Andy Summers vem ao Brasil para fazer cover de si mesmo - e ainda assim vale a pena

Marcelo Moreira

Existem alguns artistas que se esmeram na arte de fazer covers de si mesmos, tentando revitalizar carreiras ou mesmo faturando alguns trocados.

Isso aconteceu algumas vezes nos anos 90, sendo que o exemplo mais gritante foi a "formação" da banda 1000 Homo DJs, que participou do primeiro volume do tributo ao Black Sabbath "Nativity in Black". Os integrantes eram Rob Halford, vocalista do Judas Priest, o guitarrista Tony Iommi e o baixista Geezer Butler, que gravaram uma versão para "The Wizard" no tributo. Totalmente desnecessário.

E eis que um gigante da música, que adora o Brasil, fará a mesma coisa no Rio de Janeiro. Call the Police é o nome do trio que contará com o baterista João Barone (Paralamas do Sucesso), o baixista e vocalista Rodrigo Santos (Barão Vermelho) e ninguém menos do que Andy Summers, o guitarrista do próprio The Police, grande banda dos anos 70 e 80.

No cartaz que anuncia o show, em letras claras e garrafais, "o trio toca os maiores sucessos do Police". Para quê? Não se trata de detonar o evento, até porque será muito legal ver os três em ação, já que são excelente. A questão é a pertinência de fazer tal coisa.

Extremamente bem-sucedido e respeitadíssimo, Summers é veterano do rock inglês, sendo que muitos acham que ele só se destacou no Police.

Nos anos 60, integrou bandas de rock progressivo, como Soft Machine, e tocou com feras como Eric Burdon (The Animals) e Robert Fripp (King Crimson), entre outros.

Virtuoso, articulado e inteligente, conseguiu uma proeza rara entre os roqueiros: estabilidade financeira e artística para fazer o que quer.

Aos 74 anos, costuma vir ao menos três vezes por ano ao Brasil para passear e rever amigos, entre eles o mestre Roberto Menescal e Fernanda Takai (Pato Fu), com quem gravou um CD recentemente.

Ao aceitar integrar o Call the Police, que fará também uma turnê brasileira e latino-americana neste ano, Summers provavelmente decidiu curtir um som com músicos conhecidos sem se importar com a pertinência da empreitada. A questão de ordem é se divertir, e Summers escolheu ótimos parceiros.

Mas o "problema" permanece: para que fazer cover de si mesmo? Vá lá que, se fosse uma apresentação solo, o guitarrista entupisse o repertório com canções da antiga banda.

Entretanto, com a sua importância para o rock e o prestígio que adquiriu, viajar pelo Brasil tocando somente músicas do Police dentro de uma banda que, na verdade, é uma banda cover estrelada, não parece fazer sentido.

Sting, seu ex-companheiro de Police, continua produzindo a toda velocidade e fazendo turnês solo aos 65 anos dentro de uma carreira individual ainda mais bem-sucedida, sendo que executa poucas músicas do Police, de vez em quando, em seus shows.

Seja como for, ainda que seja muito estranho uma estrela internacional optar por fazer covers de si mesmo, a iniciativa é muito interessante. É uma lenda que estará no palco tocando as harmonias inventiva e intrincadas que criou nos menos de dez anos de existência do Police.

E ver João Barone em ação é sempre uma dádiva, ainda mais ao lado do músico que certamente foi uma das principais inspirações para o guitarrista Herbert Vianna, dos Paralamas – assim como Police é a principal razão de existência do próprio trio brasileiro. Certamente é uma das atrações imperdíveis deste ano no Brasil, mesmo que seja apenas para Summers fazer cover de si mesmo…

Datas já confirmadas:

31/03 São Paulo (Tom Brasil)
06/04 Paraguai – Ciudad del Leste
07/04 Belo Horizonte (Hangar 677)
08/04 Porto Alegre (Araujo Viana)
12/04 Curitiba (Teatro Positivo)
13/04 Rio de Janeiro (Vivo Rio)
14/04 Teresópolis (Paradise Garage)