Imenso, profundo e sutil: Glenn Hughes deixa SP maravilhada
Paulo Martins Silva – especial para o Combate Rock
Meio século atrás, um rapazinho cabeludo e magricela tentava a todo custo levar sua banda amadora ao final dos shows em lugares infectos e asquerosos na região do Black Country.
Estava para completar 17 anos e adorava futebol, mas odiava tocar após os jogos do Aston Villa e do Birmingham City. Bêbados não costumam gostar de rock e som alto, mas lá foi o magricela suportar toda a sorte de grosserias e falta de respeito. Foi assim, até que o seu Trapeze engrenasse e, em seguida, o catapultasse ao Deep Purple.
Em rápida conversa com os fãs, no meet and greet (encontro com fãs) antes do show em São Paulo, no Tropical Butantã, no dia 21 de abril, o vocalista e baixista inglês Glenn Hughes jamais poderia imaginar que, 50 anos depois, seria considerado um astro do rock e ovacionado em uma terra distante que ele aprendeu a amar muito rápido.
A miniturnê brasileira do ex-integrante do Deep Purple foi um sucesso absoluto por onde passou, lotando casas em Brasília e Belo Horizonte. São Paulo, no entanto, é a sua cidade por excelência na América Latina e ele não cansou de dizer isso em sua passagem pela capital paulista e no palco.
A nova turnê causou certa desconfiança em alguns fãs, meio que inconformados por ele estar repetindo o que fez David Coverdale e seu Whitesnake recentemente: gravar e fazer shows só tocando músicas de sua época no Deep Purple – ambos integraram a "Mark III", a terceira formação, que durou de 1974 a 1976.
Pura bobagem. Como disse recentemente Joe Lynn Turner, outro ex-Deep Purple, ao cantor brasileiro Edu Falaschi, "não é vergonha nenhuma cantar músicas das bandas em que toquei. Não é demérito, afinal, são minhas músicas também".
Portanto, Hughes acertou em cheio ao reinterpretar os clássicos de sua passagem pelo Deep Purple. E tome paulada atrás de paulada. "Might Just Take Your Life" é maravilhosa ao vivo, "You Fool No One" mágica e resgatou um pouquinho a aura incrível daquele maravilhoso California Jam 1974, festival que praticamente apresentou a nova formação da banda ao mundo.
E teve ainda muito mais. "Mistreated" ganha muito mais dramaticidade e emoção com Hughes, ainda que a versão original com David Coverdale seja estupenda.
"Holy Man" é uma delicada balada soul que arranca lágrimas de qualquer sessentão, assim como "You Keep on Movin"' e "This Time Around".
Sobrou espaço ainda para os megahits "Highway Star" e "Smoke on the Water", ambas originalmente cantadas e gravadas por Ian Gillan. Foram aperitivos extraordinários para o terremoto que veio com "Burn".
Praticamente nada do repertório era novidade, já que Glenn Hughes tocou todas as músicas ao longo de sua vida, e todas mesmo no Brasil, onde costuma vir com frequência.
Só que tudo era maravilhosamente diferente, soava fresco, energético, com o senhor de 66 anos mostrando um vigor invejável e uma voz cristalina, imensa, poderosa, gigante, inenarrável.
Foi um final de semana cheio, com Noturnall e James La Brie no Manifesto Bar no mesmo horário, assim como a Plebe Rude no Sesc e o intragável Radiohead no dia seguinte. Desculpem-me, mas não teve para ninguém. Glenn Hughes colocou todos no bolso.
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