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Deep Purple faz show digno em São Paulo e mostra a sua relevância

Combate Rock

20/12/2017 06h53

Flávio Leonel – do site Roque Reverso

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O Deep Purple voltou a São Paulo na quarta-feira, 13 de dezembro, para realizar uma grande apresentação no festival Solid Rock. Numa Arena do Palmeiras com um público bem longe de ameaçar a lotação máxima, a banda britânica fez um show digno e mostrou a todos o motivo de ser tão importante para a história do rock.

A apresentação fez parte da turnê de despedida do Purple. Intitulada "The Long Goodbye Tour", ela também marca a turnê de divulgação do novo disco do grupo, "Infinite", lançado em janeiro de 2017.

Além da lendária banda britânica, o Solid Rock contou com mais dois grupos norte-americanos: o Tesla e o Cheap Trick, que substituiu bem outra banda clássica, o Lynyrd Skynyrd, que precisou anunciar em novembro o cancelamento da participação do festival por causa de problemas sérios de saúde da filha de um dos integrantes.

Uma quarta-feira em pleno período de agitação da cidade de São Paulo no mês natalino, preços salgados dos ingressos, o desfalque do Lynyrd Skynyrd e a enxurrada de shows que invadiram a capital paulista no último trimestre do ano estão entre as possíveis explicações para o Allianz Parque não ter lotado.

Havia também quase de uma forma generalizada certa desconfiança sobre a performance do respeitadíssimo vocalista Ian Gillan. A despeito de ser uma das maiores vozes da história do rock, ele chegou a preocupar os fãs nas mais recentes passagens do Purple pelo Brasil, já que havia ficado claro o esforço além do normal para conseguir cantar algumas notas mais difíceis.

A desconfiança de muitos com a possibilidade de a banda lotar o Allianz Parque era vista até pelos poucos exemplos do grupo em estádios em terras tupiniquins. Dentre as várias vindas do Purple ao Brasil (a banda, talvez, só perca para o recordista Megadeth nas visitas ao País por grupos estrangeiros de rock), o conjunto britânico tocou muito mais vezes em locais pequenos do que em espaços grandes. Em São Paulo, por exemplo, o Deep Purple tocou em estádios apenas em 2003 no Kaiser Music Festival, que, na ocasião, contou também com o Sepultura e com a banda sueca The Hellacopters.

A despeito desta lista de fatores e motivos, estava ali na Arena do Palmeiras um dos maiores nomes da história do rock, o legítimo representante da trinca sagrada completada pelo Led Zeppelin e pelo Black Sabbath. Para muitos, este era o fator decisivo para não perder a banda que gravou ultraclássicos, como os álbuns "Machine Head" e "Burn", ainda mais numa turnê de despedida.

O show

Incrivelmente pontual, o Deep Purple iniciou o show às 22 horas. Com efeitos interessantes num telão central enorme raro em apresentações do grupo pelo Brasil, os britânicos começaram logo de cara com o petardo "Highway Star".

Sim, era um prazer, por mais que muitos do público já tivessem visto o Purple quatro, cinco ou mais vezes tocando, estar de frente para uma lenda do rock n' roll.

Da formação clássica, além de Gillan, simplesmente uma das maiores cozinhas do rock: o grande baixista Roger Glover e o excelente baterista Ian Paice. Para completar, dois membros mais "recentes" e já bem conhecidos do público: o espetacular guitarrista Steve Morse, que continua ocupando dignamente o posto que já foi de Ritchie Blackmore, e o ótimo tecladista Don Airey, que tem sempre a difícil missão de substituir o saudoso Jon Lord.

A guitarra de Morse não apenas seguiu os solos imortalizados por Blackmore como também fez os tradicionais duetos com a voz de Gillan. Aos 72 anos, o vocalista pareceu bem melhor do que os shows recentes do Pulple pelo Brasil, afastando os temores de muitos ali presentes.

"Pictures of Home" deu sequência ao show. É daquelas músicas que mostram algumas das maiores qualidades do Purple. Além da cadência marcante da faixa, há ali o momento perfeito para analisar a qualidade indiscutível dos músicos, que botam no bolso inúmeras grupos mais novos.

Após a faixa "Bloodsucker", que não faz parte de álbum clássico como as anteriores do "Machine Head" (é do disco "Abandon"), foi a vez de "Strange Kind of Woman" retomar o cenário de hits históricos. Com efeitos bem interessantes no telão central e com os músicos dando um show musical à parte, o Purple tinha o público na mão.

Vale dizer que, a despeito do som estar ótimo na Pista Vip e na Pista Comum, houve reclamações intensas de quem esteve na Cadeira Inferior e, principalmente na Superior. Já famoso por abrigar alguns dos shows de rock mais importantes do momento, o Allianz Parque raramente tem tido críticas neste quesito, o que dá a entender que houve algo de errado entre os técnicos para adaptação à acústica do local.

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"Uncommon Man", do disco anterior "Now What?!", veio em seguida e foi dedicada a Jon Lord. Com grande respeito, Ian Gilan lembrou do companheiro não apenas no anúncio da canção, mas também com gestos que fazia em direção ao céu.

A próxima música do show foi o clássico "Lazy". Mas antes dela, o Purple trouxe momentos incríveis só com a parte instrumental. Primeiro, Don Airey esboçou um solo nos teclados. Depois, ele, Morse, Glover e Paice deram um show particular de improviso.

Já durante "Lazy" e com Gillan nos vocais, o grupo ampliou a aula de música. Era "só" o Deep Purple que estava ali, com senhores de idade já avançada mostrando uma qualidade e entrosamento que poucas bandas possuem hoje em dia.

"Birds of Prey" foi a música representante do novo álbum no show em São Paulo. A despeito de o grupo ter no disco faixas ótimas, como "Time for Bedlam", optou apenas por uma faixa do novo trabalho.

De volta aos clássicos, o Purple trouxe "Knocking at Your Back Door", que veio menos empolgante que em outras ocasiões. Com uma introdução de teclados menos marcante do que em outros shows e mais lenta do que o normal, a música veio menos impactante.

Don Airey parece ter deixado seu arsenal para o solo de teclado. Com direito a trechos de "Tico Tico no Fubá" e "Aquarela do Brasil", além de efeitos especiais, ele manteve a tradição de qualidade, preparando o terreno para o ultraclássico "Perfect Strangers".

Com sua estrutura altamente empolgante, a música fez o público cantar junto e provocar coros que ficaram muitos bons com a acústica da Arena do Palmeiras.

As tradicionais "Space Truckin'" e "Smoke on the Water" vieram na sequência para encerrar a primeira parte do show. Enquanto a primeira trouxe o Purple pesado e contagiante, a segunda é daquelas que faz o público ter a certeza absoluta de estar vivendo um grande momento do rock. Pode, sim, ser um dos clássicos mais manjados do estilo, mas é sempre um momento marcante.

Depois de uma breve pausa para um leve descanso, o Purple retornou para o bis com nada menos que "Hush" e "Black Night".

A primeira trouxe novamente o grupo dando seu show instrumental à parte e também gerou momentos nos quais pessoas simplesmente dançavam, curtindo o rock como deve ser.

A segunda, por sua vez, trouxe Roger Glover numa introdução mais extensa de baixo e um coro do público de dar inveja. O Allianz Parque podia não estar lotado, mas, a acústica do local fez parecer que estivesse, tamanha a empolgação do público, que cantou o famoso trecho a plenos pulmões.

Chegava ao fim mais um show do Deep Purple em São Paulo. Se tudo for confirmado como prometido pela banda, esta foi a última passagem pela capital paulista e, felizmente, foi em grande estilo.

O Purple pode não ser o mesmo da década de 70. Não é o mesmo nem em relação ao grupo dos Anos 90. Mas continua sendo um legítimo representante dos grandes do rock. Quem esteve na Arena do Palmeiras teve certeza disso é sabe que é um felizardo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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