Bandas cover estrangeiras descobrem o Brasil - para nosso azar
Marcelo Moreira
O império dos covers nos derrotou. Não bastassem as infestações em qualquer barzinho de cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campinas, agora os produtores de shows resolveram importar bandas de versões estrangeiras, para acabar de desmoralizar o mercado nacional.
Primeiro foi um evento em uma casa nova, e importante, de São Paulo. O Audio Club recebeu em 17 de janeiro um show que contou com a vergonhosa participação de uma banda inglesa: Letz Zep, alardeada em uma propaganda nauseante em uma emissora de rádio paulistana como a melhor banda cover do Led Zeppelin do mundo".
Na abertura, Echoes Pink Floyd São Paulo, banda brasileira considerada a melhor cover dos ingleses fora da Europa e uma das três melhores do mundo, segundo algumas reportagens nacionais e estrangeiras. E quem fez o aquecimento da noite? O ótimo quinteto paulistano Republica, que tentava divulgar seu novo álbum, "Point of No Return".
E não para por aí. No dia 25 de fevereiro, com anúncios nas principais revistas de música do Brasil, eis que aparece o mundialmente famoso e conhecido Brit Floyd, com o espetáculo "Space and Time World Tour 2015 – The World's Greatest Pink Floyd Show'.
E onde essa banda cover gringa vai tocar? No Citibank Hall, antigo Credicard Hall, em São Paulo, casa nobre com capacidade máxima para 7 mil pessoas.
Então o que temos no mercado destroçado e distorcido brasileiro? Sepultura suando para levar 2 mil ou 3 mil pessoas em um espaço alternativo, o Victory, na zona leste paulistana.
André Matos, Almah (de Edu Falaschi) ralando para levar 800, mil pessoas no Manifesto Bar ou na cidade de Mauá (Grande São Paulo). Dr. Sin lançando excelente álbum novo, mas tocando para 500 pessoas em Campinas, Rio Preto e Ribeirão Preto…
Como diria um importante filósofo popular da cidade Barueri (Grande São Paulo), é uma inversão total de valores: é o poste urinando no cachorro, é a salsicha mordendo o cão…
Quando bandas cover gringas são anunciadas como grandes atrações do mês por parte de algumas empresas que promovem shows, é porque o mundo acabou. É o maior atestado de incompetência do mercado nacional de rock e heavy metal. Falência total.
Nada contra quem faz versões na noite por aí. Cada um faz o que pode e ganha dinheiro da maneira como consegue. Tem lugar para todo mundo, mas quando o cover vira a atração principal, e de forma explícita e desavergonhada, é porque a desvalorização da arte como bem cultural chegou ao auge.
"É claro que vou defender o meu lado, mas o que vemos hoje é um desrespeito generalizado no mercado roqueiro. Respeitamos quem faz cover e consegue ganhar dinheiro com isso no Brail, em qualquer gênero musical. Mas quando o cover vira atração principal, em detrimento do som autoral, é sintoma de uma doença grave. Quando falta apoio para o som autoral, e ninguém reclama, achando que isso é normal, é sinal de que a desvalorização tomou conta do mercado", diz Ivan Busic, baterista do Dr. Sin.
Marcelo Frizzo, baixista e vocalista da banda Pop Javali, que luta para divulgar o ótimo CD "The Game of Fate", também se mostra perplexo com a falta de espaço para quem pretende mostrar um trabalho autoral.
"Não se trata de reivindicar uma reserva de mercado; e não se trata de ignorarem como ar de mercado, pois imagino que existe uma demanda pelo som cover – e respeito isso, cada um ganha o dinheiro como pode. Entretanto, não temos como deixar de constatar: existe uma desproporção em relação ao som autoral, seja, no metal, no hard rock, no pop ock e mesmo na MPB de barzinho. O público é soberano e escolhe o que quer ouvir, mas eu fico alarmado com o atual desprezo à música autoral", afirmou Frizzo em recente entrevista ao Combate Rock.
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