A saga dos irmãos que criaram o AC/DC
Marcelo Moreira
Aparentemente não há mais nada a falar sobre a história do AC/DC, segundo senso comum entre os especialistas e os fãs da banda. Mas um jornalista inglês radicado na Austrália e apaixonado pelo quinteto decidiu que ainda é possível surpreender ao remexer no baú de segredos do monstruoso grupo australiano.
"Os Youngs – Os Irmãos que Criaram o AC/DC", de Jesse Fink, editado no Brasil pela Editora Gutenberg em 2015, é um livro que merece atenção por sua abordagem interessante, a partir da relação dos três irmãos – sim são três os Youngs, os guitarristas Malcolm e Angus e o irmão mais velho, George, ex-integrante dos EasyBeats e mentor, empresário e produtor do AC/DC por muitos anos.
Não é um texto fácil, a começar por uma precária contextualização. Fink, de 42 anos, parte do pressuposto de que o leitor conhece a história da banda e já leu outros livros sobre o assunto – citados e frequentemente criticados, com a deselegância de ter erros apontados com certa zombaria e gozação.
Na investigação dos motivos que levaram ao sucesso dos irmãos em construir uma máquina de fazer dinheiro, de riffs certeiros e clássicos do rock, o autor passeia por alguns fatos pouco abordados na trajetória do quinteto e procura explicações na entrelinhas, nos contratos e nas relações conturbadas com empresários, produtores e gravadoras.
O resultado nem sempre é satisfatório, pois a obra é complexa e tortuosa. Fink frequentemente desvia dos assuntos principais, às vezes se perdendo em declarações extensas de personagens marginais desprezados pelas biografias tradicionais sobre assuntos específicos.
No entanto, mesmo com esses problemas, especialmente de foco, o livro avança em várias questões, mostrando um retrato ácido, mas bem mais perto da verdade, a respeito de como funciona o "clã" Young, suas idiossincrasias e seu modo de operação, fechado a quem não é do grupo e abandonando com frequência antigos amigos e colaboradores sem motivos claros.
As virtudes são realçadas, como o talento musical, a ética profissional de trabalho duro e a busca pela qualidade extrema, além do estabelecimento de objetivos claros e foco musical sem desvios.
O jornalista fã, entretanto, não alivia em relação ao comportamento para muitos questionável – desprezo à lealdade, volatilidade, apego a questiúnculas que geralmente redundam em rompimentos de relacionamentos e contratos, teimosia extrema em alguns casos e nenhum reconhecimento ao trabalho de colaboradores.
O grande trunfo do trabalho de Fink é explicar detalhada e didaticamente os bastidores de estúdio e de administração de um gigantes do rock como o AC/DC e tentar elucidar, de alguma forma, como as atitudes e os relacionamentos com produtores, advogados, donos de gravadores e empresários foram cruciais para o crescimento absurdo do AC/DC, mesmo com a tragédia da morte de Bon Scott, em 1980.
Uma das conclusões, já presentes em outras obras, é a de que os Youngs não são brulhantes apenas musicalmente, mas também nos negócios – são empresários astutos, duros na queda e altamente perspicazes.
O livro de Fink é um avanço dentro dos textos que abordam música e carreira de artistas, mostrando que é possível encontrar abordagens diferentes mesmo em relação a astros exaustivamente dissecados – "A Batalha pela Alma dos Beatles", de Peter Doggett, editado no Brasil pela editora Nossa Cultura, é o principal exemplo disso.
Ainda nesta quinta-feira publicaremos um texto com informações a respeito de outras três obras sobre o AC/DC publicadas no Brasil e que são mencionadas por Jesse Fink.
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