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Lobão se perde na autossabotagem e fica preso atrás do muro que ergueu

Combate Rock

06/04/2016 06h22

Marcelo Moreira

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

Ainda havia alguma esperança de que a bipolaridade de Lobão não o fizesse sucumbir à máquina de depredar reputações que virou o debate político no Brasil, e em especial no meio cultural. Alternando xingamento com palavrões à presidente Dilma Rousseff e embates ferozes, mas estéreis, com adversários pouco qualificados, o cantor carioca estava à beira do precipício.

E não é que ele conseguiu se autoerodir com mais uma sequência inexplicável de cartas abertas para antigos desafetos? Confuso perdido, Lobão parece ter escorregado e caído no abismo sem para-quedas e abandonado por quem poderia ao menos tentar dissuadi-lo de corroer ainda mais sua credibilidade como agente cultural e político.

O patético e inexplicável "pedido de desculpas" a Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque na primeira das cartas mostrou uma tentativa bisonha de voltar ao ringue depois de vários nocautes feios.

Na segunda carta, irado por ter sido ignorado, mistura argumentos disparatados, diatribes sobre um mundo no qual só ele parece viver e, como não poderia deixar de ser, partiu para novas agressões – desta vez contra Chico Buarque.

Em um movimento que o tornou motivo de chacota até memso entre parcela expressiva de seus supostos seguidores, Lobão exorta Chico a "pedir desculpas públicas pela falência absoluta de suas crenças ideológicas".

Afinal de contas, o que vem a ser isso? Com que autoridade Lobão exige de quem quer que seja pedido de desculpas por acreditar em algo? E quem Lobão acredita que seja para decretar a falência de qualquer coisa, ainda mais de um partido político que, queira ou não, foi eleito para governar o país?

Em alguns momentos, Lobão insinua que Chico Buarque por muito tempo beirou a uma fraude ideológica, dando entender, ainda que de forma sutil, que o sambista poderia ser até mesmo um impostor por defender "causas indefensáveis e por apoiar ditadores".

"Você deveria dizer 'me perdõe, povo brasileiro, por ser um charlatão por condenar a ditadura militar brasileira e apoiar ditaduras comunistas, e ser amigo de um estadista de um país genocida, como Fidel Castro", delira o músico.

Em seu mais novo rompante de autossabotagem da própria reputação, Lobão perde a linha e mistura as coisas, confundindo tudo viajando totalmente no espaço sideral.

Ignorado, perdeu a linha mais uma vez, em uma ânsia maluca para que batam palmas para que o delirante possa dançar em um palco escuro e vazio.

Lobão cada vez mais se parece com Pink, o personagem principal do filme "The Wall", de Alan Parker, baseado na obra-prima homônima do Pink Floyd.

Cada vez mais perdido em seus próprios pensamentos e imerso em barreiras psicológicas quase intransponíveis, Pink vai se desconstruindo à medida que sua vida desaba, levando junto a sua sanidade, habitando um mundo próprio e perigosamente sem volta.

Lobão ergueu por muito tempo o seu próprio muro, disparando contra tudo e contra tudos, dinamitando as pontes e assumindo um personagem caricato e pouco crível. Por conta disso, o lobo se perdeu e perdeu qualquer capacidade de transpor o muro. E pior, do outro lado, ninguém tem a menor disposição de transpô-lo – ou de ajudar o lobo a pular para o outro lado.

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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