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30 anos sem Cliff Burton, o genial baixista do Metallica

Combate Rock

29/09/2016 06h58

Marcelo Moreira

O baixista Cliff Burton, do Metallica, foi um gênio? A maioria das reportagens e livros sobre o músico diz que sim, com toneladas de argumentos, mas sem concluir a questão. E mais um livro recente sobre assunto comete o mesmo "erro" de endeusar e reforçar o mito, mas deixando a conclusão para o leitor, embora com fortes insinuações. Mas isso importa?

A transformação de Burton em lenda tem razão de ser, e em especial no ano do 30º aniversário da morte do baixista. Seu desaparecimento precoce, em setembro de 1986, reforço a mitificação, mas a personalidade instigante e a autenticidade de seu comportamento se encarregaram de elevá-lo a uma posição invejada por qualquer artista.

A lembrança da data, certamente, vai suscitar uma série de discussões a respeito do Metallica e da qualidade que o mestre das quatro cordas imprimiu ao som da banda, e vem a calhar que esteja prevista uma reedição do livro "Cliff Burton – A Vida e a Morte do Baixista do Metallica", lançada no Brasil pela Editora Gutemberg.

O autor é o jornalista inglês Joel McIver, talvez o mais importante biógrafo recente do rock, ao lado de outro inglês, o competente e polêmico Wall. McIver escrever o o bom "Sabbath Bloody Sabbath", sobre o Black Sabbath, e ajudou Max Cavalera a editar sua autobiografia.

Fascinado pelos bastidores do rock e pela forma como os artistas criam suas obras, o autor compilou uma série de informações a respeito de milhares de roqueiros, e se tornou um fonte respeitada no meio, principalmente entre os músicos. E o livro agora lançado no Brasil tem uma grande qualidade: a honestidade.

Era para ser uma biografia, mas McIver não conseguiu deixar de lado sua paixão pelo Metallica e sua amizade grande com integrantes da banda e seus empresários. Ele não conheceu Burton, mas é amigo de quase todos que conheceram o baixista. diante do dilema, optou por uma saída jornalística inteligente: transformou a biografia que pretendia fazer em um perfil biográfico, algo mais assemelhado a ma grande reportagem. os rigores necessários de um biógrafo deram lugar a uma extensa agenda de entrevistas. O resultado é muito bom.

Com a mudança de planos, o foco passou a ser Cliff com o Metallica. Sua vida antes da banda merece apenas dois capítulos, com informações básicas sobre seu cotidiano, seus pais, as duas namoradas de verdade e os professores de música, além de apresentar alguns dos melhores amigos.

Cliff Burton na época em que tocava com o Metallica 9FOTO: DIVULGAÇÃO0

Cliff Burton na época em que tocava com o Metallica 9FOTO: DIVULGAÇÃO0

A partir de então entram em cena todos os personagens que ajudaram Cliff Burton a trilhar um caminho importante dentro da história do Metallica e da música pesada. Releve a insistência do autor em reforçar de tempos em tempos o quanto Burton era genial, legal, bacana, diferente, inteligente e decidido, com opiniões firmes, apesar da timidez e da discrição – o autor jura que procurou bastante, mas não encontrou quem falasse mal do baixista.

Mesmo com essa aparente forçação de barra, o Cliff Burton que emerge do texto é o de um músico diferente, totalmente consciente do seu papel artístico e da completa necessidade de inovar e avançar sempre – daí a sua obsessão por treinos, aulas e ensaios, seja em casa ou em turnê, fazendo questão de praticar por mais de quatro horas todos os dias, quando não havia shows e nas férias.

Tranquilo, sossegado e passando a impressão de ser mais maduro e bem resolvido pára a pouca idade, Burton destoava do padrão do "metaleiro maluco bêbado drogado que zoava e quebrava tudo". Ele gostava de uma baderna, enchia a cara quase sempre e adorava fumar maconha, mas sempre se distanciava do animalismo infantil e destrutivo de Lars Ulrich (bateria), Dave Mustaine e James Hetfield (ambos guitarra e vocais), seus companheiros de Metallica a partir de 1982.

Avesso à fama e ao estrelismo – brigou com a mãe por telefone uma vez por ter sido chamado por ela de "estrela de rock" -, não curtia os bastidores de farra e maluquice das turnês dos anos 80. Sofria por ficar muito tempo fora de casa – morou a vida inteira no apartamento dos pais – e longe da namorada, Corinne Lynn. Apreciava literatura, boa gastronomia, artes plásticas, jazz, música erudita e blues. mente aberta, ajudou a moldar o som pesado e agressivo, mas complexo e cheio de nuances, do Metallica.

A quantidade enorme de entrevistas e de material pesquisado permitiu a Joel McIver estabelecer, de forma mais prática, de que maneira Burton influenciou decisivamente o som Metallica e, em relação ao baixo, o som heavy metal. São professores e músicos contemporâneos e discípulos explicando tecnicamente o porquê de Cliff ter influenciado todo mundo, o que efetivamente ele criou, inovou ou remodelou.

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Fica claro que ele era um músico talentosíssimo e muito criativo, e que se tornou uma referência do instrumento em todos os gêneros, sendo comparado por especialistas aos gigantes do baixo na história, como Victor Wooten, Stanley Clarke, John Entwistle (The Who), Ron Carter e Jaco Pastorius.

Exagero? Aparentemente sim, mas essa impressão se esvai à medida que os depoimentos de gente importante da música dá depoimentos a respeito do baixista do Metallica: o cara foi um monstro, tão importante para o metal quando Hendrix e Entwistle foram para o rock no geral e Pastorius e Carter foram para o jazz.

Um diferencial da obra é o capítulo que descreve a morte de Cliff, em 27 de setembro de 1986, em um acidente com o ônibus da banda no sul da Suécia. Com relatos detalhados de jornalistas que estiveram no local e com depoimentos de autoridades policiais, bem como extensas entrevistas com os roadies e pessoal do empresariamento que estavam no ônibus, McIver compõe um quadro preciso da tragédia, da repercussão e de suas consequências.

A opção pelo perfil biográfico e foco na vida dentro do Metallica foram decisões acertadas, tornando a obra mais leve, mais informativa e jornalística, de fácil leitra – as informações técnicas sobre baixo e modo de tocar e técnicas podem ser um estorvo para quem não é músico, mas só até certo ponto. É um relato preciso e dinâmico sobre uma das figuras mais interessantes e diferentes do rock.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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