Genial e discreto, John Paul Jones, do Led Zeppelin, faz 70 anos
Marcelo Moreira
Talentoso e empolgado, mas meio preguiçoso, o garoto Johnny decidiu que queria viver de música, mas desde que não tivesse que esfalfar em turnês enormes e longas sessões de estúdio com gente chata. Queria sossego e um bom salário. Quase conseguiu isso, mas o tédio dominou John Baldwin, e ele decidiu virar John Paul Jones e cair no mundo.
Multiinstrumentista bem relacionado, mas um pouco pedante, o arranjador e "maestro" de 22 anos tinha cansado de ficar enfurnado em estúdios e soube que um colega igualmente talentoso, excelente guitarrista de estúdio, estava montando uma banda. Ligou e pediu uma vaga de baixista – instrumento que não curtia muito, mas estava valendo.
A ligação caiu do céu e Jimmy Page o convidou no ato, formando o embrião do que viria a ser o Led Zeppelin. E assim John Baldwin, o talentoso que não gostava de rock e que tocava de tudo, ganhou o mundo como John Paul Jones, o virtuoso baixista e tecladista que segurava as pontas dos excessos de todos os tipos na banda.
Jonesy, assim apelidado por Jimmy, completou 70 anos neste começo de ano. Discreto, sossegado e autoconfiante, nunca se importou com os holofotes e com o gigantismo da banda.
Embora fosse o menos aparecido, tinha muita moral com a galera por conta de seu conhecimento musical avançado. Robert Plant, o vocalista, gostava de provocá-lo chamando-o, ironicamente, de maestro. Mas o duro é que ele pode ser chamado mesmo de maestro, seja pelo conhecimento, seja pelo comportamento pedante, às vezes.
Compositor prolífico e de qualidade na primeira fase da banda, pouco a pouco deixou que as tensões zeppelinianas se concentrassem nas rusgas entre Page e Plant. Coincidentemente, passou a contribuir menos após o último trimestre de 1974, quando praticamente abandonou o quarteto – decisão revertida meses depois, após várias conversas com Page.
Exausto das turnês e mantendo a distância de sempre, ficando no seu mundinho, o grande baixista e tecladista sempre encontrava tempo para o jazz e para a música erudita, suas paixões, que acabaram por moldar parte de sua carreira solo no futuro.
O distanciamento dos outros membros sempre incomodou Plant, que nunca perdoou Jonsey por não ter comparecido aos funerais de seu filho Karac, vítima de uma infecção volenta em 1977. O ressentimento druou muito tempo, tanto que o baixista não foi convidado para o projeto que viria a se chamar Page/Plant, em 1994.
Fiel ao seu estilo de vida e a sua personalidade, John Paul Jones nunca se importou com as alfinetadas públicas de Page e Plant e nunca fez questão de se encontrar com frequência com os ex-companheiros após o fim do Led, em 1980.
Rico e sem preocupações, gravou o que quis e tocou quando teve vontade, sempre optando por trabalhos mais experimentais e artistas undergrounf, como a cantora Diamanda Galás, por exemplo.
Mesmo retomando o contato em bases mais profissionais com Page e Plant nos anos 2000, fez questão de manter a postura reticente quanto a uma volta do Led Zeppelin.
![Led Zeppelin, ainda como New Yardbirds, em outubro de 1968 (FOTO: DIVULGAÇÃO)](https://conteudo.imguol.com.br/blogs/107/files/2014/09/LedZeppelin1968Promo_fullpage.jpg)
Led Zeppelin, ainda como New Yardbirds, em outubro de 1968: Jones é o último da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Aceitou com certa relutância tocar no show de dezembro de 2007, apresentação única em homenagem ao ex-presidente da Atlantic Records, Ahmet Ertegun. Gostou da experiência, mas não se importou quando Robert Plant recusou a volta definitiva. Enquanto Page se enfurecia, Jonesy dava de ombros – nunca fez questão, de fato, em insistir numa volta ao passado.
O baixista, na realidade, é um tipo raro de rock star, principalmente por ser avesso aos holofotes. Nunca conseguiu escapar da pecha de rock star porque fez parte do monstro zeppeliniano, mas teve inteligência para fugir das turbulências e preservar a privacidade na maior parte do tempo.
Subestimado algumas vezes? Talvez sim, em alguns aspectos, mas Jones é uma das poucas unanimidades entre os instrumetistas do rock. Quem pretender achar quem fale mal ou conteste sua capacidade musical terá muito, mas muito trabalho.
Aos 70 anos de idade, John Paul Jones certamente está com o seu famoso sorriso irônico no canto da boca quando lê biografias e perfis que o descrevem como pedante, arrogante e até mesmo desinteressado em vários momentos da carreira do Led Zeppelin.
Gênio? Mestre? igante? Escolha a qualidade de Jones. Não existe chance de errar.
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