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Doctor Pheabes, patrocínio e a lógica dos negócios em grandes festivais

Combate Rock

25/03/2017 16h00

Marcelo Moreira

Doctor Pheabes (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma banda com músicos experientes, que fazem um trabalho bom, mas sem grandes arroubos de qualidade e originalidade – e com apenas dois CDs no currículo. Então como um grupo com esse currículo magro consegue ser escalado para Lollapalooza e Rock in Rio?

A polêmica se instalou com a publicação oportuna de um texto no portal G1 contando a história do quarteto de hard rock Doctor Pheabes, de São Paulo, formado por empresários bem-sucedidos com idades entre 44 e 50 anos de idade – bem longe, portanto, daquela história de apoiar "bandas novas" e iniciantes.

A banda desvendou o mistério sem se esconder em meias palavras ou eufemismo: dois dos integrantes criaram e administram o plano de saúde Prevent Senior, um dos mais relevantes do Brasil. A empresa não só patrocina os dois eventos como presta serviços médicos.

"Se acham que tocamos nos festivais só porque patrocinamos, é uma verdade. Tá bom. Qual banda deveria estar no nosso lugar?", diz o vocalista Eduardo Parrilo na entrevista ao G1. Clique aqui e leia o texto na íntegra.

Foi o que bastou para os roqueiros de todos os matizes caíssem de pau em cima dos roqueiros "vendidos" e dos festivais com "cartas marcadas", com privilégios aos "mesmos de sempre".

Os protestos têm sua razão de ser, por um lado, e nem tanto, por outro. Não é muito bacana saber que um artista foi escalado em dois festivais internacionais gigantes apenas por questões financeiras – pagaram ou patrocinaram o evento. Onde entra o critério meritocracia e a qualidade do espetáculo?

Apesar do desafio de Parrilo, é possível elencar pelo menos 40 bandas brasileiras que poderiam estar no lugar da Doctor Pheabes – e certamente incluo o Doctor Pheabes neste grupo.

É um grupo com qualidades, com boas músicas e integrantes afiados, que tocam muito bem. Não estão deslocados nos dois casts e sua presença não é nenhum absurdo. Não farão feio, pelo contrário.

A questão que se discute é outra: como ficam centenas de outros artistas de qualidade que sequer terão a mínima condição de passar pelo crivo dos organizadores? Será que os dois festivais um mudarão os critérios de escolha do elenco ou abrirão mais espaço para bandas novas, inciantes e de boa qualidade.

Por outro lado, Lollapalooza e Rock in Rio são organizações internacionais imensas que movimentam milhões de dólares em sua organização, gerando outros milhões em negócios. Não fazem eventos para perder dinheiro.

Por isso é que Metallica, Iron Maiden e Guns N'Roses são artistas praticamente residentes nestes festivais, garantindo arrecadação e excelente público.

A escalação do Doctor Pheabes seria um agrado um parceiro fiel, que está há algum tempo na lista de patrocinadores? E se for, há algo de errado nisso?

Não, nada de errado. Os donos do Lolla e do Rock in Rio escalam quem quiser sem a necessidade de dar satisfações. E certamente não estão ligando para as manifestações negativas por conta do Doctor Pheabes.

Admitindo que houvesse ingenuidade, será mesmo que isso importa? Será mesmo que em todas as edições anteriores não houve casos semelhantes? E o que dizer daqueles que reclamam da onipresença do Sepultura no Rock in Rio, que tocou em todas as edições nacionais, menos na primeira?

Não vejo com bons olhos a escalação do Doctor Pheabes do jeito que ocorrer, mas não é o fim do mundo. Lamento por muitas outras bandas terem ficado de fora, e não exatamente por conta da confirmação do quarteto paulistano.

A lógica dos negócios, infelizmente, não permite indulgências, ingenuidades e caridade. Portanto, que siga o jogo – e que o Doctor Pheabes, boa banda que é, honre as oportunidades e se divirta bastante em boas apresentações.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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