Aerosmith e Def Leppard, voltem sempre!
Roberto Capisano Filho*
Uma banda faz show no Brasil com frequência. A outra teve sua ausência muito sentida em 1985, na primeira edição do Rock in Rio (retornou na década de 90, mas mal divulgada, a apresentação teve público pífio; nem conta).
Independentemente do histórico por estas terras, Aerosmith e Def Leppard deram seus recados com toda a autoridade nos shows realizados no último domingo, no São Paulo Trip.
O Def Leppard pôde, enfim, mostrar ao vivo à plateia verde-amarela a razão de estar na estrada há cerca de 40 anos e manter-se em alta. Um show com Pour Some Sugar on Me, Photograph, Hysteria, Animal, Rock of Ages, Let's Go (primeira da noite), só para citar algumas músicas do setlist tocado no Allianz Parque, justificam o ingresso.
A banda demonstra extrema competência técnica e uma presença de palco inquestionável. Cada integrante sabe se colocar à sua maneira, ocupar seu espaço e impor sua personalidade. Os pontos fortes do Def Leppard sempre foram as melodias marcantes, composições de qualidade e muito bem executadas.
Isso tudo estava lá, em cerca de uma hora de show com hit seguido de hit. Todos aqueles backing vocals característicos que ouvimos nas gravações foram reproduzidos no palco. Difícil ficar indiferente.
Falando na reação do público, foi interessante ver os aplausos enfáticos dedicados ao baterista Rick Allen após seu momento de destaque na noite. A sensação foi de que finalmente o brasileiro pôde lhe dizer pessoalmente: "Parabéns, Rick, por sua força de vontade e superação; você é um exemplo".
Allen sofreu um acidente de carro no final de 1984 e teve seu braço esquerdo amputado. Com muita perseverança conseguiu voltar a tocar usando uma bateria adaptada àquela que passaria a ser sua nova realidade.
O saldo foi um ótimo show, que poderia até ser mais longo dada a quantidade de músicas que poderiam entrar no setlist, e a dúvida: por que o Def Leppard demorou tanto para voltar?
Com o Aerosmith a cena é outra: mal entram no palco, a plateia é tomada de total euforia. Steven Tyler, Joe Perry e companhia começam rasgando com "Let the Music Do the Talking". Tyler é um monstro no palco e deixa claro porque é um dos maiores frontmen do rock de todos os tempos.
Aos 69 anos mostra mais vitalidade do que a maioria dos vocalistas que poderiam ser seus netos. Ele agita, corre, se joga no chão, brinca com as câmeras, toca percussão e não para um minuto sequer. Cada movimento é um delírio para a plateia.
Tyler tem ainda o trunfo de, a essa altura da vida, manter uma performance vocal de dar inveja a qualquer um (justamente numa época em que muitos cantores com idade próxima ou até mais novos apresentam sérias dificuldades para cantar em bom nível).
O fato é que Tyler rouba os holofotes. Não é exagero dizer que representa é 50% da banda; Perry fica com 25% e os outros 25% são divididos entre os demais.
Entre baladas radiofônicas – Crazy, Cryin' e I Don't Want to Miss a Thing – e sucessos de diferentes épocas como Livin' on The Edge, Sweet Emotion, Love in na Elevator, Dude (Looks Like a Lady), a banda incorporou seu lado bluesy ao tocar Stop Messin' Around com Perry assumindo o vocal.
Se esse aspecto menos comercial do repertório dá uma certa diminuída na excitação da plateia, ao mesmo tempo desperta a audição mais atenta, afinal é nessa hora que Perry aproveita para mostrar o que sabe fazer com as seis cordas e impor ainda mais respeito.
Entre o fim do show e o bis, o Aerosmith homenageia o público paulista: nos telões ao lado do palco, aparece escrito: "São Paulo, you are the number 1"
O bis não poderia ser diferente: Dream On, tradicionalmente com Tyler ao piano, leva o público mais uma vez às alturas. Para fechar, Mother Popcorn emendada com a música que deu vida nova à banda nos anos 80, Walk This Way.
Fim de apresentação em alto astral e a certeza de que se o Aerosmith retornar daqui a seis meses, a catarse coletiva vai se repetir.
* Roberto Capisano Filho é jornalista do Sebrae-SP e um dos fundadores do Combate Rock
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