Bob Dylan prêmio Nobel: o paradoxo de levar o rock ao topo do 'sistema'
Marcelo Moreira
Nem nos melhores sonhos de quem gosta de rock a cena era factível: um roqueiro ganhando o Prêmio Nobel de Literatura, o honraria máxima da humanidade para os feitos nas principais áreas do conhecimento.
Se havia alguém que insistia em não reconhecer o rock como manifestação artística relevante, o prêmio dado a Bob Dylan destrói qualquer argumento nesse sentido.
No entanto, não há como não observar o grande paradoxo que a Academia Sueca levantou ao premiar o bardo de Minnesota: contestador, rebelde e libertário, o rock acaba, de certa forma, "cooptado" pelo sistema por meio de uma premiação de caráter conservador (ao menos em sua essência).
Bob Dylan foi o músico que melhor soube expressar uma visão de mundo de uma geração marcada pelo pós-guerra, ao mesmo tempo em que, de longe, se tornava o melhor cronista do cotidiano. É diferenciado até mesmo quando fala de amor e de trivialidades. Mesmo seus trabalhos pouco inspirados se destacam pelas letras bem feitas, bem construídas e até mesmo surpreendentes.
Embora a qualidade lírica seja uma de suas características, teve de ser lapidada no Greenwich Village, em Nova York, no início dos anos 60, quando era um músico folk que começava a se destacar.
Sua poesia argumentativa remetia aos melhores momentos de Woody Guthrie, um dos maiores nomes do folk norte-americano, mas Dylan chamava a atenção pela contundência dos versos e pela força de rimas que surgiam como tapas na cara de uma audiência estupefata.
Se as comparações com o alemão Bertolt Brecht eram pertinentes por um lado, de outro soam fora de contexto, já que a habilidade de Dylan para construir e juntar e poesia e música extrapolaram e extrapolam qualquer expectativa.
Dentro do rock, provavelmente apenas Pete Townshend (The Who) e Neil Young conseguem ombrear Dylan – e somente até certo ponto – em qualidade de letras.
Soberbo e supremo, Bob Dylan uniu as melhores qualidades dos dois mundos – rock e literatura – para criar uma arte estupenda. Conseguiu aliar a rebeldia, a fúria e a ânsia libertária com a mais alta qualidade poética para fazer o rock arrombar os portões dos salões eruditos do Prêmio Nobel. Empurrou o rock para um de seus degraus mais altos e fez do paradoxo o grande combustível para impulsionar o gênero para o patamar máximo das artes. Não é pouca coisa.
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