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Guitarra esteve baixa, mas Joe Satriani brilha em show paulistano

Combate Rock

09/08/2017 06h40

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

São Paulo foi palco de um belo espetáculo musical no domingo, dia 6 de agosto. Para um público considerável que seguiu para o lado externo do Auditório Ibirapuera, o grande guitarrista norte-americano Joe Satrini deu mais uma de suas aulas. Mesmo com o som baixo de sua guitarra que foi percebido por grande parte do público em relação aos demais instrumentos, o músico entregou uma apresentação de imensa qualidade.

O show com duração de cerca de duas horas foi gratuito. O dia foi de céu azul. À noite, a lua deu o ar da graça e ficou ali de coadjuvante para o espetáculo proporcionado por Satriani.

O público esperava a apresentação para o horário das 18 horas. Mas Satriani subiu ao palco apenas às 19h30. Antes dele, o cantor e guitarrista cearense Artur Menezes fez também um show de qualidade, preparando o terreno para o norte-americano.

O evento no Ibirapuera fez parte do projeto Samsung Best of Blues, que é patrocinado pela multinacional de tecnologia, em parceria com o Ministério da Cultura, e realizado pelo Instituto Dançar. O projeto já trouxe ao Brasil consagrados nomes, como Richie Sambora & Orianthi, Buddy Guy, John Mayall, Taj Mahal, Dr.John, Joss Stone, Jeff Beck, entre outros artistas.

Em tempos de ingressos com valores cada vez mais salgados e assustadores, um show deste quilate naturalmente faria o local da apresentação atrair um grande público. Entre os fãs presentes, foi possível constatar que havia uma grande quantidade de músicos na plateia, como se estivesse ali para realmente receber uma aula de Satriani.

O Auditório Ibirapuera tem capacidade interna para o público de 800 lugares, mas, quando é adotada a configuração de plateia externa, uma porta de 20 metros de comprimento por 6 metros de largura, feita em chapa de ferro com tratamento acústico, localizada no fundo do palco, pode ser aberta por meio de dois motores. Estes motores erguem a porta em um sistema de roldanas e contrapesos. Isso permite que os espetáculos se voltem para a plateia externa e sejam acompanhados, gratuitamente, por mais de 15 mil pessoas, entre público e frequentadores do tradicional parque paulistano.

A organização do Samsung Best of Blues disse, conforme a assessoria de imprensa, que verificou no domingo a maioria dos pontos preenchidos em volta do auditório, o que dá a entender que o público presente tenha ficado em torno das 15 mil pessoas, algo muito maior do que a quantidade de gente que Satriani costuma tocar nas casas fechadas onde fez seus shows anteriormente no País.

A despeito da noite linda, um obstáculo do show de Satriani para o público foi o frio. No inverno com temperaturas bastante baixas de 2017 em São Paulo, o jeito foi ir bem agasalhado ou se aquecer com alguma bebida. Talvez, o clima e a estação fria recomendasse o evento no final da manhã ou, no máximo no meio da tarde. Mas a apresentação de Satriani usou diversos recursos visuais e vários efeitos de luzes, o que seria prejudicado com a luz do dia.

O show

O show no Ibirapuera foi realizado menos de 1 ano após a mais recente turnê do guitarrista pelo Brasil. Em dezembro de 2016, Satriani tocou em três capitais do País (São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) pela Surfing to Shockwave Tour 2016, que divulgou o mais recente disco de Satriani: "Shockwave Supernova", o 15º da carreira do guitarrista.

Foi justamente com a faixa título do novo álbum que Satriani iniciou a apresentação no Ibirapuera. Desde sua primeira vinda ao Brasil em 1996, quando tocou no saudoso Olympia em São Paulo e quando tinha, por exemplo, como baixista o grande Stuart Hamm, o guitarrista sempre veio acompanhado de músicos do mais alto gabarito.

Em 2017, não foi diferente, já que o trio formado por Mike Keneally (guitarra, teclados e percussão), Bryan Beller (baixo) e Marco Minnemann (bateria) esbanjou qualidade em diversos momentos do show. O problema é que o som dos três estava mais alto que a guitarra de Satriani. Especialmente quando Keneally fazia a guitarra base, o som de seu instrumento ficava mais alto do que o do artista da noite.

Relatos das redes sociais mostraram que o público que estava mais próximo ao palco sentiu menos este problema. Mas, a maioria da plateia reclamou e chegou até a se manifestar, tentando chamar a atenção dos produtores para que o som fosse aumentado. O técnico de som, por sinal, foi bastante xingado no Twitter e no Facebook.

Mesmo com o problema, a força desta faixa conseguiu deixar o público vidrado e preparou todos para a seleção de músicas seguintes que alternariam sucessos da carreira de discos importantes, como "Surfing with the Alien" (1987), "Flying in a Blue Dream" (1989) e "The Extremist" (1992), com outras faixas do novo álbum.

Foi assim com a trinca com as ótimas e antigas "Flying in a Blue Dream", "Ice 9" e "Crystal Planet" (esta do disco de mesmo nome de 1998), que foram seguidas por "On Peregrine Wings", do disco mais recente.

Tradicionalmente simpático em solo nacional, Joe Satriani conversou com o público e agradeceu a presença da grande plateia na bela noite de São Paulo. Numa de suas intervenções, antes da linda e clássica "Friends", disse que a música era apropriada para aquele momento, já que estava rodeado de amigos.

Em "If I Could Fly", houve um ou outro que lembrasse da faixa "Viva la Vida", do Coldplay, já que a semelhança é incrível. Vale lembrar que Satriani, que gravou sua música antes, chegou a abrir processo sobre plágio contra a banda britânica e uma polêmica eterna se abriu sobre este assunto a partir de 2008.

Na sequência do show, logo após as músicas "Butterfly & Zebra" e "Cataclysmic", Satriani trouxe um dos seus maiores sucessos: "Summer Song". E levantou parte do público que parecia hipnotizado com as faixas anteriores.

Hora de um pequeno descanso e os solos dos demais instrumentos ajudariam a banda e o próprio Satriani a recarregar as energias. O primeiro deles foi o melhor, com o baterista Marco Minnemann, que provou que o astro da noite não escolhe qualquer um para acompanhá-lo.

Após a faixa "Crazy Joe" e o solo do competente Mike Keneally nos teclados, Satriani trouxe sua grande pérola da carreira. A belíssima "Always With Me, Always With You" vale por shows inteiros e, se somente ela fosse tocada a cada apresentação, já valeria qualquer ingresso. No evento gratuito do Ibirapuera, ela foi tocada com maestria e emocionou o público presente.

Note que os problemas da guitarra baixa de Satriani foram ficando menores com o decorrer do show. Chegaram a praticamente sumir após o solo de bateria de Marco Minnemann. Vale destacar que foi também a partir deste momento que Mike Keneally se ocupou mais dos teclados do que da guitarra base.

Após "Always With Me, Always With You", foi a vez do baixista Bryan Beller fazer seu solo. Na sequência, Satriani e a banda emendaram trechos de clássicos do rock, com faixas do AC/DC, Black Sabbath, Deep Purple & Cia.

Os sucessos "God Is Crying" e "Satch Boogie" (de deixar todos de boca aberta) vieram em seguida e complementaram a aula de Satriani e seus colegas, que não deixaram de emendar um blues para ficar em sintonia com o nome do festival.

A faixa título do álbum "Surfing With the Alien" seria a última da noite, mas haveria ainda um momento bacana no final, já que Satriani chamou ao palco o brasileiro Arthur Menezes para tocar com ele "Going Down". Com simpatia e descontração no palco, os dois guitarristas deram um show de improviso e encerraram a grande aula de música para os sortudos que estiveram no Ibirapuera.

Em tempos nos quais o Brasil e parte do mundo vivem momentos de desesperança, noites como a proporcionada por Satriani no Ibirapuera servem de alento. Ajudam a esquecer momentaneamente das sacanagens impostas pelos governantes e servem para lembrar que a música sempre estará presente para curar as dores do mundo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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