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Keith Emerson, o mago dos teclados que queria ser uma estrela de rock

Combate Rock

11/03/2016 17h56

Marcelo Moreira

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Keith Emerson sempre se esforçou para parecer selvagem. Era uma necessidade, já que vocalistas e guitarristas sempre eram os protagonistas do rock no final dos anos 60. Um de seus ídolos, Jerry Lee Lewis, "The Killer", arrebentava nos teclados como showman, superando o concorrente Fats Domino. Como superar Jimi Hendrix, por exemplo?

O ego sempre falou mais alto e ficou feliz quando o guitarrista David O'List deixou o quarteto de rock psicodélico que logo se transformou em progressivo – The Nice, numa referência clara ao Cream, de Eric Clapton, que estava terminando. Queria porque queria ser uma estrela. E conseguiu, de certa forma.

Aos 71 anos, Emerson morreu na quinta-feira (10) em sua casa em Santa Monica, Los Angeles, segundo nota publicada no Facebook do tecladista. A causa da morte ainda não foi informada.

Um dos ícones do rock progressivo, Keith Emerson usou e abusou dos teclados, mais especificamente dos sintetizadores. Antes da formação do ELP, Emerson já tinha alcançado reconhecimento no mundo musical graças ao seu trabalho com a banda The Nice, no final dos anos 60. Seu principal sucesso comercial foi uma versão instrumental para "America", de Leonard Bernstein.

Ego lá em cima

Sem o guitarrista O'List, o Nice voou e, como trio de rock progressivo, foi criticado pelos excessos de Emerson e a falta de uma guitarra. Isso não era o problema – a questão era como domar a irritação de Lee Jackson (baixo e vocal) e o baterista Brian Davison.

De formação erudita e inquieto por conta de uma ansiedade que incomodava, Keith emerson se especializou em compor e criar um rock sinfônico, expansivo e com muitas experiências sonoras.

Aos 25 anos em 1969, sentia que etsava ficando para trás em relação ao sucesso de outros grupos pop e de rock, e sentia que perdia espaço em relação ao teclado para o "maestro" Jon Lord e seu Deep Purple.

As brigas com os parceiros de The Nice só exacerbaram o que ele jpa sabia: os companheiros eram bons, mas limitados para o que queria: um som grandioso e bombástico, repleto de virtuosismo e qualidade, de preferênca com músicos com formação erudita.

Não pensou duas vezes: o Nice acaba no começo de 1970 e deixa Emerson livre para gestar a sua pérola ao lado do então amigo Greg Lake, que não aguentava mais o cabecismo e as manias do guitarrista Robert Fripp, líder do King Crimson.

Roubando o menino prodígio da bateria do Atomic Rooster – Carl Palmer, de apenas 19 anos -, o tecladista espalhafatoso conseguiu o seu intento: manteve a estrutura iniciada no Nice, ou seja, trio sem guitarra, para que ele pudesse brilhar como a estrela do espetáculo.

Help?

Jimi Hendrix soube do projeto até se interessou em fazer jams para saber se poderia integrar o grupo – o nome estava escolhido, Help, com as iniciais dos sobrenomes.

Hendrix morreu antes, mas Emerson nem se importou. Emerson, Lake & Palmer surgia para levar ao extremo os excessos de todos os tipos do rock de arena e no rock progressivo.

Chutes, pancadas, barulhos esquisitos, microfonias, nada parecia saciar Emerson, que adorava derrubar a montanha de teclados e amplificadores ao final dos shows.

Emerson, Lake and Palmer em 1972 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Emerson, Lake and Palmer em 1972 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

No começo a postura destrutiva à la Pete Townshend (que quebrava guitarras no The Who) ofuscava o seu próprio talento e os bons trabalhos com o trio.

O ego continuou lá em cima, mas domou sua fúria e impulsionou o ELP para se tornar um dos gigantes da música dos anos 70 -e alvo dos punks que odiavam os excessos do rock progressivo – mas que também invejavam o trio pela excelência musical.

A versatilidade de Keith Emerson e dos companheiros só foi ressaltada na segunda metade dos anos 70, quando começaram a abordar vários estilos musicais além do rock progressivo sinfônico, como nos dois volumes (em LPs duplos) "Works" e "Works II".

Carreira cult e músico respeitadíssimo

O fim do Emerson, Lake & Palmer, em 1979, liberou o trio para tentativa de se aproximar do sucesso. Palmer teve mais êxito quando formou o Asia com o tecladista Geoff Downes, o guitarrista Steve Howe – ambos ex-Yes – e o baixista e vocalista John Wetton (ex-King Crimson e Uriah Heep).

Greg Lake decidiu por virar um artista pop, gravou dois álbuns e fez turnês com o ás do rock pesado Gary Moore. Restou a Emerson engatar uma carreira solo errática e cult anos anos 80, antes de se unir a Lake no Emerson, Lake and Powell (Cozy Powell, ex-Jeff Beck Group e Rainbow), com Palmer no 3 (com o guitarrista Robert Berry) e, nos anos 90, um rápido retorno do Emerson, Lake & Palmer em 1991.

Ao lado de Jon Lord e de outro espetaculo, Rick Wakeman, do Yes, Keith Emerson está no time dos melhores tecladistas de rock de todos os tempos.

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Emerson, Lake & Palmer nos anos 90 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Sua contribuição é incomparável, seja como protagonista ao colocar seu instrumento como fundamental dentro de seu estilo, seja na busca incansável por novos timbres e novas possibilidades instrumentais com os novos equipamentos que sempre incluía em seu set musical.

Mesmo apaixonado por cultura norte-americana – gravou alguns CDs de jazz, ragtime e blues -, era considerado um embaixador da música britânica com uma profunda pesquisa musical dentro das origens sonoras do folk nacional.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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