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Van Halen com Gary Cherone, em DVD, está nas lojas brasileiras

Combate Rock

27/03/2015 06h28

Marcelo Moreira

As grandes lojas de livros e CDs que restaram, as chamadas megastores, continuam surpreendendo ao vender produtos antes reservados a bancas de jornais e restaurantes de beira de estrada por conta de serem "alternativos" demais. Tempos atrás mencionamos aqui algumas pérolas interessantes vendidas, e agora surge mais uma.

"Live from Australia 1998" é o DVD que a Saraiva está vendendo como se fosse um porduto oficial, ou quase, do Van Halen. O problema é que tal produto não existe na discografia/videografia oficial da banda. No Brasil, foi editado por uma empresa chamada Radar Record's, sem encarte e com informações mínimas.

O site da empresa, aparentemente desatualizado, tem algumas seções em manutenção, enquanto que o catálogo possui algumas coisas inacreditáveis, como uma coletânea chamada "100 Sertanejos volume 2", várias coletâneas "25 Sucessos do Cinema", temáticas e uma série de coletâneas esquisitas (para ser elegante) chamadas "60 Sucessos dos anos 60", "70 Sucessos dos anos 70" e "80 Sucessos dos anos 80", em vários volumes, no esquema medley, juntando as faixas ou pedaços delas. São facilmete econtráveis nos restaurantes de estradas.

E eis que a empresa teve a ousadia de colocar um produto aparentemente sem registro na discografia oficial em megastores brasileiras. "Live From Australia 1998" é um dos poucos registros dos Van Halen com o vocalista Gary Cherone (Extreme), que substituiu Sammy Hagar por breve tempo, entre 1996 e 1998. Era a turnê do malsucedido álbum "Van Halen III", após tentativa frustrada de trazer de volta David Lee Roth.

O show foi realizado em Sydney, no Sydney Entertainmente Center, no dia 21 de abril de 1998, e foi transmitido ao vivo por uma emissora australiana – que fez o mesmo com a apresentação de Melbourne, dias depois. São esas as imagens usadas, e já exibidas no Brasil pelo canal VH1, em uma madrugada qualquer.

vanhalaustr

Cherne, ao contrário do que se possa imaginar, se saiu bem, dentro das circunstâncias em que a banda vivia. Muito esforçado, mergulhou de cabeça no repertório da banda e fez o seu trabalho com competência. Mas isso não foi o suficiente, como ocorreu na msma época com Blaze Bayley no Iron Maiden: por melhor que fizesse, jamais seria Roth ou Hagar e os fãs não perdoaram, boicotando shows nos Estados Unidos e ignorando o CD.

Com Cherone, finalmente o Vah Halen resgatou grandes músicas da era David Lee Roth, que foram progressivamente deixadas de lado por exigência de Sammy Hamar. "Unchained" mostra uma banda afiada e com vontade, entrosada, e com o novo vocalista puxando a canção para o puro hard rock, mas sem a malícia e a ironia de Roth.

"Mean Street" ganhou um suingue diferente, colocando-a m pouco mais perto da praia do Extreme, que enfureceu muita gente durante a turnê. Entretanto, a música, que é excelente, não ficou comprometida, e ganhou um inspirado solo de guitarra de Eddie Van Halen.

"Ain't Talkin' 'Bout Love", de forma surpreendente, ficou mais pesada e um pouco mais rápida. Aqui Cherone dá uma das poucas escorregadas, gritando demais e exagerando nos trejeitos. A impressão é de que o fôlego estava no fim e que ele tentou compensar forçando um pouco.

Em "Somebody Get Me a Doctor", quem derrapa é o baixista Michael Anthony, que assume os vocais mas não consegue domar a sua estridência. Na icônica "Why Can't This Be Love", Cherone tenta esticar as notas, mas a lucidez toma conta do rapaz e ele se contenta em ficar no meio do caminho, cantando apenas de forma correta.

Nos hinos "Panama" e "Right Now" a banda vai bem, com Cherone mais contido e evitando os maneirismos, que reaparecem nas faixas do álbum "Van Halen III", que aparecem em peso. No hit "Without You", a música que teve maior exposição, o resultado ficou satisfatório, com um bom desempenho do vocalista, que repete a dose na rápida e pesada "One I Want", que vem em seguida.

As lentas "Year of the Day" e "Josephina", também do álbum com Cherone, destoam não por causa do desempenho, mas por serem fracas. O vocalista tenta mostrar que está apto a integrar o Van Halen e se esforça em mostrar um outro caminho, talvez aquele que a banda tomaria se permanecesse na banda. Inevitável não lembrar de "More Than Words", do Extreme, na balada melosa "Josephina"…

Van halen em 1998: da esq. para a dir., Michael Anthony, Gary Cherone, Alex Van halen e Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Van halen em 1998: da esq. para a dir., Michael Anthony, Gary Cherone, Alex Van halen e Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Como show, é uma uma boa apresentação, mas bem longe dos grandes momentos do Van Halen, como os registrados no mágico DVD "Live Without a Net", de 1986. E isso nao é culpa de Cherone, que fez o possível.

Aquele Van Halen de 1998 não engrenou, muito em parte pela recusa dos fãs e do mercado em dar uma segunda chance ao vocalista. Meses depois, ainda em 1998, o vocalista seria demitido e a banda entraria em um hiato de cinco anos, mas sem gravar nada de novo. Uma turnê esquisita com Roth e Hagar foi realizada, mas sem grandes resoltados.

Somente em 2007 o grupo retomaria um caminho mais sólido, com a volta, finalmente, de Roth, e a saída de Michael Anthony, substituído por Wolfgang, filho então adolescente de Eddie. Quanto a Cherone, ensaiou uma carreira solo, colaborações com algumas bandas e a inevitável volta do Extreme, que inclusive tocará no Brasil nete semestre.

"Live From Australia 1998" é um trabalho curioso, até mesmo raro, já que são poucos os registros ao vivo dessa fase da banda.

Além da oposição dos fãs, Cherone sucumbiu por conta da um CD aquém da qualidade exigida para o Van Halen. As melhores músicas de "Van Halen III" dificilmente entrarão em alguma coletânea, e jamais poderiam ser incluídas em álbuns medianos do grupo. No YouTube, o show inteiro pode ser visto por meio do link https://www.youtube.com/watch?v=k_dCgKQ1kOc.

É bom lembrar que a banda lança ainda nos próximos dias o primeiro álbum ao vivo com David Lee Roth nos vocais, "Tokyo Dome Live in Concert", gravado em um show n Japão em 2013. Também estão previstos este ano os relançamentos dos seis primeiros álbuns da banda, remasterizados e possivelmente com faixas bônus.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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