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O nerd da viola ataca novamente

Combate Rock

16/01/2016 07h00

Marcelo Moreira

Ricardo Vignini (Foto: Divulgação)

Ricardo Vignini (Foto: Divulgação)

O nerd da viola ataca de novo. Aquele que pode ser comparado a Joe Bonamassa, o guitarrista de blues com cara de nerd que é obcecado pelo trabalho está com trabaoho novo na praça.

"Moda de Rock II", lançado na semana passada, traz novamente o violeiro/violonista Ricardo Vignini ao lado do parceiro Zé Hélder, o violeiro mineiro que era o único punk na cidade de Pouso Alegre nos anos 80. A dupla forma o Moda de Rock, que transpõe para a viola caipira clássicos do rock e do metal.

Essa é só a mais recente empretada do nerd violeiro que não para. Mesmo com o sucesso nacional e internacional do Moda de Rock, o paulistano Vignini mantém uma carreira solo, produz álbuns de vários artistas, como o violeiro Índio Cachoeira, e ainda integra duas bandas, o quinteto Matuto Moderno (que mistura rock urbano, música caipira e MPB) e o trio de rock pesado Mano Sinistra (onde inovou ao fazer som heavy com uma viola distorcida).

E é justamente o Mano Sinistra que o projeto mais inusitado do instrumentista. É rock pesado com viola caipira. Estranho, mas muito bom. Poré, algo bem natural para um mestre da viola que toca modinhas, blues, classic rock e heavy metal.

Enquanto começa a divulgação do segundo CD do Moda de Rock, mantém firme a união com Paulão Thomaz (bateria, atual Baranga e Kamboja) e baixista e vocalista Marco Lucke. O resultado muusical e a receptividade da iniciativa surpreenderam os integrantes.

"A viola com som distorcido e pesado é bem interessante, permite tirar sons diversificados e diferentes. O que era uma zoeira acabou se tornando um projeto muito interessante. O álbum que estamos produzindo e que sai ainda em fevereiro é o mais pesado que já fiz", diz Vignini.

"Mano Sinistra", nome do álbum e que também nomeia a banda, tem a cara de um rock urbano e sem concessões, com letras irônicas e bem sacadas, de cunho de protesto e social, mas sem o ranço costumeiro das bandas chamadas "engajadas". Paulão Thomaz é nome lendário do rock pesado paulistano, tendo feito parte de dezenas de formações ao longo de 30 anos, entre elas o Centúrias.

"O Paulão é uma figuraça, somos amigos há muito tempo e o conceito que adotamos tem tudo a ver com a visão de mundo dele e com a minha. Há um certo cinismo nas músicas, mas é rock do começo ao fim. Fazia tempo que eu não me envolvia em um projeto roqueiro com pegada firme. Adorei cada segundo", afirma o violeiro.

Mudança radical

Para quem se acostumou a ver o violeiro se dedicar a instrincadas melodias e arranjos, com muita virtuose, no Moda de Rock vai levar um susto ao escutar o projeto Mano Sinistra.

 "Suporte para Óculos" e "Balada para Zé Jesus" são duas pancadas que abrem o CD. Pesadas, climáticas e com distorção que garante o peso da viola guitarra, são o melhor cartão de visita da banda.

"A Mulher Humaniza o Homem" e "Resumindo" exacerbam as letras irônicas e as boas sacadas. Trazem ainda, assim como "Suporte para Óculos", inspirados solos de Vignini, que mostra habilidade e versatilidade em um instrumento que soa como uma guitarra setentista, na melhor tradição do hard rock inglês.

"É a música mais pesada que já fiz, e também a mais paulistana", analisa Vignini. "Tudo se encaixa na metrópole maluca e insana que vivemos. E o curioso é que sete das letras são de um poeta mineiro de Patos de Minas, que é o Paulo Nunes. Elas têm temática ácida e urbana, ao contrário do 'Matuto moderno'. Muitas foram compostas durante as manifestações de junho no Brasil. Estávamos gravando, ensaiando e compondo na época e é claro que aquele momento nos impregnou."

Mano Sinistra: da esq. para a dir., Marco Lucke, Paulão Thomaz e Ricardo Vignini (foto: DIVULGAÇÃO/RITA PERRAN)

Mano Sinistra: da esq. para a dir., Marco Lucke, Paulão Thomaz e Ricardo Vignini (foto: DIVULGAÇÃO/RITA PERRAN)

Sobre a sonoridade atingida com o Mano Sinistra, Vignini não esconde o orgulho com a sonoridade obtida. As duas violas eletrificadas, ou violas guitarras, como ele as chama, são atualmente as queridinhas de seu farto equipamento. Uma delas é afinada em "cebolão" em ré e a outra em rio abaixo. "Nessa última me sinto o Keith Richards tocando, pois ele usa algo parecido em suas guitarras Fender".

Os dois instrumentos foram construídos por luthiers brasileiros (Márcio Benedetti e o João Scremin) e são tocados com amplificadores valvulados no volume máximo, o que explica a reverberação diferente, assim como timbre específico e inusitado até.

Diversidade

Ex-integrante da banda Cheap Tequila, de pouca repercussão no rock paulista dos anos 90, Vignini se juntou a excelentes músicos para criar o Matuto Moderno em 1999, que conseguiu boa repercussão no underground estadual ao longo dos anos 2000.

A inusitada pegada roqueira unida ao universo caipira do interior se mostrou acertada, com nítidas influências de Almir Sater, Pena Brana & Xavantinho, rock progressivo tipo Yes e Pink Floyd e uma sonoridade que remete à vanguarda paulistana dos anos 80, onde surgiram para a mídia artistas como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, entre outros. A banda já lançou cinco álbuns.

Na produção, Vignini arregaça as mangas e prepara o novo álbum de Índio Cachoeira, violeiro do interior de São Paulo que é um dos seus mestres e influências. "Viola Caipira Duas Gerações" terá 12 faixas instrumentais e é o segundo com a assinatura de Vignini. "É de longe um dos melhores artistas com quem trabalhei e um dos melhores violeiros do país. Tem uma técnica ímpar e sua capacidade de execução de peças diversas é assombrosa. Cada vez que nos juntamos para tocar aprendo um monte de coisas."

Ricardo Vignini e Zé Helder, do Moda de Rock (Foto: Divulgação)

Ricardo Vignini e Zé Helder, em ação como Moda de Rock (Foto: Divulgação)

E Vignini encontra ainda tempo para fazer parcerias e participar de shows de amigos, como o de Sérgio Duarte, gaitista e cantor de blues, amigo de infância. Ou então receber gente como Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura) e o rapper Rappin' Hood no palco.

Para ele, não há limites nem cercas que o impeça de transitar de músicas de Tião Carreiro e Pardinho a blues e heavy metal. E explica também a sua fome de coisas novas.

"Até março de 2013 não tinha planos de lançar nada, e ainda estava na pilha de mostrar o 'Matuto Moderno 5', gravado em 2011. Mas como eu tenho estúdio e produzo muita coisa por aí, quis fazer algumas coisas diferentes", conta empolgado. "Fui contemplado com o Prêmio Funarte da Música Brasileira para o projeto com o Cachoeira. Foi um presente que dei a mim mesmo participar do Mano Sinistra, do Moda de Rock e por CD do Cachoeira."

Serviço

Lançamento do álbum 'Moda de Rock II' com participação do guitarrista Robertinho do Recife
Local: Teatro Paulo Autran (1.010 lugares)

Dia 17 de janeiro de 2016, domingo, 18h
Duração:
90 minutos

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos.
R$ 40,00 (inteira). R$ 20,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). R$12,00 (credencial plena: trabalhador do comércio debens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Ingressos em sescsp.org.br
SESC PINHEIROS
Endereço: Rua Paes Leme, 195.

Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10h às 18h.
Tel.: 11 3095.9400

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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