Ingressos estão baratos demais - deveriam custar muito mais que o dobro
Marcelo Moreira
O dólar quase chega a R$ 4, o desemprego aumenta assustadoramente, assim como a inflação e a inadimplência generalizada. Entretanto, o país real parece desconectado do país dos shows internacionais, que chegam com preços extorsivos e incompatíveis com um momento de crise econômica severa.
São poucos os que reclama, ainda que timidamente, a respeito dos tais preços abusivos e fora da realidade. Parece que se tornou comum pagar R$ 500 no ingresso mais baratos para apresentações de grandes nomes mundiais do rock – e sempre lembrando que todos os ingressos evaporam em horas, como no caso do ex-Pink Floyd David Gilmour.
Pelo jeito, a crise econômica só existe na imprensa e no chororô dos empresários, que demitem a rodo apenas para que possam maximizar seus lucros e sua rentabilidade.
Para os roqueiros de ocasião, vale pagar até R$ 1.000 para ver o Metallica, por exemplo, mas não vale pagar R$ 10 para ver bandas novas no bar da esquina ou em festivais alternativos. Não vale a pena nem mesmo gastar para pagar as prestações atrasadas do que quer que seja para limpar o nome.
Isso tudo me faz crer que, com a demanda em alta, os preços dos ingressos para shows internacionais, grandes e médios, estão bastante acessíveis. Na verdade, creio até que estão baixos demais.
Shows de bandas médias têm preços que podem chegar a R$ 150 ou R$ 200, valores que em outros tempos, os de bonança, seriam incompatíveis com o padrão de vida do brasileiro.
Os valores deveriam ser, no mínimo, o dobro dos cobrados atualmente, já que os espectadores brasileiros não se importam em ser esfolados. São raríssimos os casos de indignação, o que significa que está tudo bem e que os preços são bastante justos.
Sendo assim, ninguém vai se importar em pagar R$ 1,5 mil para ver um gigante do rock no telão, em um estádio, a quilômetros de distância, ou R$ 200, R$ 300 para ver uma atração europeia decadente em uma casa pequena, abarrotada e desconfortável.
O paradoxo entre as vendas recordes de ingressos para festivais como Rock in Rio ou para shows como os de Gilmour e a penúria em que vive grande parte dos artistas autorais do rock no Brasil, em especial os do rock pesado, é um indicador explícito dos desajustes graves que afetam o entretenimento no Brasil.
Mais grave ainda é a falta de discernimento de grande parte do público a respeito do arrocho nos preços de shows grandes, como se a ignorância fosse deliberada, assim como a hipocrisia a respeito do assunto.
Nem mesmo o Procon encontra subsídios entre os supostos "indignados" para ao menos fiscalizar, se é que é possível neste ambiente de "livre iniciativa", enquadrar as empresas em algum tipo de abuso econômico.
Preços altos incomodam o tempo todo, menos no nomento de ficar horas na internet e no telefone para gastar R$ 1.000 por um bilhete, que fatalmente será acrescido dos 15% ou 20% ou 30% da asquerosa e nojenta "taxa de conveniência". Pena que a mesma empolgação desaparece quando se fala em show de artista nacional, em boa parte dos casos.
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