Topo

Morrissey evita hits dos Smiths no show de São Paulo

Combate Rock

25/11/2015 17h00

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

Morrissey se apresentou no Citibank Hall no sábado, dia 21 de novembro, em São Paulo, e fez um show de qualidade. A despeito de deixar de lado grandes hits históricos de seu antigo grupo The Smiths, o cantor britânico mostrou que continua esbanjando qualidade nos vocais. Para um ótimo público na casa de shows paulistana, ele presentou o verdadeiro fã de sua carreira solo.

A apresentação no Citibank Hall foi a segunda em solo paulistano na mesma semana, já que ele havia feito um show mais intimista no Teatro Renault, na terça-feira, 17 de novembro.

Enquanto o Citibank foi reservado pelos organizadores para uma capacidade de 7.064 pessoas, o teatro foi escolhido pela produção para um evento com 1.565 lugares.

Com o retorno ao Brasil, com apresentações previstas também no Rio de Janeiro e Brasília nesta turnê, o eterno vocalista dos Smiths saldou uma dívida com o País, já que havia cancelado uma tour por aqui em 2013 por causa de problemas de saúde. Após o lançamento de seu mais recente disco, o bom "World Peace Is None of Your Business", Morrissey deixou uma legião de fãs preocupada com a revelação do diagnóstico de um câncer.

Recuperado, ele mostrou que ainda tem condições de cantar dignamente. Com sua já conhecida e elogiada banda, deixou claro que não precisa se aproveitar do passado dos Smiths para conduzir sua carreira.

O show

A apresentação estava agendada para começar às 22 horas, mas Morrissey começou a tocar apenas às 22h30. Não houve atraso do britânico, apenas a meia hora de diferença foi usada pelo músico como uma espécie de preparativo, com um longo vídeo num telão central improvisado que ficava à frente do palco. Na película, vários artistas, muitos deles com influência na formação musical do cantor.

O recurso já havia sido adotado na turnê de 2012 pela América do Sul, quando o Roque Reverso não fez a cobertura do show em São Paulo, mas teve o prazer de estar presente na apresentação que Morrissey fez em Buenos Aires, na Argentina.

Ramones, Tina e Ike Turner e o The New York Dolls foram só alguns dos astros que apareceram no telão. Foi nítida, entretanto, a falta de paciência do público com o tempo de duração do vídeo no Citibank Hall, até com certa razão, pois realmente foi cansativo.

Passado o longo vídeo, foi a vez de Morrissey iniciar a apresentação com nada menos que "Suedehead", de seu primeiro álbum solo, "Viva Hate", de 1988. Com a exceção da quantidade inacreditável de smartphones que tentavam captar este início do show, a execução da música foi perfeita.

A despeito dos aparelhos de telefone móvel até atrapalharem a visão de alguns, foi simplesmente emocionante para os fãs das antigas, que devem ter lembrado das boas baladas que embalaram os Anos 80. Vale lembrar que, na turnê de 2012, o cantor não havia incluído esta música obrigatória no set list das apresentações feitas em São Paulo, no Rio e em Belo Horizonte, tampouco em Buenos Aires.

Antes de cantar, Morrissey já havia dito que "seria do público" naquela noite. E foi realmente isso que aconteceu. Decepções à parte de quem queria ver um show dos Smiths, não há dúvida que o artista se entregou ao seus fãs com uma boa apresentação.

Vale destacar que os telões laterais do Citibank Hall não foram usados, o que chegou a gerar algumas reclamações de quem estava na Pista Comum.

"Alma Matters", do álbum "Maladjusted", de 1997, manteve o ambiente animado, assim como "You Have Killed Me", do disco "Ringleader of the Tormentors", de 2006. Note que, nas três músicas iniciais, Morrissey deu um salto de praticamente três décadas e, com isso, satisfez os fãs de diversas idades presentes. Havia um grupo maior de pessoas que viveram os Anos 80 e 90 no Citibank Hall, mas não eram poucas as pessoas com pouco mais de 20 anos de idade que estavam na casa paulistana, o que indica que o público do astro inglês está também se renovando.

Do disco mais recente, "World Peace Is None of Your Business", foram apresentadas ao vivo pela primeira vez no Brasil a faixa-título e as músicas "Staircase at the University", "Istanbul", "One of Our Own", "The Bullfighter Dies", "I'm Not a Man", "Smiler With Knife", "Kick the Bride Down the Aisle" e "Kiss Me a Lot". Nada mal para quem queria promover o disco.

"Kiss Me a Lot", por sinal, é daquelas que o fã sai assobiando do show e, se não tomar cuidado, fica com a música na cabeça a semana inteira.

Morrissey em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/MRossiMorrissey em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/MRossiMorrissey em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/MRossiMorrissey em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/MRossi

FOTOS: TIME FOR FUN/MROSSI/DIVULGAÇÃO

O detalhe é que tinha muita gente no show que queria muito ver os hits grandiosos dos Smiths. No show do Teatro Renault, Morrissey chegou a tocar algumas poucas pérolas, como "This Charming Man" e "How Soon Is Now?". Mas, no Citibank Hall, nada de grandes clássicos da antiga banda.

Três dias depois do show, o debate que começou durante o show entre quem queria ouvir Smiths e quem aceitou a postura de Morrissey no sábado continuava nas redes sociais de fãs do artista. No fundo, os dois lados têm certa razão, pois não há como negar que o cantor ganhou exposição com a clássica banda dos Anos 80, mas também, em contrapartida, não pode ser refém de seu passado.

Da banda britânica, foram três no Citibank Hall: "Meat Is Murder", "What She Said" e "The Queen Is Dead".

Em "Meat is Murder", Morrissey manteve a tradição de seu discurso contra a carne de animais sacrificados para alimentar o homem. No telão, várias imagens fortes de aves, bovinos, suínos e outros bichos sendo mortos realmente com o intuito de chocar a plateia.

Não bastasse tudo isso, letras garrafais no mesmo telão foram expostas com a mensagem: "Qual é a sua desculpa agora? Carne é assassinato."

Em "What She Said", talvez, sem várias pessoas perceberem, Morrissey pode ter dado o grande presente do Smiths da noite. A música do disco "Meat Is Murder" chegou a surpreender alguns por não ser algo constante em passagens anteriores do músico pelo Brasil.

"The Queen Is Dead" foi a última música do show já no bis e serve para aumentar a contagem. Mas que não seria nada mal cantar, por exemplo, "There Is A Light That Never Goes Out" ou "How Soon Is Now?", que estiveram no set lista da turnê anterior, isso é totalmente verdade.

Durante a apresentação, não faltou a também obrigatória "Everyday Is Like Sunday", que contou com uma roupagem um pouco diferente. O cantor inglês também não deixou de lembrar os ataques terroristas em Paris, já que, também no bis, com "I'm Throwing My Arms Around Paris", a bandeira da França foi estampada no telão central.

Na música final, "The Queen Is Dead", Morrissey levantou um bandeira brasileira que pegou da plateia e também chegou a tirar sua camisa, para gritos gerais do público.

Muitos podem até ter ficado decepcionados com a ausência de algo mais relevante dos Smiths. O público, no entanto, não pode reclamar de falta de qualidade e dedicação da banda. Mais do que isso, pode ter visto o último show de Morrissey em terras brasileiras, já que o cantor vive dizendo que sua saúde já não é a mesma para aguentar longas turnês.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock