Guns N' Roses redimido e Alice Cooper brilhando encerram maratona de rock
Marcelo Moreira
A primeira impressão quase sempre é a que fica, e a do Guns N' Roses no Rock in Rio não foi boa, mas eis que há um São Paulo Trip para uma redenção inesperada. E a banda foi bem, tocou bem e Axl Rose cantou melhor. Sorte dos paulistas.
Foram mais de três de horas de show, um padrão costumeiro que o grupo tem adotado desde que houve a reunião com Slash e Duff McKagan, da formação clássica. E desta vez a coisa fluiu melhor.
A banda parece bem entrosada, até mesmo nos momentos em que há a possibilidade de improvisações e nos duelos entre os músicos. Se a voz desgastada do desgastado Axl Rose não é a mesma faz muito tempo, no Allianz Parque o cantor teve uma performance bem superior àquela do Rio – mas não que tenha sido um assombro.
Não dá para dizer que foi uma vingança. Mas certamente houve o componente de que era necessário virar o jogo no encerramento do São Paulo Trip. E o Guns conseguiu.
Axl Rose teve dificuldades em alguns momentos, como em "Live and Let Die", de Paul McCartney, ou em "Coma", mas mandou bem nas clássicas "Sweet Child O'Mine" e "Paradise City".
Em algumas músicas a impressão é de que o vocalista se poupou, ou ao menos evitou excessos. Fez bem. Se havia falta de fôlego, houve inteligência e experiência suficiente para evitar no novo fiasco, como o do Rio de Janeiro.
Já Slash estava mais solto, como se fosse um alívio ter de volta o companheiro em forma. Seus solos foram precisos e intensos e sua performance foi mais vigorosa.
Ainda que o Allianz Parque seja um ambiente mais adequado para esse tipo de show, é inegável que as diferenças entre as duas apresentações são muitas. E a banda foi consciente em perceber as circunstâncias que as cercaram. Neste caso, a segunda impressão é a que deve ficar – ainda bem.
Alice Cooper encanta
Alheio às polêmicas da atração principal, Alice Cooper não se importou em ser coadjuvante, mesmo sendo muito melhor e mais relevante para o rock do que Guns N' Roses, ainda mais este numa fase de recuperação e reerguimento.
Em uma apresentação excelente, brindou o público com o seu horror show e arrancou elogios gerais. Provavelmente a maior parte do público presente ao Allianz Parque, ansioso pela atração principal, desconhecia um dos maiores astros do rock dos anos 70 e 80.
O show teve rock dos bons, teatro e muita canastrice – e isso foi bem bacana. Nada de novo foi apresentado, mas tudo, como sempre, muito legal quando se trata de Alice Cooper. Sangue, fumaça, decapitação, bonecos cênicos e uma interpretação formidável.
Musicalmente, o show não tem como dar errado. A penca de clássicos dá suporte ao cenário teatral – "Billion Dollar Babies", "Under My Wheel", "School's Out" com seu complemento perfeito, "Anothwer Brick in the Wall", do Pink Floyd… faltou só a versão curtinha de "My Generation", do Who, que Alice costumava executar no fim do show.
"Poison" e "Only Women Bleed" ressaltaram o poder da boa guitarrista Nita Strauss, que deu um peso extra para muitas das canções que na origem são puro rock'n'roll.
No fim das contas, Alice Cooper fez um show melhor e mais agradável do que o do Guns N' Roses. Só que, assim como ocorreu com outras bandas de abertura do São Paulo Trip, como The Cult e Def Leppard, o mestre de horror rock sofreu um pouco com o desinteresse de parte expressiva do público, impaciente para ver a atração principal. Faz parte, mas que é desagradável, não há dúvidas.
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