Rock gaúcho ao vivo: Cachorro Grande faz festa, e Gessinger surpreende
Marcelo Moreira
Ainda é pouco difícil ver o guitarrista Marcelo Gross no palco com o Cachorro Grande em vídeo. "Clássicos", CD e DVD ao vivo da banda gaúcha, chega ao mercado com o instrumentista mostrando a sua versatilidade e seu feeling absurdo de rock clássico sessentista. São as últimas imagens dele com Cachorro Grande.
Isso aumenta a importância do mais recente lançamento do quinteto, que demitiu Grosso há dois meses. Apesar do anticlímax por conta dos episódios ocorridos após a gravação do show, o cantor Beto Bruno dá uma aula de bom humor e rege a festa das boas, o que é não é surpresa.
O que pode surpreender neste ano de 2018, no entanto, é a energia que Humberto Gessinger imprime em seu novo DVD, "Ao Vivo Pra Caramba – A Revolta Dos Dândis 30 Anos".
Para quem estava acostumado ao esquema de megahits dos Engenheiros do Hawaii, aparentemente em hibernação permanente e definitiva, temos um artista experiente e voluntarioso, ansioso por expandir alguns limites que normalmente o rótulo de "rock brasil" impõe.
A festa do Cachorro Grande é previsível, e isso está longe de ser um defeito. Reúne os principais hits gravados nos dias 23 e 34 de junho de 2017 no Centro Cultural Rio Verde em São Paulo (SP).
A experiência aqui é um diferencial, onde o som está mais definido e a direção musical, mas aberta. A saída de Gross já sinaliza mudanças na direção musical, mas ainda é possível curtir o frescor das canções antigas com arranjos mais crus e pesados.
O som da guitarra ainda predomina, e músicas bacanas como "As Próximas Horas Serão Muito Boas" e "Como Era Bom" surgem mais aceleradas.
"Conflitos Existenciais" ganha contornos mais ácidos com a lisérgica guitarra de Gross e a interpretação irônica de Beto Brino, enquanto que "Dia Perfeito" ressurge mais pesada e mais roqueira, assim como a emblemática "Roda Gigante".
A banda marca um golaço quando chamou ao palco o amigo Samuel Rosa, guitarrista e vocalista do Skank, para fazer um dueto com Beto Bruno na ótima balada "Sinceramente", uma das grandes pérolas do catálogo do grupo e que é de autoria de Marcelo Gross.
"Clássicos" é um lançamento importante dentro da carreira do grupo e mesmo do rock nacional atual porque deve marcar mudanças importantes no Cachorro Grande.
Os flertes cada vez mais frequentes com a música eletrônica e arranjos mais modernos dos dois últimos álbuns certamente indicam um novo direcionamento musical.
A festa foi bem conduzida e provavelmente agradará quem curte música pop bem feita com guitarras legais e arranjos simples e bem elaborados.
Humberto Gessinger fez uma aposta mais ousada ao revisitar o repertório do icônico álbum "A Revolta dos Dândis", lançado em 1987. Com os Engenheiros do Hawaii, o álbum fez muito sucesso, especialmente com as faixas "Infinita Highway" e "Terra de Gigantes".
Gravado durante a turnê solo do baixista, guitarrista e cantor que celebrava os 30 anos do álbum, o pacote CD/DVD mostra Gessinger e sua banda afiados e um pouco mais pesados, ainda que isso não fira as suscetibilidades dos puristas.
Guitarras e baixos estão mais altos, reforçando timbres de músicas que tinham pegada mais pop. A produção é de alta qualidade, ressaltando sonoridades modernas e deixando o som da banda mais orgânico e atual.
Além do guitarrista Felipe Rotta (também no violão e no bandolim) e do baterista Rafael Bisogno, uma surpresa é a presença do ex-colega de Engenheiros Carlos Maltz, que tocou no álbum 30 anos atrás. Ele está na faixa "Filmes de Guerra, Canções de Amor" tocando címbales.
A parte do álbum celebrado é cativante e mostra uma banda relaxada (no bom sentido), senhora do palco e com o público na mão.
Se os Engenheiros do Hawaii era criticados, quase sempre sem fundamento, por fazer um show estático e sem muita variação ou energia fora do Rio Grande do Sul, eis que Gessinger enterra definitivamente essa "visão" ou "impressão".
Os desafetos provavelmente não mudarão de opinião, tachando o som da banda de afetado e autoindulgente. Nada deverá mudar em relação a estre lançamento.
Entretanto, o fígado não pode dominar a observação do óbvio: é um show de rock muito bom, com músicas interessantes e outras nem tanto.
Claro que Gessinger não acerta todas, mas acerta tanto quanto os outros medalhões do rock que estão aí há 30 anos -e talvez a melhor comparação seja com o Ira! e seu projeto Ira! Folk, uma reinvenção da banda paulista de extremo sucesso. Edgar Scandurra e Nasi não acertam todas. Mas quem acerta?
Além das 10 músicas do álbum "A Revolta dos Dândis", o DVD traz quatro gravações feitas em teatro vazio, como se fosse em estúdio, de quatro canções inéditas em álbuns de Humberto Gessinger, mas lançadas como singles desde 2017.
São elas as músicas "Pra Caramba" (Humberto Gessinger), "Cadê?" (Humberto Gessinger e Nando Peters), "Das Tripas Coração" (Humberto Gessinger) e Saudade zero (Humberto Gessinger e Nando Peters), além de outras três de sua carreira solo.
Gessinger surpreende porque fugiu do óbvio e revitalizou músicas que marcaram uma época importante do rock gaúcho e do rock nacional. Envelheceu bem, assim como seu som ao vivo.
<P
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