a banda fez? Os integrantes do PAD não economizam elogios aos homens que consideram heróis pelo trabalho valoroso e perigoso que fazem.
A música "Eu Sou o Cara" é uma exaltação à coragem de quem enfrenta o perigo em trabalhos arriscados para salvar vidas, seja usando a farda de bombeiro ou de PM. Não há qualquer alusão à situações de enfrentamento com bandidos ou a tiroteios.
Os policiais sabem muito bem como a corporação tem uma imagem ruim por conta da conduta violenta na maioria das operações de confronto em que se envolvem. São inúmeras as denúncias de violência policial em São Paulo. A banda PAD não ignora isso.
Por outro lado, teve a coragem de mostrar que existe um outro lado no trabalho das forças de segurança. Dentro da mesma corporação há integrantes que devem ser repudiados por sua conduta violenta e até mesmo por sua associação a práticas criminosas. Mas também há muita gente que se esforça para manter as pessoas vivas. E muito provavelmente será um destes que vai te ajudar, em algum momento, quando ocorrer um grave acidente de carro ou em qualquer outra situação de emergência.
"Eu Sou o Cara", que nem é um dos destaques do álbum "O Som e a Cura", é uma elegia aqueles que trabalham muito para salvar vidas. Faz a apologia de quem pratica atos heroicos todos os dias, ainda que o estigma que pesa sobre as polícias e o aparato de segurança sejam enormes.
Não ignoramos os inúmeros defeitos de procedimentos e conduta das polícias na chamada "guerra contra os bandidos". Entretanto, confundir esses problemas o trabalho necessário e competente que a mesma corporação executa no salvamento e na prevenção de acidentes não só é ignorância: é uma profunda má fé e desonestidade intelectual.
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